Esqueça o nome, a data de nascimento ou até o signo do Zodíaco. Concentre-se apenas numa letra ou, melhor, em quatro combinações possíveis, O, A, B e AB. É a partir desta informação que muitos japoneses guiam a sua vida amorosa e até profissional. Passamos a explicar. Com base numa teoria desenvolvida, nos anos da década de 1930, pelo professor de Psicologia Takeji Furukawa e que atribui a cada grupo sanguíneo um perfil de personalidade específico, surgiu uma tendência para, tanto em simples anúncios matrimoniais como de ofertas de emprego, incluir um dado adicional, o grupo sanguíneo.

Assim, caso pertença ao grupo O pode considerar-se uma pessoa muito social e criativa. Se o seu grupo é o B é um individualista que segue os objetivos com determinação. Na equipa A, figuram os perfecionistas, com dotes artísticos e, no mais raro, o grupo AB, são pessoas dignas de confiança e que gostam de ajudar os outros. Mas não é para desenhar o seu perfil psicológico que estamos aqui.

Com base nos mesmos quatro grupos sanguíneos, vamos explicar-lhe quais os alimentos que deve incluir na sua dieta e aqueles que deve evitar, atingindo o peso ideal. Com a ajuda de Robert Erbault, especialista em nutrição e medicina estética, apresentamos-lhe a dieta do grupo sanguíneo.

A primeira gota

Embora a primeira tentativa (gorada) de transfusão sanguínea date de 1600, a análise e identificação dos quatro grupos sanguíneos foi conseguida apenas no início do século vinte. Algumas décadas mais tarde, intrigados com o facto de indivíduos diferentes reagirem de forma distinta a um mesmo alimento, especialistas na área da nutrição resolveram debruçar-se sobre o tema, que levou ao aparecimento da chamada dieta do grupo sanguíneo.

Como refere Robert Erbault, especialista em nutrição, esta dieta é «o resultado de uma pesquisa feita por médicos americanos, como o Dr. D’Adamo, que descobriram que em função do grupo sanguíneo algumas pessoas eram alérgicas a certos tipos de alimentos», esclarece.

Identidade natural

Certamente já se apercebeu que tem uma convivência menos amigável com certos pratos. Mal-estar, dificuldade na digestão ou no trânsito intestinal, associados a determinados alimentos podem, segundo os defensores desta teoria, ter uma relação com o grupo sanguíneo. Isto porque, na sua composição, os alimentos contêm antigénios, substâncias que, por vezes, são idênticas a elementos presentes no sangue.

Esta semelhança traduz-se numa incompatibilidade, como ilustra Robert Erbault, «quando as pessoas têm anticorpos prontos a reagir a estes antigénios, ao absorverem estes alimentos têm uma reação de rejeição», sendo que, por exemplo «as pessoas do grupo A e grupo O têm reação ao leite e derivados do leite, enquanto que indivíduos do grupo O e B têm uma rejeição ao trigo». Os laticínios, os cereais e a carne são aqueles que colocam mais problemas neste âmbito devido às lectinas.

Veja na página seguinte: A interação entre as proteínas dos alimentos e o grupo sanguíneo

Maldita lectina

A interação química que existe entre as lectinas (proteínas presentes nos alimentos) e o grupo sanguíneo está na origem das perturbações digestivas ou reações alérgicas alimentares. Isto porque as lectinas podem interferir no sistema imunológico intestinal, levar à produção de anticorpos ou toxinas, causando um impacto negativo na digestão do alimento e absorção dos nutrientes.

Por exemplo, acredita-se que um indivíduo do grupo B, embora consiga metabolizar a proteína animal, tenha dificuldade em digerir frango, devido às lectinas presentes nos músculos desta ave. Além de afetar o funcionamento geral do organismo, este fenómeno pode traduzir-se num aumento de peso, como explica Robert Erbault. «Esta reação provoca mudanças locais, principalmente ao nível intestinal mas também vai alterar a secreção de insulina e facilitar o armazenamento de gorduras», refere.

Ciência versus natureza

Reconhecida pela American Association of Naturopathic Physicians e olhada com reserva por alguns nutricionistas internacionais que aguardam mais pesquisas, esta dieta tem, segundo este especialista, duas perspetivas. «A teoria dos antigénios tem provas científicas, mas outros elementos da dieta são resultado de experiência», esclarece o especialista. Na primeira categoria de dados insere-se a associação do grupo sanguíneo à predisposição para certas patologias, como destaca o especialista.

«O grupo A tem uma maior tendência para problemas cardiovasculares ou para o aparecimento de colesterol, diabetes, tensão arterial, aterosclerose. O grupo O parece ter mais predisposição para problemas alérgicos e o grupo B, parece estar associado a doenças auto-imunitárias», diz. Na segunda categoria de dados sobre esta dieta figuram as teorias quanto à origem dos grupos sanguíneos e perfis psicológicos de cada um.

Personalidade à letra

Embora alguns estudiosos na área da psicologia afirmem não existir ligação direta entre personalidade e tipo sanguíneo, são várias as teorias que definem um perfil específico, por exemplo, com base na origem antropológica de cada tipo. «O grupo O, o caçador, tem características individualistas, uma imunidade forte e boa capacidade física. É mais adaptado a comer carne, peixe», explica Robert Erbault.

Segundo o especialista, «o grupo A surge na bacia do Mediterrâneo com o aparecimento da agricultura e está especialmente adaptado a comer cereais, como o trigo. São indivíduos aptos a viver em comunidade e com tendência para um metabolismo lento, logo para ganhar peso com mais facilidade e perder com dificuldade».

«O terceiro grupo, o B, é originário da Ásia, um continente habituado a viver em condições climáticas extremas. São pessoas que normalmente têm uma boa capacidade de adaptação ao stresse», acrescenta ainda o especialista. Segundo esta teoria o grupo AB, mais recente, permanece ainda um enigma.

Veja na página seguinte: A teoria a pôr em prática

A teoria a pôr em prática

Em Portugal, os dois grupos sanguíneos mais frequentes são «o grupo A, com cerca de cinquenta e cinco por cento. O segundo grupo é o O, com perto de trinta por cento, e o terceiro, o B, que equivale a dez por cento e o grupo AB é mais raro» refere Robert Erbault. Na hora de definir o menu segundo este plano, existem alguns alimentos que são mais «amigos» de determinado tipo sanguíneo do que outros.

«O grupo A deve eliminar as gorduras, a carne vermelha, o leite e os laticínios e os açúcares de assimilação rápida, preferindo o peixe, carne branca, queijos magros (de cabra ou ovelha), hortaliças, fruta e cereais integrais. O grupo O, se há algo que deve eliminar, é o trigo e ter cuidado com o leite de vaca e derivados. O terceiro grupo, o B, tem como inimigo os cereais. E o grupo AB, que é mais raro, é semelhante ao grupo A», acrescenta.

Plano à medida

Conhecer o seu grupo sanguíneo é o primeiro passo para perder peso com esta dieta mas, antes de introduzir mudanças nos hábitos alimentares, é aconselhável obter apoio especializado a fim de analisar o papel de cada alimento e evitar assim situações de desequilíbrio no aporte de nutrientes. Já se sabe que, seja qual for o esquema alimentar escolhido, manter uma dieta rica em todos os nutrientes essenciais é a melhor forma de perder peso com saúde.

Nas palavras deste especialista de nutrição, que implementa o plano há já vários anos, «as pessoas do grupo O perdem peso com mais dificuldade. Mas uma pessoa pode perder até cinco quilos no primeiro mês. Desde que trabalho com esta dieta notei que muitas vezes os alimentos que proibimos são os alimentos que as pessoas têm dificuldade em assimilar. Isto significa que as pessoas vão ter tendência para a continuar, o que facilita muito a fase de estabilização», refere.