«Sendo vegetarianos, não temos carências, ficamos mais fortes. Dantes as pessoas comiam carne uma vez por mês e tinham mais saúde», afirma Mónica, uma gestora de loja com 24 anos. «A falta de proteína não é patologia em medicina», concorda Miguel, um engenheiro de 33. «Por dia, há seis mil milhões de animais à mesa das pessoas em todo o mundo», sublinha. As preocupações com a saúde e com os direitos dos animais podem motivar alguém a ser vegetariano.

Mas estão longe de ser as únicas razões e, em alguns casos, influenciam muitas outras escolhas além das alimentares. Aproveitámos um jantar promovido pela Associação Vegetariana Portuguesa (AVP) para saber mais sobre estas opções. Está bem informado sobre os legumes que ingere? Faça já este teste! Ainda confunde veganismo com vegetarianismo? Faça também este teste.

Motivos para mudar de regime alimentar

«Deixe de comer carne um dia por semana e vá reduzindo a partir daí», refere. O apelo de Rajendra Pachauri, secretário do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, que trabalha sob a égide da Organização das Nações Unidas, foi notícia em 2008, reforçando a causa vegetariana. «A indústria de produção de animais para consumo humano é responsável pela emissão de, pelo menos, 18 por cento dos gases com efeitos de estufa», comentou, na altura, Sofia Barradas.

«Um valor superior ao do setor dos transportes no mundo inteiro», contextualizou a vice-presidente da Associação Vegetariana Portuguesa. Às questões ambientais aliam-se as humanitárias. «Cerca de um terço dos cereais e grãos produzidos à escala mundial serão usados em rações para esses animais. Se fossem para consumo humano, alimentar-se-iam 10 ou 15 vezes mais pessoas do que atualmente e a erradicação da fome seria mais fácil», alerta esta especialista.

Vegetariano ou vegan?

Com 33 anos, Sofia Barradas é uma das 30 mil pessoas que seguem um regime vegetariano em Portugal, segundo dados de um inquérito feito em 2007 pela empresa Nielsen para o Centro Vegetariano. «Contactam a AVP pessoas de todas as idades, estratos sociais e formações académicas, homens e mulheres», afirma, salvaguardando que «no veganismo, talvez seja uma população mais jovem, com muito acesso a meios de informação, sobretudo internet».

Desde há sensivelmente 10 anos, este é também o seu caso. «Os vegan respeitam os animais e a natureza no seu todo e, por isso, não usam nada derivado de animais», explica. Além de não comerem carne, peixe, ovos ou alimentos como laticínios e mel, aplicam o mesmo critério ao vestuário, aos cosméticos e até aos tempos livres, optando por alternativas (praticamente) inócuas para o meio ambiente.

Adeus mitos

Carl Lewis, atleta norte-americano considerado o maior medalhista olímpico de todos os tempos, tinha 30 anos e era vegan quando, em 1991, bateu o recorde mundial dos 100 metros. O seu nome alia-se ao de outros desportistas, desde maratonistas, a tenistas e culturistas vegetarianos. «Segundo as associações americana e canadiana de dietistas, é um regime adequado até para atletas», disse, quando entrevistada para a edição impressa da Saber Viver, a vice-presidente da AVP.

«Claro que um atleta tem que ajustar o que come ao seu estilo de vida, como todas as pessoas», sublinha esta responsável, que desmitifica igualmente a ideia de que esta não é uma opção saudável para crianças. «Em Portugal há filhos de pais vegan que também seguem as mesmas opções e são saudáveis. Não é uma questão de idade, mas de saber o que se está a fazer», defende a especialista.

Veja na página seguinte: As implicações de criar filhos vegetarianos

À mesa

Os pais que pretendam partilhar esta filosofia de vida com os filhos «têm que equacionar a possibilidade de lhes dar comida vegetariana apenas em casa, de enviar refeições para a escola ou de os colocarem numa que tenha menu vegetariano», enumera Sofia Barradas. Mais fácil é ir às compras. Cereais, leguminosas, vegetais e fruta encontram-se em qualquer mercado e produtos mais específicos em grandes superfícies, lojas especializadas ou online.

Em restaurantes que não têm opções vegetarianas, «peça ao cozinheiro para arranjar uma alternativa», aconselha. Já para superar os insistentes porquês de amigos e conhecidos, a solução pode ser devolver a pergunta «E por que é que tu comes carne?», refere. «Devemos interrogar porque os omnívoros normalmente não pensaram nas implicações das suas escolhas, foi algo imposto», conclui.

Dia a dia vegan

As escolhas de quem respeita a natureza e os direitos dos animais:

- Vestuário

São a favor dos tecidos sintéticos e tecidos de origem natural não animal como o cânhamo. Não usam couro, pele, seda, pelo, lã.

- Cosmética e higiene (pessoal e do lar)

Não usam produtos cujos ingredientes são de origem animal, testados em animais e/ou cujos ingredientes foram testados em animais. Em alternativa, recorrem a produtos com a inscrição «Vegan» e o símbolo oficial de não testado em animais (coelho a saltar com duas estrelas). O primeiro atesta que não tem ingredientes de origem animal. O segundo que o produto e os seus ingredientes não foram testados em animais. Variantes deste símbolo podem ser apenas manobras de marketing.

- Entretenimento

Não participam em atividades ou eventos que usem ou explorem animais ou os retirem do seu habitat natural, como circos, touradas, parques aquáticos, jardins zoológicos, caça ou pesca. Em alternativa, são apologistas dos eventos culturais que não provoquem, explorem ou maltratem animais.

- Vegetarianos famosos

Bryan Adams, Joaquin Phoenix, Paul McCartney, Joss Stone e Natalie Portman são algumas figuras públicas vegetarianas. Sabia? O malogrado cantor Prince, autor de êxitos como «Purple rain», «Nothing compares 2U», «Kiss» e «When doves cry», também era vegetariano. Ellen Page, Jessica Chastain, Alicia Silverstone, Ariana Grande, Ellen DeGeneres, Miley Cyrus, Liam Hemsworth e Woody Harrelson são celebridades vegan.

Texto: Rita Miguel com Sofia Barradas (vice-presidente da Associação Vegetariana Portuguesa)