“O povo merece o SNS”, “ Queremos respeito”, “Os médicos unidos jamais serão vencidos” ou “Costa escuta, a chuva não nos assusta”, fazendo referência às condições climatéricas naquele momento, são algumas das palavras de ordem gritadas pelos profissionais de saúde.

A manifestação acontece no primeiro de dois dias de greve convocada pela Federação Nacional dos Médicos (Fnam) e cinco dias depois de os sindicatos se terem reunido com o Ministério da Saúde e de estar marcada uma nova ronda negocial para a próxima quinta-feira.

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O descontentamento dos médicos tem sido manifestado com greves e com a entrega, por cerca de 2.500 clínicos, de minutas de declarações de dispensa ao trabalho extraordinário, além das 150 horas anuais obrigatórias, que tem provocado constrangimentos nos serviços de urgência de vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde.

Na proposta apresentada aos sindicatos na quinta-feira, o Ministério da Saúde prevê um suplemento de 500 euros mensais para os médicos que realizam serviço de urgência e a possibilidade de poderem optar pelas 35 horas semanais.

A Fnam já tinha anunciado que estará presente de “boa-fé” na reunião agendada pelo Ministério da Saúde para a próxima quinta-feira, “com a expectativa de poder celebrar um acordo histórico, à altura de salvar a carreira médica e o SNS”.

Alerta do ministro

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, defendeu hoje em Olhão, no Algarve, que a sua proposta de aumentos salariais dos médicos até 50% não pode ser desvalorizada, convidando-os a aproximarem-se da posição do Governo.

“Eu acho que todos os portugueses e os médicos, incluindo, têm consciência de que quando nós estamos a propor aumentos salariais, que são nuns casos de 23%, noutros casos de 32% e, noutros casos, […] o aumento é mesmo de 50%. Não estamos a falar de aumentos que se possam desvalorizar”, disse Manuel Pizarro a dois dias de uma ronda de negociações prevista para quinta-feira com os representantes dos médicos.

À margem de uma visita à Unidade de Saúde Familiar Lendas de Olhão, no Centro de Saúde desta cidade algarvia, o responsável governamental assegurou que irá ainda elaborar “um documento com maior detalhe técnico” do que aquele que já foi distribuído e considerou não é a falta desse texto “que impedirá a conclusão das negociações”, que espera que irão chegar a “bom termo”.

O ministro recordou que “para haver um entendimento tem que haver uma aproximação de ambas as partes”.

”A mim não me agrada a ideia de haver greve enquanto se está a negociar, mas respeito naturalmente o direito das pessoas pensarem de outra forma”, disse Manuel Pizarro, acrescentando que o país vive “numa sociedade democrática onde as pessoas têm direito à greve”.

A Federação Nacional dos Médicos (Fnam) acusou na segunda-feira o ministro da Saúde de “empurrar o país para uma tragédia anunciada” com risco de mortes.

A Fnam considerou ainda que a proposta do Governo para aqueles profissionais está “cheia de desigualdades”.

“O [ministro da Saúde] doutor Manuel Pizarro infelizmente está a empurrar o país para uma tragédia anunciada onde podem acontecer mortes, onde podem acontecer outras tragédias e a responsabilidade é inteiramente do Governo se nada fizer ou não incorporar o que os médicos têm neste processo negocial”, acusou a presidente da Fnam, Joana Bordalo e Sá, no final de uma reunião de urgência do Fórum Médico no Porto.

No final da mesma reunião, o presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) alertou que os sindicatos ainda não conhecem a proposta do executivo e que apesar de alguma abertura "há ainda um oceano a separar as duas partes".

“Estamos muitíssimo preocupados com o desenvolver da situação, houve, de facto, naquela reunião [na quinta-feira entre o ministro da Saúde e os sindicatos dos médicos], alguma abertura mas ainda nos separa um oceano para chegarmos a um eventual acordo”, disse Jorge Roque da Cunha.

Para o sindicalista, “não basta o Governo anunciar uma proposta, é preciso que haja medidas concretas em relação àquilo que é anunciado por parte do Governo. Estamos a três dias da reunião e ainda não temos os documentos concretos”, criticou.

Segundo Joana Bordalo e Sá, a Fnam quer uma proposta por escrito e quer “conhecer o que o Governo resolveu legislar unilateralmente em Conselhos de Ministros sobre o novo regime de dedicação plena e a questão das Unidades de Saúde familiar”.