As obsessões são pensamentos intrusivos, indesejados, repetitivos, que causam uma ansiedade intensa e os seus conteúdos podem estar relacionados com diversos temas, nomeadamente a limpeza, pensamentos supersticiosos, medos intensos de que algo negativo possa acontecer ao próprio ou a outras pessoas importantes. As compulsões são ações, comportamentos ou atividades mentais repetitivas que servem para neutralizar a ansiedade gerada pelas obsessões. Quando se instala o ciclo obsessivo-compulsivo, as obsessões e a ansiedade surgem novamente logo após a realização de compulsões.

A POC é uma perturbação que atinge entre 1 a 3% das crianças e adolescentes e estima-se que entre um terço a metade dos adultos com POC evidenciem o início dos sintomas durante a infância ou adolescência. Assim, a intervenção especializada e atempada é fundamental para que o impacto da perturbação possa ser diminuído e para que a sua evolução seja controlada.

Existem vários tipos de tratamento para crianças e adolescentes com POC. No entanto, aqueles que têm vindo a ser mais estudados e que têm apresentado maior taxa de eficácia são a psicoterapia cognitivo-comportamental e a intervenção farmacológica. Os estudos mais recentes indicam que o tratamento das crianças e adolescentes com POC com gravidade ligeira a moderada deverá ser preferencialmente a psicoterapia cognitivo-comportamental. No entanto, nas situações em que os sintomas se apresentam de forma grave ou quando a resposta da criança à psicoterapia não é inteiramente favorável, deverá ser considerada uma intervenção farmacológica combinada com a terapia cognitivo-comportamental.

Existem linhas orientadoras que guiam a escolha de tratamento na POC. A Academia Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente considera que a primeira linha de tratamento para as crianças que ainda não atingiram a puberdade deverá ser a psicoterapia cognitivo-comportamental independentemente da gravidade dos sintomas. Para adolescentes a psicoterapia cognitivo-comportamental também é considerada a primeira opção de tratamento quando a manifestação dos sintomas é moderada. Se a POC se manifestar de forma severa mantém-se a recomendação de iniciar o tratamento com psicoterapia, embora seja aconselhada a combinação com intervenção farmacológica logo após o início da psicoterapia. Em alguns casos a intervenção psicoterapêutica e farmacológica são iniciadas em simultâneo se o adolescente apresentar, por exemplo, um quadro de depressão associado. Diversos estudos mostram que, nas crianças e adolescentes, o tratamento apenas com a psicoterapia cognitivo-comportamental é mais eficaz do que apenas com a medicação e que os efeitos positivos da psicoterapia são mais duradouros do que a medicação só por si.

Perante a sugestão médica de uma abordagem medicamentosa os pais e agentes cuidadores da criança ou adolescente reagem frequentemente com insegurança, dúvida ou medo: “O meu filho tem POC e o médico receitou-lhe medicação, mas não me sinto segura... Será que devo dar?”, “A medicação vai curar a POC?”, “Não gosto de dar um medicamento destes todos os dias ao meu filho...”.  É importante ter em conta que a medicação tem como objetivos diminuir os sintomas da POC, melhorar a qualidade de vida da criança ou adolescente e facilitar a adesão à psicoterapia, pelo que quando é recomendada acarreta benefícios fundamentais para a evolução positiva destes quadros clínicos.

Soraia Nobre - soraia.nobre@pin.com.pt
Psicóloga Clínica

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