O material onde guarda os alimentos pode conter químicos nefastos. As prateleiras da cozinha estão repletas de recipientes de plástico que se utilizam no dia a dia para armazenar alimentos, sem nos lembrarmos que a maior parte destes invólucros é fabricada com químicos, alguns prejudiciais para a saúde.

O bisfenol-A ou BPA é um dos compostos mais controversos. 

De acordo com a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (AESA), «este químico pode migrar em pequenas quantidades para os alimentos». Não é por acaso que, nos Estados Unidos da América e na Europa, a sua utilização foi proibida nos biberões.

Recipientes e BPA

A documentação da AESA refere que «este produto químico, um monómero resultante da combinação de acetona e fenol, é usado, sobretudo, no fabrico de plásticos, em especial na produção de policarbonato, um material muito resistente, transparente e rígido». No entanto, o BPA também pode ser encontrado nas resinas epóxi, revestimentos internos de latas de conserva e selantes dentários.

Riscos para a saúde

Os indícios de que o bisfenol-A pode ser prejudicial para a saúde levaram a AESA a apostar na investigação continuada para confirmar o grau de toxicidade deste químico no organismo. Ana Sanches Silva, investigadora do Departamento de Nutrição e Alimentação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, explica por que motivos o BPA é temido.

«Trata-se de um desregulador endócrino e tem atividade estrogénica. Nas crianças, os potenciais efeitos toxicológicos podem ter um impacto maior. Suspeita-se que a exposição a BPA tem efeitos endócrinos e reprodutivos, aumenta a suscetibilidade a tumores da mama, podendo também ter efeitos no sistema imunitário e no desenvolvimento neurológico».

A vulnerabilidade dos bebés

Em 2011, o BPA foi proibido no fabrico de biberões. Segundo um parecer de 2006 da AESA, «os biberões de policarbonato são a fonte principal de exposição ao BPA para os lactentes, embora se encontre ainda abaixo da dose diária admissível (0,05 mg/kg de peso corporal por dia)». Ana Sanches Silva esclarece que «nos primeiros seis meses, o bebé ainda não tem um sistema de eliminação do BPA tão desenvolvido como o de um adulto, por isso as crianças são consideradas mais vulneráveis aos potenciais efeitos nocivos deste composto».

Materiais alternativos

Embora os plásticos de policarbonato sejam considerados estáveis, a investigadora lembra que «o BPA pode ser libertado a partir dessas embalagens quando estas são hidrolisadas a altas temperaturas e a pH neutro a alcalino». O BPA também pode, acrescenta, «ser libertado a partir de resinas epoxi que não foram completamente polimerizadas ou pode ser encontrado em alimentos aquecidos às temperaturas de processamento das latas de conserva».

Existem no mercado materiais alternativos ao policarbonato que não contêm BPA. O vidro e outros tipos de plástico, como o polipropileno ou o polietileno tereftalato, são apontados como melhores opções para guardar ou congelar no frigorífico e aquecer os alimentos no micro-ondas.

O que fazer

4 conselhos imprescindíveis para uma utilização segura:

- Em caso de uso frequente, prefira produtos de plástico que indicam no rótulo não conterem BPA ou use plásticos como o polipropileno ou o polietileno tereftalato.

- Aqueça ou congele os alimentos apenas em recipientes de plástico cujo rótulo indique que estão preparados para o efeito.

- Evite consumir quantidades elevadas de alimentos e bebidas em lata, que são revestidos com BPA.

- Deite fora ou passe a usar para fins não alimentares os recipientes de plástico que estejam lascados, quebrados ou envelhecidos.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Ana Sanches Silva (investigadora do departamento de alimentação e nutrição do Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge)