Solução de recurso para muitas mulheres, a pílula do dia seguinte é um método anticoncecional de emergência que usa compostos hormonais concentrados para prevenir a gestação, após a relação sexual.

Esta é considerada uma segunda oportunidade para evitar uma gravidez, muitas vezes indesejada. Esclareça, por isso, as suas dúvidas e confira todas as precauções que deve ter para que este método não falhe.

1. Tem um efeito abortivo porque atua numa gravidez já em curso? Falso!

A pílula do dia seguinte previne uma gravidez, impedindo a ovulação. Ela atua ainda antes de ocorrer a fecundação. Depois de uma relação sexual, os espermatozoides precisam de esperar entre um a cinco dias no trato genital feminino até que ocorra a fecundação. E é exatamente neste momento que a contraceção de emergência atua, quando é utilizada, na primeira fase do ciclo menstrual.

Se for administrada na segunda fase do ciclo menstrual, ela impede ou dificulta a movimentação dos espermatozoides, efeito que reduz significativamente a probabilidade de fecundação. É importante lembrar que quando é usada antes da ovulação, portanto, na primeira fase do ciclo menstrual, ela é mais eficaz porque atrasa a ovulação.

2. Provoca sangramento e altera o ciclo menstrual? Falso!

A pílula do dia seguinte não provoca sangramento imediato e a maioria das mulheres que já a usou experimenta pouca ou nenhuma alteração significativa no ciclo menstrual. A OMS afirma que 57% das mulheres que usam a pílula do dia seguinte terão a menstruação seguinte ocorrendo dentro do período esperado, sem atrasos ou antecipações. Em 15 por cento dos casos, a menstruação poderá atrasar até sete dias e, noutros (13 por cento), pouco mais de sete dias.

A antecipação da menstruação, menor que sete dias, ocorre em apenas 15 por cento dos casos. Essas alterações são autolimitadas, têm remissão espontânea e, geralmente, são bem toleradas pela mulher. No entanto, o seu uso repetitivo ou frequente pode acentuar esses transtornos menstruais.

3. O seu uso frequente pode causar infertilidade? Falso!

Em relação a esta questão, existe geralmente consenso. A pílula anticoncecional de emergência é muito segura, tem uma baixa dose hormonal e não prejudica a fertilidade futura.

No entanto, o seu uso não deve ser frequente porque a sua taxa de eficácia é menor, comparativamente com qualquer outro método anticoncecional de rotina.

O seu índice de efetividade situa-se, em média, entre os 75 e os 85 por cento.

Além disso, o seu uso repetitivo compromete a eficácia ao longo do tempo, não pelo suposto mecanismo de tolerância ao medicamento, como se pensa erradamente, mas, precisamente, porque a sua taxa de falha é maior do que qualquer outro método e, quantas mais vezes recorrer a ela, maior será a probabilidade de falhar.

4. Se já estiver grávida, pode causar anomalias no feto? Verdadeiro!

Não existem evidências epidemiológicas de que as mulheres expostas acidentalmente a anticoncecionais hormonais combinados, durante a fase inicial da gravidez, apresentem maior incidência de anomalias fetais. No caso de falha da pílula do dia seguinte, deve-se considerar que o tratamento é administrado, muito antes do início da fase do desenvolvimento fetal de maior vulnerabilidade. 

Duas regras essenciais:

- A pílula do dia seguinte deve ser administrada nos cinco dias que sucedem a relação sexual desprotegida (entre o quarto e o quinto dia, a sua taxa de falha é mais elevada) e, preferencialmente, em dose única.

- Só deve ser administrada em situações excecionais. Por falha do método em uso (rompimento do preservativo, deslocamento do diafragma, esquecimento prolongado do anticoncecional oral são as situações mais comuns) ou por razão de violência sexual. O seu uso frequente aumenta a taxa de falha.

Texto: Sofia Cardoso com Lisa Vicente (ginecologista-obstetra)