Num dos primeiros artigos que escrevi afirmei que os bebés estão, desde que nascem, altamente predispostos a aprender e que toda a sua recente vivência é aprendizagem pois o seu cérebro absorve naturalmente toda a informação da nova vida, deste “novo mundo”. Não é opcional, é uma condição Humana!

(Pode ler Subestimar o potencial de aprendizagem do bebé pode arruinar o seu sono ou A importância de ensinar a dormir para o desenvolvimento do cérebro nos primeiros 12 meses)

É verdade que Bebés “novinhos em folha”, para adultos menos atentos, não são capazes de fazer muito mais do que comer (o tempo todo), fazer cocó (geralmente por cima dos seus bodies fofinhos) e dormir (embora certamente não, o quanto alguns pais desejam).

Mas o que está a acontecer dentro daquelas cabeças minúsculas é verdadeiramente incrível!

Por acreditar que por vezes, ainda se desconsideram as competências do bebé, e se desvaloriza a importância dos primeiros anos de vida para a formação e estruturação de todo o seu desenvolvimento socio emocional, adoro partilhar com todos algumas curiosidades e descobertas cientificas que sustentam a minha inspiração e prática desde o início.

Sabia que…?

O cérebro de um recém-nascido cresce de um terço do tamanho adulto ao nascimento, para metade do tamanho adulto em apenas em 3 meses - um aumento inicial de 1 por cento no tamanho por dia. Em nenhum outro momento da vida o tamanho do cérebro muda tão rapidamente. Juntamente com esse crescimento enorme, vêm outras alterações neurológicas que prepararam o palco para o bebé vir a mover-se, falar e até mesmo – finalmente um dia em breve - dormir bem de forma padronizada.

Durante os primeiros três meses o crescimento é tão dramático e a mudança é tal que os pediatras e especialistas em desenvolvimento às vezes chamam este período, como o "quarto trimestre."

Impressionante, hein?

No nascimento, o cérebro de um bebé é de cerca de um terço do tamanho do cérebro de um adulto. Em apenas 90 dias, o órgão expande se para quase 55 por cento do seu tamanho final.

Investigadores da Universidade do Havaí realizaram uma série de ressonâncias magnéticas a cérebros de 87 recém-nascidos durante os seus primeiros meses de vida, e perceberam que apesar dos cérebros do bebé serem pequenos, eles já têm todas as circunvalações complexas dos cérebros adultos, tornando-os extremamente detalhados.

Mais… Sabia que?

O cerebelo, bolbo extremamente rugoso que se situa na parte de trás do cérebro e está envolvido no controlo dos movimentos, cresce de forma galopante, nos bebés. Ao final de três meses de vida o cerebelo é 110 por cento maior do que era no momento do nascimento. Isso compreende-se, se pensarmos que os bebés estão a aprender movimentos voluntários durante este tempo, e quase o tempo todo! É quando os pais ficam de boca aberta, por pensar que o bebé esteve ali sem fazer nada e ficou cansado em tão pouco tempo!

Enquanto isso, o hipocampo, responsável por memórias autobiográficas, cresce mais lentamente. Ele aumenta em tamanho por uns meros 47 por cento em 90 dias. Isso pode explicar por que é que os bebés não conseguem escrever um livro das suas memórias.

UAU!! E sabia que…

Um estudo de 1998, publicado pela revista PNAS, ao examinar criteriosamente mais de 4 milhões de medições de características microscópicas do cérebro em crianças dos zero aos seis anos de idade, constatou que mais de um terço da mudança na arquitetura do cérebro nos primeiros seis anos de vida, acontece dentro dos primeiros seis meses! Na verdade, o primeiro mês de vida sozinho foi responsável por 8 por cento de toda a mudança em seis anos. UAU!

Essas mudanças arquitetónicas são cruciais para a função do cérebro. A mielinização, em particular, ajuda as células nervosas a transmitir os seus impulsos elétricos de forma eficiente. A mielinização começa no útero, mas continua muito tempo após o nascimento. O cérebro recém-nascido também passa por um processo de crescimento e “poda” pois as vias neurais ineficientes, e não utilizáveis são deixadas para “secar” enquanto que as úteis são reforçadas. Aos 2 anos de idade, o córtex diminui efetivamente, como um resultado desta “poda”, provando que nem sempre mais é melhor.

Assim, o cérebro do bebé cresce. O bebé reorganiza-se. E enquanto tudo isso está a acontecer, o cérebro também está a aprender a sincronizar-se com o seu mundo.

Pronta para mais? Aqui vai!

Sabia que…?

No útero, o feto acorda e dorme em pequenos fragmentos; qualquer ritmo circadiano do bebé em desenvolvimento é determinado pela temperatura do corpo da mãe e pela melatonina, a hormona mais responsável por regular os ciclos de sono e vigília. O relógio central do cérebro (ou para alguns o responsável pelo relógio biológico) é o núcleo supra quiasmático localizado no hipotálamo, ou SCN. Nos primatas, o SCN é imaturo até o último mês de gestação. Após o nascimento, este desenvolvimento continua. Mas agora nascido, o bebé não tem ritmos internos da mãe para usar como uma sugestão de sono-vigília. Felizmente, sincronizar-se com o sol, e regulação de ritmos e expectativas, é uma prioridade na lista de prioridades com bebés recém-nascidos. Um estudo com 35 crianças de termo, comprovou que relógio biológico regula o sistema epigenético, que por sua vez, alimenta de volta a regulação do relógio. Dessa forma, é cada vez mais difícil dizer o que é um output do gene de relógio e o que é de facto um gene do relógio, porque eles regulam-se um ao o outro",.

Neste estudo concluiu-se que a secreção de cortisol (hormona que regula o stress) entra num ritmo maduro pela primeira vez, às 8 semanas de idade. Às 9 semanas e meia, a melatonina começa também a ter a sua regulação, e é possível que a mãe e o pai notem que o bebé deixa de querer “festejar” tanto às 3 da manhã (Ou não, caso os pais tenham respondido demasiado às “festividades” inadvertidamente criando assim uma expectativa no relógio do bebé). As flutuações de temperatura do corpo do bebé amadurecem às 10,8 semanas de idade, e o gene do relógio do corpo tem a sua máxima expressão às 10,9 semanas de idade, em média. Isto comprova que os bebés poderão começar a dormir de forma contínua a partir dos dois a três meses de idade. (Mas não é magia! Isto caso os pais se dediquem a conhecê-lo e consigam reunir condições diurnas - alimentação, sono, atividade e relação- e noturnas para essa capacidade.)

O desenvolvimento inicial desse sistema circadiano destaca o quão importantes são os ritmos biológicos para a vida, pois parece que o relógio biológico regula tudo desde que nasce a quando o “sol se põe”.

Portanto novos pais exaustos, respirem fundo: Os primeiros três meses de vida são um momento de grande reviravolta neurológica. Mas o cérebro do bebé está a dar o seu melhor - e o bebé que inicialmente se debate e chora, irá tornar-se irreconhecível, em apenas alguns meses, como resultado deste enorme desenvolvimento, desde que bem orientado e ajudado na regulação dos seus ritmos, percepções, associações, hábitos e envolvimento sintónico com os Pais (para uma vinculação segura) desde que nasce! É caso para dizer “Viva a Vida”!

Leia ainda:

Os bebés e a televisão

Dias de exceção: a rotina e o sono

Como ensinar o bebé a acalmar

Mais textos sobre sono do bebé aqui.

Carolina Albino - Especialista em Ritmos de Sono do Bebé


Referências

Papas, S., 2015. Your Baby's Amazing Brain Development, consultado de https://www.braindecoder.com/post/baby-brain-development-1381318805

Holland DChang LErnst TMCurran MBuchthal SDAlicata DSkranes JJohansen HHernandez AYamakawa RKuperman JMDale AM, 2014. Structural growth trajectories and rates of change in the first 3 months of infant brain development. JAMA Neurol., 71(10):1266-74.

ShankleKimball RomneyLanding, Hara, 1998. Developmental patterns in the cytoarchitecture of the human cerebral cortex from birth to 6 years examined by correspondence analysis, Proc Natl Acad Sci; 95(7): 4023–4028.