O jardim que todos desejamos, o desfrutar dos aromas, a explosão visual de cores, as texturas das folhas e troncos, o prazer e a harmonia que proporcionam, é uma realidade que requer cuidados e planeamento na construção e manutenção, um processo que nem sempre é devidamente ponderado. Podemos desfrutar do nosso jardim, sozinhos ou acompanhados por familiares ou amigos, mas quando os amigos que escolhemos têm quatro patas surge um alerta. Risco de danos!

Quem não se deparou já com covas no relvado, manchas de urina, dejetos nos caminhos e alpendres dos nossos animais e dos das visitas indesejáveis dos animais vadios (ou dos vizinhos) que percorrem os nossos jardins durante a noite, sobre os quais não temos qualquer controlo…. Para compatibilizar o jardim com os cães e os gatos, até porque está provado que os animais com pelo ajudam a prevenir a asma, devemos pensar o jardim para quem o utiliza.

Devemos fazê-lo tendo em conta os seus hábitos e as suas necessidades e assim delinear algumas estratégias de construção e/ou de manutenção. Sim, estes nossos companheiros de brincadeiras poderão fazer estragos podendo mesmo comprometer a harmonia geral do jardim. O que fazer para controlar as suas ações? Encontra algumas das respostas aqui. Estas são algumas sugestões que também podem minorar alguns dos principais problemas que tendem a surgir:

1. Crie espaços de proteção

Proteja as suas espécies botânicas das suas mascotes. Crie pequenas sebes ou vedações que protejam as plantas mais nobres, para que o acesso aos animais seja condicionado ou até mesmo impedido. Se preferir, pode também optar por colocar vasos ou floreiras que façam barreira aos animais e que, pelo seu formato, também dificultem o acesso às plantas e às flores neles contidos.

2. Preveja espaços de sombra

Os animais precisam de sombra e os seres humanos também. Escolha, por isso, um local onde os animais se possam abrigar do calor excessivo dos dias mais quentes. Por vezes, os buracos escavados nos jardins, que tanto irritam os seus proprietários são feitos para que os animais sintam a frescura do solo. Além de árvores, deve considerar abrigos ou até mesmo pérgolas que possam ser cobertas.

3. Não se esqueça da água

Os animais devem ter sempre água disponível, de preferência junto à zona de sombra. Na impossibilidade de ter um lago ou até mesmo um charco, considere a colocação de um cocho, um recipente retângular em cimento com divisórias nas quais pode colocar água. Em alternativa, tenha sempre um balde ou um bebedouro com água para matar a sede aos seus animais de estimação.

4. Remova de imediato a urina

É uma das maiores dificuldades que os proprietários de mascotes e de jardins enfrentam. Quando se vê os animais a urinar no relvado, devemos lavar essa zona de imediato, regando-a com uma mangueira com água corrente, para que a urina não queime a relva e as manchas amarelas não surjam. Sempre que se aperceber desta situação, não descure este gesto, aconselham os jardineiros profissionais.

5. Crie um espaço que sirva de casa de banho aos animais

Devemos escolher uma zona que os cães possam usar unicamente para este fim, uma vez que os gatos costumam ter a sua caixa. Esta área pode ser em terra virgem, se o nosso cão gosta de escavar e tapar, com pedrinhas, com tapete sintético ou ripas de madeira, por exemplo, e ensinar os animais a usar esta zona. Para que os animais escolham estas zonas podemos, por exemplo, colocar um pouco de detergente amoniacal.

Jardins, cães e gatos são (in)compatíveis?

O amoníaco é um dos componentes do detergente amoniacal e da urina, tem um odor ativo que os animais reconhecem. Quando sentem o odor do amoníaco identificam como invasor da sua zona, o que os leva a urinar sobre este para marcar território.  É conveniente guiar os animais até este local, para que aprendam e elejam rapidamente o seu WC. Se o jardim for muito grande, criar várias zonas para esta função.

6. Tenha cuidado com o amoníaco

Os animais têm, tal como os humanos, de satisfazer regularmente as suas necessidades fisiológicas. Manter alpendres e caminhos limpos de dejetos, uma dificuldade para a maioria dos proprietários destes espaços, é afinal muito simples. Não deve, contudo, usar detergente amoniacal. Deve preferencialmente limpar e desinfetar estas zonas com produtos à base de lixívia, recomendam os especialistas.

Outros cuidados a ter

Os gatos, felinos e caçadores noturnos, estão geralmente ativos no período da noite e, por vezes, a invasão é tal que parece que todos os gatos elegem o nosso jardim como estância de férias! A situação é-lhe familiar? Este fenómeno deve-se aos elementos atrativos do jardim em que a presença de uma planta, vulgarmente conhecida como erva-gateira (Nepeta cataria) ou catnip, desempenha um papel marcante.

Quem tem gatos preguiçosos, inativos ou gordos é recomendado que os obrigue a fazer exercício físico. Uma das formas de os estimular a essa atividade que lhes é essencial é expô-los à presença desta planta, Nepeta cataria, pois liberta substâncias que agradam aos felinos e os excitam. O aroma libertado é de grande agrado e proporciona-lhes alegria e bem-estar, acalmando gatos stressados.

Assim, quando adquirimos esta planta é recomendável que esta esteja em vaso para que a possamos movimentar e colocar na zona que nos é mais conveniente, recolhendo à noite para que os gatos vadios não invadam o nosso jardim e que, para além dos estragos que possam fazer, os dejetos desagradáveis não sejam encontrados no dia seguinte, como recomendam muitos especialistas, nacionais e internacionais.

Jardins, cães e gatos são (in)compatíveis?

Em suma, o planeamento do jardim deve ser pensado para todos os potenciais utilizadores, considerando que o equilíbrio estético e funcional deve ser o ponto de convergência. Os cães e os gatos fazem parte da nossa vida e muito prazer nos proporcionam. Devemos, assim, atuar e pensar com bom senso, privilegiando o nosso bem-estar e as necessidades e os hábitos saudáveis destes nossos amigos.

Texto: Filipa Mateus de Almeida (engenheira agrónoma e consultora)