A falta de amor-próprio, um problema social muito comum que um mundo em permanente mudança tende a agravar, afeta diferentes domínios da vida. Muitas vezes, ligamos a televisão e surge logo o famoso psicólogo norte-americano Dr. Phil a clamar que somos capazes de fazer qualquer coisa a que nos dediquemos. Que tudo depende de nós. Com tranquilidade. Sem pressão. "E não se esqueça de concretizar os seus sonhos", aconselha.

Nem de "viver cada minuto como se fosse o último", uma das máximas que nos fazem revirar um pouco os olhos. Mas, no fundo, essas têm um fundo de verdade. Em cada momento, é preciso sabermos que ferramentas estão à nossa disposição para podermos evoluir e sermos felizes.

Caso contrário, torna-se mais difícil manter uma autoestima equilibrada. Rita Mariño-Lourenço, psicóloga clínica e neuropsicóloga da Oficina de Psicologia, em conjunto com Teresa Branco, fisiologista do Instituto Prof. Teresa Branco, sugerem algumas estratégias para fortalecer o seu amor-próprio. Estes são os sete conselhos que as especialistas defendem:

1. Valorize as suas competências

"A autoestima indica como se sente a pessoa em relação à perceção que tem de si, refletindo o nível de autossatisfação ou aceitação", explica Rita Mariño-Lourenço. Contudo, ter consciência do seu valor enquanto ser humano dotado de personalidade e de capacidades intelectuais, psicológicas e sociais, não é assim tão fácil como parece. Há pessoas que têm dificuldade em pensar de forma positiva.

E essas representações negativas de si próprias e do círculo social em que se inserem levam a que se sintam permanentemente inseguras e insatisfeitas consigo mesmas. Sobretudo, o negativismo tende a permear tudo em que nos envolvemos e as nossas interações com outras pessoas, desde os relacionamentos amorosos, aos familiares e profissionais.

2. Desfrute do momento

A baixa autoestima é considerada "um fator de risco para o desenvolvimento de vários problemas psicológicos", continua a psicóloga. Inclusivamente, depressão. Muitas vezes este estado de espírito enraíza-se, de tal modo, que não somos capazes de aproveitar as oportunidades que vão aparecendo. E o que nos acorrenta, normalmente, não é autoinfligido.

A autoestima vai-se desenvolvendo ao longo da vida e, de acordo com Rita Mariño-Lourenço, pode ser afetada por vários fatores que não controlamos. Entre eles estão as atitudes, emoções expressas e verbalizações de familiares, educadores e professores primários, sobretudo até aos 10 anos, bem como as relações com pessoas importantes para nós.

Uma baixa autoestima pode ser produto de vivências menos felizes ou de episódios da infância que nos marcaram. Estas experiências podem magoar tanto como quando ocorreram e impedir-nos de viver o dia a dia de cabeça erguida. Todavia, também oferecem ampla oportunidade para percebermos o que podemos fazer por nós.

3. O peso que o corpo tem

A crescente ansiedade em relação à imagem e ao peso não ajuda a manter a autoestima equilibrada. Pelo contrário. Cada vez mais mulheres admitem sentirem-se desconfortáveis na sua própria pele. Todos os meses, 10.000 pessoas pesquisam no motor de busca Google a pergunta "Sou feia?". Mas, afinal, que pressões estão por detrás deste fenómeno? Apesar de existirem cada vez mais grupos que lutam contra a contratação de modelos anoréticas, nas redes sociais está-se a observar uma tendência em prol da anorexia (#proana).

Perpetuam-se, assim, estereótipos de beleza desligados da realidade e que, além de objetificarem as mulheres, dão a entender que elas possuem uma elevada autoestima por serem magras. Algo que os especialistas da gestão de peso não verificam nos seus consultórios. Caso de Teresa Branco, fisiologista, que já teve clientes "magras, idolatradas pela sociedade por preencherem totalmente os requisitos de beleza, e que, no entanto, são pessoas com uma baixíssima autoestima", revela.

4. A ditadura da imagem

Vivemos numa cultura obcecada pela aparência, mais do que a personalidade e a inteligência. Ambiente prejudicial para as gerações futuras, que já "dedicam mais tempo e esforço mental à sua imagem", alertou publicamente Meaghan Ramsey, diretora global do Projeto pela Autoestima da marca Dove.

Condicionados pela fachada que projetam aos outros, os jovens negligenciam, involuntariamente, os restantes aspetos da sua identidade, como as suas relações pessoais, o desenvolvimento das suas capacidades físicas, os seus estudos. Neste momento, 60% das raparigas adolescentes entrevistadas admitiram não participar nas aulas, nem praticar desportos como natação, porque acham que não são suficientemente bonitas.

5. Enfrente os desafios diários

Tal como a falta de confiança na nossa aparência pode ser paralisadora, não acreditar nas próprias capacidades é contraproducente e pode desencadear ansiedade e tristeza. "Passarmos o dia a dizermos a nós próprias que não temos suficiente valor, que não somos capazes, boicota-nos e, por vezes, isola-nos", desenvolve Rita Mariño-Lourenço. Por isso, é necessário desprendermo-nos destas ideias autodestrutivas.

Dependendo da forma como a baixa autoestima afeta o seu quotidiano, pode sempre recorrer à ajuda de um psicoterapeuta. A relação que temos connosco mesmas "é passível de ser trabalhada", garante a profissional da Oficina de Psicologia. Mas não devemos perder de vista que o amor-próprio "serve para nos respeitarmos, definirmos limites determinarmos objetivos e, de uma forma geral, mediar as nossas relações com os outros e a nossa forma de estar no mundo", sublinha.

6. Recupere a boa forma

É claro que estamos sempre sujeitos às circunstâncias da vida. Aliás, dependemos dessas experiências para formar a nossa autoestima, pois permitem-nos aprender mais sobre nós próprios e os outros. Sem interações pessoais e sociais saudáveis a nossa autoestima, provavelmente, não será equilibrada. Porém, tudo tem solução. Não será é rápida.

"Restaurar uma autoestima perdida ou danificada é um processo por vezes complexo mas possível", confirma Rita Mariño-Lourenço. Mas, embora recomende vivamente a psicoterapia como solução para uma baixa autoestima, Teresa Branco, fisiologista, salienta que "a pessoa deve sentir que se consegue transformar e não deve fazer [psicoterapia] porque alguém achou que ela devia passar por esse processo".

7. Alcance os resultados pretendidos

Nivelar o autoelogio e a autocrítica, testar as nossas competências através de novos desafios, aceitar e aprender com os erros, dedicar tempo a nós próprias, são aspetos essenciais para um "processo de autodesenvolvimento sustentável", frisa a psicóloga. Estabelecer prioridades e objetivos que seja capaz de realizar com êxito também ajuda. E, de acordo com Rita Mariño-Lourenço, "o querer fazer algo é meio caminho andado" para conseguir concretizá-los.

"Quando atingimos (ou até ultrapassamos) as metas que determinamos para nós mesmas, sentimo-nos muito mais animadas e confiantes. Consequentemente, a autoestima aumenta. E, quando temos uma autoestima equilibrada, isso traduz-se nas restantes áreas da nossa vida. Tomamos decisões com maior segurança e somos mais autónomas. Portanto, cultive o respeito e o amor por si mesma", defende a especialista.

Boosters para aumentar a autoestima

Geralmente entramos numa espiral descendente quando pensamos que não somos dignas ou capazes de concretizar os nossos objetivos. Siga os conselhos de Rita Mariño-Lourenço, psicóloga clínica e neuropsicóloga da Oficina de Psicologia e adote comportamentos e pensamentos que a valorizam enquanto ser:

- Viva cada momento, focando-se "nas pequenas grandes coisas boas do dia a dia", recomenda Rita Mariño-Lourenço. O presente, segundo a especialista, "é o único sítio onde podemos realmente fazer algo por nós".

- Ao acordar, recorde uma pessoa de quem gosta, identifique um aspeto que aprecia em si e estabeleça um objetivo para aquele dia. Ao final do dia, confira "se concretizou o seu objetivo e, se não tiver conseguido, o que aprendeu e o que foi motivo de orgulho naquele dia", sugere.

- Faça uma autoavaliação. "Torne-se mais consciente das suas características", apela a especialista. Reconheça as boas e as de que menos gosta. As pessoas não se medem pelas coisas que têm, aquilo que fazem ou o que dizem.

- Interrogue-se e questione-se. "Para cada pergunta que fizer, procure uma hipótese de resposta. Para cada reclamação que registar, sugira uma solução de melhoria. Por cada crítica que notar, faça também um elogio", sugere Rita Mariño-Lourenço.

- Escolha os seus amigos. "Promova relações saudáveis na sua vida", recomenda a especialista, procurando rodear-se de pessoas de quem gosta e que gostam de si.

- Invista nas coisas em que é realmente boa. "Desenvolva atividades onde tem oportunidade de se orgulhar de si e de se autoelogiar", recomenda a psicóloga clínica.

- Privilegie o sono, o exercício físico e uma alimentação saudável. Existem alimentos que potenciam o bom humor, como é o caso da banana, dos espinafres, das nozes, da aveia, da água e das amêndias, a par do chocolate. Privelegie-os!

Texto: Filipa Basílio da Silva