Medo incontrolável de espaços fechados, espaços abertos, aranhas, agulhas, micróbios, estes são apenas alguns exemplos de fobias muito comuns. Mas, tal como tudo o resto na sociedade, também estas estão a mudar, ou melhor, aquelas mantêm-se, contudo, estão a surgir novos medos irracionais, como obsessão pelo detox, por desperdício e pelo smartphone. Mas afinal o que é uma fobia? Fomos perguntar a quem melhor sabe!

«É um medo acentuado e persistente que é excessivo ou irracional, desencadeado pela presença ou antecipação de um objeto ou situação específica», explicam os psicólogos Catarina de Castro Lopes e Tiago A. G. Fonseca, da clínica Psinove. Geralmente, o que acontece é que «a exposição ao estimulo fóbico provoca quase, invariavelmente, uma resposta ansiosa imediata».

Na verdade, a pessoa reconhece que o medo é excessivo, no entanto, não controla a reação e o evitamento fóbico interfere significativamente na rotina diária. Muitas vezes, os primeiros sintomas de fobia específica ocorrem habitualmente na infância ou no início da adolescência, como frisam os psicólogos.

«Os fatores predisponentes para o desencadeamento da fobia incluem, regra geral, acontecimentos traumáticos que tendem a ter um desenvolvimento agudo». Nunca relativize uma fobia, aconselham Catarina de Castro Lopes e Tiago A. G. Fonseca. «É necessário aceitar que é adequado e natural termos medo de alguns estímulos e que outros são exagerados, inapropriados face ao contexto e limitadores», dizem.

«Não relativizar, compreender e aceitar o nosso medo, seja adequado ou não, é a melhor forma de o ultrapassar e lidar com ele», afirmam ainda. Mas voltemos ao início e às (novas) fobias, vistas pelos especialistas, que ensinam ainda como tratá-las da melhor forma:

- Obsessão pelo detox

«À partida, este tipo de obsessão está ligado ao conceito idiossincrático da auto-imagem», sublinham Catarina de Castro Lopes e Tiago A. G. Fonseca. «De uma forma saudável, as dietas podem ajudar as pessoas a sentirem-se melhor consigo próprias e, assim, a aumentar a autoestima e confiança», referem ainda.

«Quando o desejo de perseguir este sentimento se torna numa obsessão e são realizados movimentos contínuos, não equilibrados, de perseguição deste objetivo, o processo detox poderá tornar-se limitador e interferir significativamente nas rotinas diárias. O detox, como obsessão, poderá resultar de uma perceção distorcida da imagem corporal, ou de uma busca contínua pela autoestima através deste comportamento», dizem.

- Fobia ao desperdício

«Por vezes, bastam algumas experiências de vida mais desfavoráveis em termos de posses e bens pessoais, que o desperdício passa a ser algo a evitar. Como tudo o que ocorre em excesso, não é adaptativo para o indivíduo e torna-se uma fonte de mal-estar», afirmam os especialistas.

«Desperdiçar, sejam alimentos ou objetos, é algo que, tendencialmente, todos fazemos, mas não de forma consciente. Tornar este comportamento obsessivo consciente é a fonte desta preocupação», afirmam ainda Catarina de Castro Lopes e Tiago A. G. Fonseca.

- Medo de ficar sem smartphone

«Com a evolução da tecnologia e o seu fácil acesso, torna-se cada vez mais premente a utilização destes aparelhos, seja para trabalho ou para lazer. Quando os números nos dizem que existem três telemóveis para cada habitante, estamos a falar de uma preocupação excessiva ou necessidade não regulada de utilização deste aparelho», sublinham Catarina de Castro Lopes e Tiago A. G. Fonseca.

«É como se existisse uma dependência de o ter logo à mão», destacam. «O medo de ficar sem telemóvel poderá surgir dessa dependência, como se estivéssemos a falar de efeitos de abstinência face a um vício», acrescentam ainda os psicólogos.

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Como se tratam as fobias

Em qualquer uma destas fobias, é, de acordo com os psicólogos Catarina de Castro Lopes e Tiago A. G. Fonseca, «necessário que cada pessoa faça uma real avaliação da necessidade e contributo para o seu bem-estar». Poderá até perguntar-se «Este comportamento está a limitar a minha vida e as minhas rotinas diárias?», sugerem os especialistas.

«Se sim, não hesite em procurar ajuda especializada», referem ainda. De acordo com a investigação científica, a intervenção psicoterapêutica tem-se demonstrado eficaz. «A psicoterapia poderá ajudá-la a controlar a sua ansiedade ou parte dela, através de exercícios de regulação emocional e de algumas abordagens psicoterapêuticas, como a Cognitivo-Comportamental», salientam.

«O Eye Movement Desensitization and Reprocessing (EMDR) tem sido indicado como uma abordagem terapêutica eficaz, uma vez que ajuda a desbloquear o sistema nervoso, favorecendo a comunicação entre os dois hemisférios cerebrais, permitindo assim que o cérebro processe a experiência traumática», acrescentam ainda os especialistas.

Outros dos (maiores) receios dos dias de hoje

Podem não ser fobias mas são medos comuns também nos nossos dias:

- Ficar sem Internet

A maior dependência dos tempos atuais é a Internet, tanto assim é que o «DSM», manual de perturbações psicológicas, na sua quinta edição introduz como síndrome de dependência a utilização da internet. «Uma vez mais, quando estamos dependentes de algo, temos medo de o perder. É normal que existam movimentos de controlo sobre a nossa dependência para que não seja perdida», dizem Catarina de Castro Lopes e Tiago A. G. Fonseca.

«No entanto, temos de fazer a distinção entre a utilização da Internet em criança ou adolescente, da utilização por adultos, da utilização de lazer e da utilização de trabalho. Todas podem representar dependências e suscitar medos, e todas têm de ser enquadradas no dia a dia de cada um, para ser percebida a sua funcionalidade ou não», advertem.

«Se não for funcional ou estritamente necessário para a realização de determinadas tarefas, poderá ser dependência e originar medo pela perceção de possível perda», realçam ainda Catarina de Castro Lopes e Tiago A. G. Fonseca.

- Ter uma alma feia

Há quem que pense que é uma má pessoa e, isso, de acordo com os psicólogos, «mostra que existe uma preocupação excessiva com o exterior, sendo que a nossa perceção do que os outros vêem e sentem poderá ser diferente do que o próprio diz, faz ou sente. Este sentimento ou sensação pode estar associado a crenças que o próprio desenvolveu relativamente à sua pessoa», afirmam Catarina de Castro Lopes e Tiago A. G. Fonseca.

A explicação não se fica, contudo, por aqui. «Pode ter aprendido que é má pessoa ao longo da sua vida e passar a transportar essa crença, procurando, inconscientemente, tudo (comentários e comportamentos dos outros) o que a confirme», dizem ainda os especialistas.

Texto: Rita Caetano