Os estudos especializados não enganam: as crianças portuguesas passam, todos os dias, horas seguidas em frente à televisão e quando chegam ao primeiro ciclo é habitual que o tempo despendido aumente significativamente.

 

A explicação é simples. A maior parte das crianças em idade pré-escolar frequenta o jardim-de-infância, tendo por isso grande parte do dia ocupado. Assim, a TV é remetida para poucos intervalos, habitualmente uns minutos de manhã e um outro breve período na chegada a casa.

 

 

A espera da televisão

 

Este estado de coisas pode sofrer uma grande modificação com o início do percurso escolar. Os horários de grande parte das escolas terminam a meio da tarde e muitos dias a criança vai diretamente para casa, onde tem à espera a televisão.

 

É nesta altura que os adultos ficam preocupados com a quantidade de tempo dedicada ao pequeno ecrã. A televisão – em paralelo com outros estímulos tecnológicos como os computadores e as consolas e jogos – é mesmo apontada como uma das grandes razões para o aumento do sedentarismo infantil.

 

E é com o sedentarismo que podem aparecer problemas de saúde física e mental tais como a obesidade, alterações dos padrões de sono e vigília, tenência para uma maior agressividade e mesmo adopção de comportamentos observados sem a necessária reflexão sobre os mesmos.

 

 

Cuidados a ter

 

Por tudo isto, vale a pena ter especial atenção à forma como os mais novos consomem televisão. Dosear os períodos que se passam em frente ao ecrã e selecionar os programas mais adequados às suas idades e maturidade são dois tipos de estratégias importantes.

 

É também essencial não tomar a televisão como uma espécie de “ama electrónica” a quem se recorre diariamente para manter as crianças sossegadas e deixar algum tempo livre aos pais.

 

Certamente que elas estarão plácidas, mas a que preço? Será que em troca de algum tempo livre, não se estão a criar dependências indesejadas e a expô-las a estímulos e informações pouco adequadas à sua idade?

 

A maior parte dos cientistas que se dedicam a avaliar a influência que o excesso de televisão tem no desenvolvimento infantil não hesitam em afirmar que podem existir sérias consequências. Por exemplo, dado que esta é uma actividade bastante passiva, as capacidades cognitivas não são estimuladas de forma tão eficaz como se a criança estivesse a ler ou a usar os seus brinquedos.

 

 

Uma boa ajuda

 

Há, pois, que ter cuidado com a televisão. Mas tal não significa que se deva cortar completamente com o pequeno ecrã. Se utilizada da melhor forma, a TV não só não causa problemas como pode ajudar a criança e a família.

 

A começar pelas capacidades de aprendizagem. Estudos recentes mostraram que, em crianças na idade pré-escolar, ver televisão (desde que em doses cuidadosamente escolhidos e programas adequados) aumenta as futuras aptidões de leitura e escrita. Períodos entre 60 e 120 minutos por dia são apontados como os mais equilibrados nesta fase do desenvolvimento infantil.

 

Por outro lado, os estímulos televisivos – em especial os programas e a personagens destinados ao público infantil – são uma poderosa ferramenta de integração e sentido de pertença. Ao partilharem a devoção por um qualquer boneco ou apresentador, os mais novos encontram terreno comum que lhes permite fazer amizades e socializar.

 

Em suma, a TV, por si mesma, não é um alvo a abater. Se for entendida como mais um estímulo, e não como um dos centros da vida quotidiana, e utilizada com equilíbrio pode transformar-se numa agradável fonte de entretenimento, mas também de educação.

 

 

Maria C Rodrigues