O avanço da idade acarreta, na maioria dos casos, alterações ao nível do funcionamento global do organismo, como perturbações na linguagem, na perceção, o surgimento de depressões, isolamento, que estimulam a imobilidade dos indivíduos, reduzindo de um modo cada vez mais acentuado, a inexpressão da sua motricidade. Contudo, e de acordo com Fonseca (2001), as perdas destas características, são resultado do processo de envelhecimento, não sendo associadas a incapacidades de aprendizagem. Muitos dos fatores relacionados com o envelhecimento tornam-se mais evidentes com a solidão, pois a falta de interação social diária enfraquece o corpo e a mente. De acordo com Rodríguez (2003), as possibilidades ao nível da intervenção psicomotora são vastas, tendo em conta que é possível trabalhar ao mesmo tempo e de diversas formas, a dimensão motora, cognitiva, afetiva e social.

Saber cuidar com respeito e qualidade, é um dever e um direito de cidadania das sociedades modernas, que se deve manifestar nas respostas efetivas a prestar à população idosa, na sua maioria muito vulneráveis. Envelheceram a ouvir falar de qualidade de vida, de satisfação de vida, a verem crescer serviços de apoio social, lares, apoios domiciliários, cuidados continuados e outras respostas sociais. Porém por falta de apoio familiar, falta de outras respostas sociais ou de saúde, por doença física ou mental, ou ainda por falta de condições nas suas residências, os idosos necessitam de ser institucionalizados e admitidos em unidades de cuidados de longa duração. Quando a Pessoa idosa está num internamento de Medicina e necessite de cuidados de longo prazo, está debilitada e carece de capacidade psicológica, de energia física, entre outras para desencadear um processo de conseguir realizar com satisfação as suas necessidades, contribuindo para um sentimento de dependência e inferioridade. Verificamos que estes permanecem nos hospitais em serviços de medicina a aguardar vaga para a Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI) em média mais de dois a três meses.

A Enfermagem de Reabilitação é uma área especializada que merece atenção e que é fundamental no processo de envelhecimento, podendo o Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação (EEER) contribui, além da reabilitação, na consciencialização da população idosa exercendo o seu papel de agente promotor de saúde e colaborador para o envelhecimento bem-sucedido. Surge então um grande desafio para as equipas de saúde que lidam diariamente nos serviços de internamento de Medicina, onde à Pessoa idosa permanece por vários dias, chegando em alguns casos, utentes a aguardar resolução social e permanecerem no internamento mais de oito a dez meses. Tornando-se ainda mais desafiante, para toda a equipe de saúde, cuidar e planear atividades que vão de encontro às necessidades da Pessoa idosa. Em parceria com toda a equipe multidisciplinar, o EEER promove um conjunto de atividades com temáticas lúdico-recreativas de estimulação cognitiva, físico motora, capacidade funcional que traga satisfação e qualidade de vida à Pessoa. O projeto “Reabilitar a Comemorar” é direcionado a todos os idosos internados no serviço de Medicina Interna da Unidade Local de Saúde de São João – Pólo de Valongo, que queiram participar e procura atenuar algumas vulnerabilidades fruto do processo de envelhecimento/doença, através da realização de atividades que estimulam as funções motoras, cognitivas, psicológicas e emocionais. As temáticas vão de encontro a datas comemorativas respetivas as efemérides mensais mais relevantes com o intuito de estimular as capacidades dos idosos. Através de várias atividades desenvolvidas o projeto “Reabilitar a Comemorar” permitiu-nos motivar, proporcionar e envolver os utentes numa dinâmica de cuidados com humanização e alegria. Este projeto surge no âmbito de promoção de um envelhecimento ativo e saudável com o objetivo de melhorar o bem-estar físico, cognitivo, promovendo a Autonomia e Valorização da Pessoa internada, contribuindo assim para idosos mais felizes.

O envelhecimento ativo permite assim, que as Pessoas desenvolvam o seu potencial físico, social e o bem-estar mental durante toda a vida, participando ativamente na sociedade, mas também ao nível Pessoal, através da realização de atividades de interesse (WHO, s/d b). De acordo com Fonseca (2001), a intervenção psicomotora na população idosa é um meio fundamental de atuação que permite desempenhar um papel preventivo, preservando uma tonicidade funcional, um controlo postural flexível, uma boa imagem do corpo, uma organização espacial e temporal, bem como possibilita ainda que estes cidadãos se integrem na comunidade em geral, tendo assim oportunidade de desenvolver o seu lado psicomotor, a sua capacidade física, mental e social, provocando uma melhoria progressiva na sua qualidade de vida. Fonseca (2001) refere ainda que uma intervenção deste tipo, aliada às necessidades funcionais de cada idoso, permite a diminuição da imobilidade, da passividade, do isolamento e solidão, da dependência e da segregação, fazendo desta última fase da vida, uma etapa com dignidade. Denotamos que quando existe implicação da Pessoa na atividade planeada, acompanhado pelos restantes utentes e profissionais de saúde, refletiu-se e conclui-se sobre a importância de programar atividades que contribuíssem para um estado emocional positivo, partilhado por todos. Pretendemos assim conviver com idosos equilibrados, felizes, com capacidade de lidarem com as suas emoções e perdas, mas também com cuidadores empenhados num trabalho que se torna gratificante, onde todos podemos sair a ganhar, num mundo onde se vão atropelando a longevidade e as adversidades da Vida.