Muito provavelmente a maioria de nós conhece, teve como colega de escola, já se cruzou em determinado contexto ou tem mesmo na família alguém que gagueja. Frequentemente alguns de nós fazem comentários sobre essas mesmas pessoas tais como: “ah mas gagueja pouco, mal se nota” ou “agora gagueja muito menos, antigamente era pior” entre outras. Talvez, inconscientemente inferimos que as pessoas que gaguejam ‘devem esforçar-se’ para não gaguejar e nem imaginamos que por vezes elas e eles são de tal modo excelentes nessa ‘tarefa’ que assumimos: “antigamente era gago mas agora já não é!”

Sim, alguns são mestres na arte de substituir palavras de modo a assim não dizerem exatamente o que queriam dizer. São mestres na façanha de produzirem frases simples e pouco extensas de modo a reduzir probabilidades de ‘tropeçarem’ em alguma palavra. São ainda experientes na perícia de se absterem de participar nas conversas e serem intitulados de tímidos e introvertidos, e abdicam de ripostar que não o são. São peritos na astucia de serem identificados pelos outros como pessoas de poucas palavras e muito ponderadas, que só falam após refletir sobre o assunto. Ou também na estratégia de fazer de conta que não se lembram da palavra. São invulgares porque não falam ao telefone e apenas o usam para enviar mensagens, e fazem quilómetros de modo a falar na presença do outro, alguns deles até recorrem a maneirismos, e a piscar dos olhos de modo a que a palavra ‘saia’, tudo vale menos bloquear na palavra, repetir a silaba ou o som… isto entre outros requintes que usam de modo a não se permitirem gaguejar.

Bem mas tudo isto não é bom e positivo? Se são muito eficazes? Tomara muitos conseguir o mesmo! Certo? NÂO!
Qual o custo de recorrer a vários dos ‘estratagemas’ anteriores e seu impacto no próprio? É algo como: todos os dias correr a maratona sem se permitir qualquer intervalo. É o estar sempre preparado para qualquer emergir de gaguez de modo a evitar que tal suceda.

Algumas destas pessoas, por vezes, procuram profissionais de saúde e dizem-lhes que gaguejam, e eventualmente até essa é a razão da consulta… mas como não são escutados e/ou identificados os momentos de gaguez durante a consulta…o profissional por vezes assume “não gagueja nada!” ou “não deve gaguejar muito” ou ainda “que bom que consegue controlar tão bem a gaguez” entre outras hipóteses.

Quando foi verbalizado “eu gaguejo” estava a mensagem subliminar: “eu tenho medo de gaguejar e por isso recorro a ‘muita coisa’ para que isso não suceda…”

Pessoas com este tipo de gaguez necessitam de ser escutadas, ninguém se atribui e se vê como uma pessoa que gagueja quando esse não é o caso (Czuchna, 2008). Se uma delas vem à procura de intervenção, esclarecimento e/ou informação há aspetos cruciais a desmistificar e a desenvolver tais como:
- De que forma se pode gaguejar de modo fluente;
- Como reduzir o medo e a frustração ao falar ainda que gaguejando;
- De que forma evitar palavras, contextos, pessoas... apenas aumenta o receio de gaguejar;
- Como poderá ser gratificante falar em qualquer contexto e com quem quiser ainda que gagueje.

Jaqueline Carmona/Terapeuta da Fala
Pós-graduada - European Clinical Fluency Specialization - Especialização em Perturbações da Fluência (Gaguez)
Linguista

jaqueline.carmona@pin.com.pt

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