Alojam-se em vários órgãos do corpo humano e podem gerar complicações que perturbam a saúde.

Chegam a assumir tamanhos assustadores e não existe imunidade contra eles.

Os vermes andam por aí e muitas vezes estão mais perto do que o que pode julgar.

Como o conhecimento é a chave de uma prevenção eficaz, o infeciologista Jorge Atouguia descreve as características específicas das espécies mais comuns em Portugal, as ténias e das lombrigas, explica como se gera a infeção e aponta os sintomas a que deve estar atento e o tratamento adequeado para estes vermes.

Além desses, enuncia ainda os cuidados a ter com a larva migrans cutânea e o oxiúros (na foto). «A infeção por larva migrans não é frequente em Portugal. É frequente termos doentes com este problema em Portugal, mas vindos sobretudo da América do Sul e África. O mesmo se passa com o oxiúros», adverte o especialista.

Oxiúros

É o parasita mais comum em Portugal e afeta sobretudo as crianças. O Enterobius vermicularis é também o único destes quatro parasitas que pode infetar um ambiente familiar, dado que é fácil existir uma situação de autoinfeção. «Os ovos dos oxiúros são muito leves e podem até ficar em suspenção no ar. Por exemplo, se a mãe vai fazer a cama da criança e abana os lençóis, eles ficam em suspensão no ar e ovos que estavam no rabinho da criança
transferem-se para o lençol, ficando a flutuar no ambiente», avisa o infeciologista.

«Conquentemente, e sem nos apercebermos, nós ingerimos os ovos», alerta Jorge Atouguia. Depois, dentro do intestino, esses ovos evoluem para os vermes adultos (macho e  fêmea) que se reproduzem. As fêmeas ficam zona do apêndice até fazerem as posturas. Nessa altura, migram pelo intestino, apenas durante a noite, saindo para o exterior. Os ovos são postos na margem do ânus e têm uma espécie de gelatina que, por si só, é um alérgica, causando muita comichão.

«A criança coça o rabinho, os ovos ficam nas unhas e depois, quando esta leva a mão à boca, volta a infetar-se», explica o especialista. Estes casos tratam-se com uma medicação semelhante à usada no caso das lombrigas, prescrita pelo médico. «Este tipo de tratamento é simples e bem tolerado», assegura Jorge Atouguia. Convém tratar todo o agregado familiar para evitar novos focos de contágio.

Para evitar este tipo de infeção, Jorge Atouguia aconselha a cuidados redobrados com a higiene. «As crianças devem ter a unhas bem curtinhas e qualquer sintoma de prurido anal (comichão) deve ser encarado como um alerta», adverte o especialista.  

Ténias

A Taenia saginata, mais conhecida como ténia, é um dos vermes que mais assusta em Portugal, apesar de não ser o mais frequente. Segundo o infeciologista Jorge Atouguia, isso explica-se pelo facto desta poder atingir até 10 metros de comprimento.

«A ténia faz com que a pessoa emagreça, ou pelo menos não deixa que engorde, porque se alimenta dos nutrientes dos alimentos que ingerimos, competindo diretamente connosco», explica. A infeção
dá-se através do consumo de carne de vaca.

«A ténia é hemafrodita e tem vários segmentos que vão crescendo, prolongando o seu comprimento. Nesses segmentos, tem um aparelho feminino e um masculino. O último segmento é sempre o mais antigo, o mais maduro e é o que se solta e vem para o exterior onde estão os ovos que vão infetar a vaca. Nós, ao comermos a carne de vaca que contém estes ovos, ficamos infetados», esclarece o especialista.

Este verme, também apelidado popularmente de bicha solitária, dado que vive sozinho e tem um gancho que faz com que ser agarre à parede do intestino, o órgão que afeta. Para evitar casos de infeção pela ténia, é indispensável o controlo alimentar da carne e cuidados acrescidos no seu manuseamento. «Com o controlo dos alimentos e devido à adopção de regras bastante mais restritas, verificam-se menos casos de infeção por este verme», elucida, contudo, Jorge Atouguia.

A procura de ajuda médica justifica-se quando, «por exemplo, as pessoas são muito magras ou têm tendência para não engordar ou ainda caso se observem segmentos da ténia nas fezes», pelo que, em casos de suspeita, deve ser feita essa verificação. No que toca ao tratamento, o especialista explica que este visa, sobretudo, «garantir se a ténia saiu toda para o exterior, sendo essencial confirmar se o gancho foi eliminado pois, caso contrário, a ténia volta a desenvolver-se», alerta.

Lombrigas

Também muito comuns entre as crianças, apesar de também infetarem os adultos, as lombrigas, cujo nome científico é Ascaris lumbricoides, são outros vermes que nos infetam pela via alimentar. Podem atingir até 45 cm no caso da fêmea.

«A infeção ocorre quando ingerimos os ovos da própria lombriga que estão a contaminar diversos alimentos. Esses ovos seguem para o intestino, que também é neste caso o órgão afetado» esclarece o infeciologista Jorge Atouguia.

«De seguida, liberta-se uma larva que percorre um circuito interno circuito interno no organismo, passando pelo fígado e pelos pulmões, regressando depois ao intestino, de onde vai evoluir para verme adulto, as verdadeiras lombrigas», acrescenta ainda. «Tudo se passa sobretudo em áreas de mau saneamento básico. Se nós eliminamos os ovos numa zona com bons esgotos, isso nunca vai gerar contaminação», sublinha.

«Mas se este material fecal não for tratado e depois seguir para cursos de água que será usada, por exemplo, para regar alfaces [ou outros legumes ou produtos frutícolas], estas ficam contaminadas, e se não forem convenientemente desinfectadas, nós infetamo-nos quando as ingerimos», exemplifica Jorge Atouguia, salientando, por isso, a importância de lavar e desinfetar convenientemente as saladas e os alimentos crus antes de os ingerir.  

O risco de infeção é acrescido nas aldeias e nas zonas rurais onde não se verificam boas condições de saneamento básico. «A presença destes vermes é detetada quando os ovos saem para o exterior ou, em casos especiais, quando os próprios vermes são directamente eliminados para o exterior, e observados a olho nu»», sublinha. As consequências da presença de lombrigas no organismo humano podem ser graves e variadas.

«Pode haver lombrigas que se enrolam umas nas outras ausando uma obstrução intestinal, que é uma emergência médico-cirurgica», reforça Jorge Atouguia. Além disso, estes vermes podem entrar as glândulas associadas ao tubo digestivo como o pâncreas, provocando pancriatites; como a a vesícula biliar, provocando colistites ou .ao apêndice, provocando apendicites. Como se não bastasse, «há lombrigas que podem provocar, sobretudo nas crianças, problemas mecânicos do no intestino, como volvos e invaginações», acrescenta ainda Jorge Atouguia.

Dores de barriga, problemas de absorção e diarreia são dois dos sintomas que podem indicar a presença de lombrigas no organismo, justificando a necessidade de recorrer a ajuda médica. «O tratamento é simples, com medicamentos prescritos por um médico, durante três dias. O problema da doença não é só tratar os doentes. É também resolver o problemas da contaminação», realça o infeciologista.

Larva migrans cutânea

Não existe em Portugal. É uma doença importada, sobretudo dos países tropicais das Américas e de África. É uma patologia causada por parasitas, sobretudo ancilostomas, que se encontram nos animais, normalmente nos cães.

Estes vermes provem das fezes dos animais e, em boas condições de humidade e temperatura, como é o caso do calor e da areia das praias, evoluem de ovos para larvas com capacidade para penetrar na pele humana, podendo migrar por toda a superfície do corpo.

Daí a origem da sua designação, que revela desde logo o órgão onde estes vermes se concentram, a pele. Para evitar este tipo de infeção, é essencial «em praias onde exista risco, nunca estar diretamente em contacto com a areia, usando sempre calçado e tendo sempre uma proteção, nomeadamente uma toalha, entre o corpo e areia», recomenda Jorge Atouguia. «A larva migrans cutânea provoca muita comichão, sobretudo na zona dos pés e pernas, o que pode ser um indicador óbvio da sua presença», adianta o infecciologista.

Se tiver estes sintomas e sinais, deve recorrer a um médico especializado. O tratamento para matar a larva é através de técnicas de crioterapia com recurso a líquidos frios e gelo e de medicação para eliminar a incómoda comichão. Essa medicação deve ser prescrita pelo médico. À semelhança do tratamento dos vermes anteriores, o tratamento desta doença é «simples e bem tolerado», frisa o especialista.

Texto: Fabiana Bravo com Jorge Atouguia (médico, investigador e professor nas áreas da saúde, da infeciologia e da medicina tropical)