Há cada vez mais pessoas, incluindo profissionais da comunidade médica, a reconhecer os benefícios das medicinas naturais. Em maio de 2009, nos Estados Unidos da América, face à multiplicação de produtos naturais que alegadamente previnem ou tratam o vírus H1N1, a Food and Drug Administration (FDA) e a Federal Trade Comission (FTC) vieram alertar para o facto de a eficácia e segurança dos mesmos não estarem cientificamente comprovadas.

Na sequência desse alerta, Josephine Briggs, médica e diretora do National Center for Complementary and Alternative Medicine (NCCAM) veio a público sublinhar esse aviso e lembrar que, «embora muitos produtos da medicina complementar e alternativa (e alguns medicamentos prescritos) tenham na sua origem fontes naturais, natural nem sempre significa seguro», referiu na altura.

Josephine Briggs pode afirmá-lo sem ser acusada de parcialidade, já que dirige o organismo do governo norte-americano que se tem empenhado, nas últimas décadas, em investigar a eficácia destas terapias. Os estudos neste universo têm-se multiplicado e, embora haja ainda muito por analisar e comprovar, são várias as conclusões positivas sobre a sua ação. Eis algumas que foram notícia nos últimos anos:

- Pós-operatório

A estimulação do ponto P6 situado no pulso, através de técnicas de acupunctura ou acupressão, ajuda a prevenir os vómitos e náuseas que cerca de 80 por cento das pessoas sentem após uma cirurgia e anestesia. Estes dados foram reunidos pelo departamento de anestesia e cuidados intensivos da Universidade Chinesa de Hong Kong. Os seus investigadores verificaram que, quando aplicadas no pulso, estas terapias, que envolvem o recurso à aplicação de agulhas, laser ou o uso de um punho elástico, estimulam a produção de neurotransmissores, como a serotonina, dopamina ou endorfinas, neutralizando outros químicos responsáveis pelas náuseas e vómitos.

- Cefaleias de tensão

Após a análise de 11 estudos clínicos (com a participação de mais de duas mil pessoas), The Cochrane Collaboration, uma organização internacional que avalia investigações na área da saúde, verificou que dois deles demonstraram que indivíduos que, para além de receberem cuidados tradicionais, foram tratados com acupunctura tiveram menos dores de cabeça.

Para além disso, cinco dos estudos detetaram pequenas melhorias em pacientes que foram sujeitos a tratamentos de acupunctura verdadeiros, quando comparados com pessoas tratadas com acupunctura simulada. Três dos quatro estudos que compararam esta terapia da medicina tradicional chinesa com fisioterapia, massagem ou relaxamento, embora revelassem resultados ligeiramente mais positivos, apresentavam problemas metodológicos.

- Tonturas e AVC

Uma investigação apresentada na reunião anual da American Academy of Otolaryngology – Head and Neck Surgery constatou que a prática de tai chi pode ajudar a tratar o distúrbio do sistema vestibular, caracterizado por tonturas e problemas de equilíbrio. Os investigadores defendem que o efeito benéfico desta terapia mente-corpo, criada originalmente na China como arte marcial, se deve ao facto de promover a coordenação através do relaxamento, melhorando a condição física do doente.

Segundo cientistas da Universidade de Illinois, que estudaram 136 pacientes, é também positiva para pessoas que foram afetadas por um acidente vascular cerebral (AVC), melhorando o equilíbrio e minimizando o risco de quedas.

Veja na página seguinte: O uso de terapias alternativas para tratar o cancro e problemas de fertilidade

- Cancro

Investigadores da Universidade do Texas constataram que a acupunctura alivia a secura oral resultante do tratamento de radioterapia, realizado em doentes com cancro no pescoço e na cabeça e que afeta as glândulas salivares. O estudo foi realizado em pessoas que haviam concluído a radioterapia há quatro semanas e que se sujeitaram a este tratamento durante um mês, em duas sessões semanais.

- Fertilidade

A síndrome do ovário poliquístico, que afeta a produção hormonal feminina e potencia a secreção de testosterona, favorecendo a infertilidade, foi alvo da atenção de investigadores da Universidade de Gothenburg (Suécia) que concluíram que a acupunctura pode funcionar como arma contra este problema.

No estudo, um grupo de mulheres afectado por esta síndrome foi sujeito, durante quatro meses, a electroacupunctura (com utilização de uma corrente eléctrica de baixa frequência), outro foi instruído a praticar exercício três vezes por semana e um terceiro informado sobre os benefícios de um estilo de vida saudável.

No primeiro e segundo grupos o nível de atividade do sistema nervoso simpático diminuiu e, especialmente no primeiro caso, o ciclo menstrual tornou-se mais regular e os níveis de testosterona baixaram. Uma vez que o estudo foi realizado com uma amostra pequena, terão de ser realizadas mais investigações.

- Endometriose

É possível que os sintomas da endometrosiose, uma doença do foro ginecológico, que provoca dores pélvicas, menstruações irregulares e está na origem de casos de infertilidade, possam ser atenuados com a fitoterapia chinesa. A conclusão é de uma análise a vários estudos realizada pelo The Cochrane Collaboration.

Dois deles sugerem que esta terapia foi, nos casos analisados, tão ou mais eficaz no alívio dos sintomas do que o tratamento convencional, apresentando também menos efeitos secundários. Ainda assim, os especialistas assumem que ainda não possuem provas suficientes que permitam generalizar os resultados.

- Coração

Uma pesquisa da Universidade do Texas revela que fórmulas de fitoterapia usadas na medicina tradicional chinesa para doenças cardiovasculares podem produzir óxido nítrico, importante para que as paredes internas das veias relaxem, facilitando a passagem do sangue pelo sistema circulatório e coração.

A substância ajuda a eliminar coágulos, a baixar a pressão arterial e reduz a formação de arteriosclerose. O próximo passo dos cientistas, que testaram estas fórmulas em cobaias, é analisar o impacto em pessoas com problemas cardíacos e identificar os princípios activos responsáveis pelos seus efeitos.

- Insónia
Existe uma relação entre a prática de meditação durante o dia e a qualidade do sono, aponta um estudo apresentado este ano no encontro anual da Associated Professional Sleep Societies. Durante dois meses, um grupo de pessoas que sofriam de insónias recebeu informação sobre saúde e praticou kriya yoga (uma modalidade de meditação que permite controlar os níveis de excitação) e foi comparado com indivíduos com o mesmo problema e que apenas receberam formação sobre questões ligadas à saúde.

Veja na página seguinte: Métodos que aliviam o stresse e combatem a dermatite atópica

- Stresse

No Journal of Agricultural and Food Chemistry, foi publicado o primeiro estudo que aponta a eficácia da aromaterapia para controlar os níveis de stresse. Cientistas japoneses submeteram ratos de laboratório, em situações stressantes, à inalação de linalol, uma substância usada nesta terapia pela sua ação calmante, e constataram a redução dos níveis de atividade de mais de 100 genes associados ao stress assim como dos níveis de neutrófilos e linfócitos.

- Dermatite atópica

Foi durante o encontro anual da American Academy of Allergy, Asthma & Immunology que investigadores do Mount Sinai Hospital defenderam a hipótese do recurso à Medicina Tradicional Chinesa ser uma opção válida para o tratamento da dermatite atópica. Para chegarem a esta conclusão, os cientistas norte-americanos realizaram um estudo em que avaliaram parâmetros como a evolução da severidade da doença e o impacto na qualidade de vida de 14 pacientes.

O que deve saber antes de experimentar este tipo de terapias:

Se pondera a hipótese de recorrer à medicina alternativa, tenha em atenção o seguinte:

- Não abandone a medicação ou tratamento convencional sem falar com o seu médico.

- Informe-o que está a colocar a hipótese de recorrer a terapias alternativas e questione-o se poderão, interferir ou prejudicar o tratamento que está a fazer ou, pelo contrário, funcionar como um complemento.

- Caso consulte um terapeuta, informe-o sobre o seu historial médico, nomeadamente doenças e/ou medicação que esteja a tomar.

Texto: Nazaré Tocha