Poupança com regularidade tende a cair?

As famílias estão a poupar menos. Se é certo que a taxa média de poupança das famílias tem vindo a cair nos últimos anos, tal é justificado em parte por um retorno aos hábitos do passado. De facto, um inquérito do Cetelem diz-nos que a percentagem de pessoas que diz poupar com regularidade caiu de 17% para 7%, ao mesmo tempo que os inquiridos que referem não ter qualquer hábito de poupança subiram de 45% para 59%.

Neste contexto, devemos considerar sempre que os seres humanos são seres de hábitos. No campo da poupança, criar hábitos de poupança é fundamental para conseguirmos poupar de forma regular e consistente no tempo. Acabar com os hábitos que foram adquiridos no passado é meio caminho andado para uma má experiência.

Famílias continuam muito “afogadas”

Apesar do maior otimismo das famílias, que tem tradução no aumento do endividamento, no aumento da venda de automóveis ou no maior recurso ao crédito para compra de casa, o certo é que os orçamentos familiares continuam com muitos desafios. Sendo certo que o descontrolo financeiro parece ter voltado (mais uma das conclusões do estudo), temos de nos questionar se de um ano para o outro as coisas mudaram assim tanto.

Infelizmente, as coisas não mudaram assim tanto. Mudou o sentimento, mas a realidade continua de grande desafio. Pela positiva, vemos que as taxas de juro continuam a cair consistentemente, o que acaba por representar uma oportunidade de poupança/corte de custos para a generalidade das famílias portuguesas. No entanto, as restantes rúbricas do orçamento familiar são fixas pelo que o espaço para a redução de custos por essa via é reduzido, o que deveria implicar numa maior prudência no controlo do orçamento familiar.

Seguimos exemplos

As últimas notícias apontam para uma menor austeridade. Não nos importa aqui se é merecida ou sustentável. Importa mais o sinal que está a ser passado às famílias. Estamos a ser incentivados ao consumo. Estão-nos a pedir que gastemos mais. Estão-nos a aliviar um pouco a austeridade e somos tentados a pensar que tudo mudou. Como as economias se movem por expetativas…

Pensemos se os exemplos do passado nos trouxeram a “bom porto” ou se nos trouxeram a troika. Talvez o descontrolo orçamental deva ser combatido de modo a não repetirmos os erros do passado. Por exemplo, são inúmeros os casos de famílias sobre-endividadas que nos contactam e relatam histórias dramáticas que resultam de más decisões financeiras, tipicamente mal ponderadas e com base em expetativas pouco razoáveis (ou mesmo irrealistas).

Façamos diferente

Por último, queremos alertar para a necessidade de pensar diferente. É claro que queremos aliviar um pouco os sacrifícios que vivemos no passado. No entanto, temos de pensar se esta será a melhor altura para o fazer. Não seria mais prudente aproveitarmos alguma folga no nosso orçamento familiar para reforçar as nossas poupanças, para fazer um fundo de emergência ou mesmo para constituir uma conta para a reforma? Pode vir a acontecer que nos enganemos, mas se assim for o único risco que corremos é acumular uma poupança adicional… e aí podemos gastar o dinheiro no futuro na realização de algum sonho ou pequeno prazer.

João Raposo