Por definição, a artrite é a inflamação de uma articulação. As causas "são muito variadas, podendo ser agudas ou crónicas, quando superiores a seis semanas, mas a maioria dos numerosos reumatismos pediátricos cursa com artrite crónica", como explicou em declarações à Prevenir Manuel Salgado, reumatologista pediátrico. A artrite idiopática, sem causa conhecida, é a mais comum nas crianças e jovens e divide-se em sete subtipos.

Para classificar e tratá-los adequadamente, "o mais importante é se têm ou não febre associada e o número de articulações que atingem", esclarece o especialista. O subtipo mais comum é a artrite idiopática juvenil oligoarticular, que envolve até quatro articulações nos primeiros seis meses da doença e que representa, em média, quase 50% da totalidade dos doentes com esta patologia.

"Segue-se a artrite idiopática poliarticular, com fator reumatóide negativo, que envolve cinco ou mais articulações", acrescenta o especialista. Ainda não se sabe com rigor o que provoca os reumatismos em qualquer idade. Logo, "para a generalidade das artrites crónicas não se encontra uma causa", defende Manuel Salgado. Uma em cada mil crianças pode desenvolvê-la, alerta a Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas (LPCDR).

Quem afeta?

No global, as meninas são mais afetadas por esta patologia, "quase duas vezes mais do que os rapazes, surgindo em qualquer idade, em ambos os sexos", esclarece o especialista. Segundo Manuel Salgado, "cerca de 40% dos casos de artrite idiopática juvenil iniciam-se antes dos cinco anos de idade e 15% antes dos 24 meses de vida, sendo excepcional manifestarem-se no primeiro ano de vida", sublinha.

O facto de existirem poucos médicos com experiência em reumatologia pediátrica em Portugal faz com que, por vezes, existam falsos diagnósticos ou diagnósticos tardios destas doenças. "Torna-se essencial o diagnóstico preciso para a indicação dos procedimentos adequados, de forma a impedir a progressão da doença", defendeu já publicamente a Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas.

Quais os sinais de alerta?

Em teoria, "toda a inflamação deveria doer. Contudo, as crianças muito jovens são incapazes de referir a dor com total clareza", defende o pediatra especialista em reumatologia pediátrica. No entanto, existem comportamentos típicos que podem chamar a atenção dos pais e/ou professores, como por exemplo quando as crianças "evitam usar o membro envolvido, não esticam ou não fletem por completo a(s) articulação(ões) afetadas".

Sempre que o descanso, sobretudo após uma noite de sono, agravar as limitações articulares da criança e que se denote uma melhoria evidente pela hora do almoço, para se agravar novamente na manhã seguinte logo ao acordar, a criança estará perante um ritmo de queixas com "padrão inflamatório", adverte Manuel Salgado. Perante tal circunstância, deverão ser tomadas medidas com brevidade.

Como tratar a doença?

As perspetivas são animadoras. "Quando devidamente tratadas, estima-se que cerca de 50% das crianças com doença reumática crónica cheguem à idade adulta sem limitações articulares significativas", garante a Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas. Existem esquemas terapêuticos diferenciados segundo a variedade das doenças e respectivas manifestações e complicações em cada criança.

"Os fármacos que se utilizam na maioria das formas desta artrite idiopática juvenil são os anti-inflamatórios não esteroides, o metotrexato, os corticoides intra-articulares ou tomados por via oral e os diferentes fármacos biológicos que foram recentemente introduzidos no arsenal terapêutico", salientou na altura, em declarações à publicação de saúde, Manuel Salgado.

O que é que os pais podem fazer?

Se a criança a quem foi diagnosticado um tipo desta doença for devidamente orientada, numa fase precoce da mesma, por médicos especialistas nesta área, a maioria poderá levar uma vida quase normal ou mesmo dentro da normalidade. Estas doenças são relativamente pouco comuns para que todos médicos tenham experiência em tratá-las, como também alerta o especialista português.

"Assim, os pais devem exigir que o seu filho seja orientado por médicos com experiência em reumatologia pediátrica e o mais precocemente possível. Depois, deverão ter alguma paciência, pois estamos perante doenças cuja resposta ao tratamento é frequentemente demorada", salienta o especialista. Os pais devem ainda pedir para serem esclarecidos sobre as potenciais complicações da doença para além das articulações.

Por exemplo, "as uveítes crónicas [inflamações nos olhos], se passarem despercebidas, poderão comprometer seriamente os olhos e, consequentemente, a visão. Este é mais um dos motivos que justifica que as crianças sejam seguidas por médicos experientes nestas doenças", acrescenta Manuel Salgado. A melhor estratégia para melhorar a qualidade de vida de uma criança com reumatismo infantil deve incluir:

- Diagnóstico correto e precoce

- Orientação multidisciplinar (equipa constituída por médicos de diversas especialidades, incluindo enfermeiros e fisioterapeutas, entre outros que possam ser considerados necessários, coordenados por um especialista em reumatologia pediátrica

- Tratamento específico para cada doença, com vigilância regular da sua evolução e dos efeitos dos fármacos

- Rastreio regular de potenciais complicações não articulares da doença.

Precisa de ajuda?

A Associação Nacional de Doentes com Artrites e Reumatismos na Infância (ANDAI), em Lisboa, é uma das organizações a que pode recorrer para obter mais informação sobre esta patologia. A Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas (LPCDR) é outro dos organismos que lhe poderão dar mais informação. O seu médico de família também o poderá reencaminhar para os serviços de saúde mais próximos da sua área de residência.

Texto: Cláudia Pinto com Manuel Salgado (pediatra especialista em reumatologia pediátrica)