Em países como o Reino Unido, Alemanha e França, a homeopatia está integrada no sistema nacional de saúde. Em Portugal, onde a prática [em 2015] ainda não está regulamentada, milhares de pessoas recorrem a esta terapia alternativa. Com sucesso, dizem. Contudo, todos os anos são publicados estudos que atribuem o sucesso da terapia ao efeito placebo. «Quando comecei a engordar levei anos a convencer os médicos de que o meu aumento de peso não era causado por uma alimentação desequilibrada», recorda Isabel Falcão.

«Na homeopatia, o meu problema hormonal começou a ser tratado muito mais cedo do que na medicina convencional, onde só agora me foram pedidos determinados exames», refere a produtora de 45 anos, residente no concelho de Sintra, que recorre à homeopatia há cerca de 12 anos, não só para lidar com problemas endócrinos, como de estômago e de ossos. Está satisfeita, contudo, não rejeita a medicina alopática.

É à medicina convencional que recorre para tratar situações agudas. «Se for necessário, tomo. Aliás, acho que se recorresse à medicina convencional sempre que tenho um problema, muitos dos medicamentos que tomo em situações mais agudas não atuariam tão rapidamente. Nenhuma terapia é suficientemente boa sozinha. Mas há que ter a mente aberta para ver que as pessoas não podem ser tratadas apenas no plano físico», acrescenta.

«Há um potenciar da cura se também forem tidos em conta os aspetos emocionais e psíquicos, que é o que faz a homeopatia», afirma Fátima Bentes Oliveira, homeopata da Clínica do Campo Grande. Antes da prescrição, é avaliado todo o historial clínico do doente e considerado o seu modo de vida, a sua personalidade, os seus medos. «Só assim pode ser feita uma prescrição acertada», explica a terapeuta. «Não tratamos doenças, tratamos pessoas e, por isso, a terapêutica não pode ser generalizada», afirma.

Método com 200 anos

A homeopatia surgiu no século XVIII, criada pelo médico alemão Samuel Hahnemann, por se sentir desencantado com a prática clínica tradicional. Para este especialista, a doença é o resultado de uma perturbação da energia vital do ser humano, sendo os sintomas a reação do organismo a esse desequilíbrio. Para que o equilíbrio seja reposto, a homeopatia segue o princípio do «semelhante pelo semelhante se cura».

Esta prática administra doses infinitesimais da substância que produziu os mesmos sintomas apresentados pelo doente em pessoas sãs. Os medicamentos homeopáticos são fabricados a partir de substâncias de origem vegetal, mineral e animal, as quais se tornarão tanto mais potentes quanto mais diluídas. Hoje, a homeopatia é praticada em mais de 80 países, tendo um número estimado de 300 milhões de pacientes.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que a prática da homeopatia seja regulada, de forma a garantir aos utentes condições de segurança, nomeadamente pela garantia da inocuidade dos produtos administrados, mas condena de forma clara o uso desta terapêutica em doenças como a Sida, o cancro, a malária ou a diarreia infantil. Países como o Reino Unido, o Brasil, a França ou a Alemanha, incluem a homeopatia nos seus sistemas nacionais de saúde.

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As dúvidas dos céticos

Mas os céticos continuam a afirmar que a terapia homeopática não é mais do que «água com açúcar», provocando apenas um efeito placebo. O estudo divulgado em março de 2015 pelo Conselho de Pesquisa Médica e Saúde Nacional da Austrália vai mais longe e afirma que a homeopatia pode ser perigosa nos casos em que é usada para substituir a medicina convencional.

Fátima Bentes Oliveira recusa liminarmente a acusação. «É claro que, a partir de um certo grau de diluição não existem sequer moléculas mas, nessa altura, não estamos a realizar um tratamento a nível molecular mas energético, diz. E, quanto ao efeito placebo, está provado que o placebo produz, de facto, resultados mensuráveis», diz.

O doente como um todo

Sendo uma terapia holística, na homeopatia o doente é encarado como um todo, não se limitando ao problema presente. «A homeopatia tem-me ajudado a perceber o meu próprio corpo e a ter uma vida mais saudável», afirma Isabel Falcão. A produtora não é a única na família a recorrer ao tratamento homeopático. A mãe, com 75 anos e problemas de arteriosclerose faz terapêutica homeopática em complemento com os tratamentos alopáticos, e o filho de 14 anos faz tratamentos preventivos antes de cada inverno, como forma de evitar problemas respiratórios.

O facto de não interferir com os medicamentos alopáticos e ser aplicada em pessoas de todas as idades deu popularidade à homeopatia. Sobre a interação com terapias alopáticas, «o doente deverá ser o mais honesto possível e dizer que medicamentos toma, não só porque influencia os horários das tomas da terapia homeopática, como também porque nos doentes diabéticos ou com patologia hepática, os excipientes homeopáticos não podem conter álcool», refere Fátima Bentes Oliveira. As recomendações da Associação Portuguesa de Homeopatia vão no mesmo sentido.

5 respostas para outras tantas perguntas

1. Qual a origem dos remédios homeopáticos?

Têm origem vegetal, mineral e animal, e o seu fabrico segue as regras da farmacopeia.

2. É necessário abandonar a medicação farmacológica para seguir o tratamento homeopático?

Não há interação entre elas, mas é de referir que a cafeína e o mentol cortam o efeito da terapêutica homeopática.

3. Quanto tempo demora a terapia a surtir efeito?

Dependo dos casos, pode ter efeito em minutos ou demorar meses.

4. Devo informar o médico quando se segue um tratamento homeopático?

É sempre recomendável informar o médico de família.

5. Há risco de intoxicação química?

Não, os medicamentos homeopáticos não contêm químicos.

Texto: Susana Torrão