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Por Cláudia de Oliveira Pereira, Psicóloga Clínica
Está cada vez mais divulgada e acessível, mas a hipnose ainda é frequentemente vista nos dias de hoje como algo espetacular, mágico, perigoso até, com base na convicção de que a pessoa fica adormecida, inconsciente, à mercê da vontade do hipnotizador.
Ainda com muitas ideias erróneas e mitos associadas, a hipnose não é mais do que um estado alterado da consciência ou percepção, derivado do afunilamento da atenção – transe hipnótico – frequentemente (mas não necessariamente) com base num profundo e agradável relaxamento.
Reconhece aquela sensação de estar tão absorvido no que está a fazer que parece que tudo à volta “desapareceu”? Naturalmente, no nosso dia-a-dia são vários os momentos em que todos nós experienciamos algum tipo de estado ou transe hipnótico em que permitirmos à nossa mente vaguear ou “sonhar-acordada”.
Ficamos interiormente concentrados de tal forma que nos “desligamos” do que se passa no exterior: é o caso da condução em autoestrada, sem que tenhamos consciência do percurso realizado “em automático” ou o estar de tal forma absorto num livro ou mesmo em pensamentos, que não nos apercebemos de algo que está a acontecer ao nosso lado ou ainda aquele momento “vai/não vai” pouco antes do adormecer.
A hipnose refere-se a um estado alterado de consciência, que se atinge geralmente através da combinação da imaginação e da concentração da atenção e do desejo de envolvimento, disponibilizando-nos para imaginar determinadas situações e reagir-lhes emocionalmente, mesmo sabendo que não são reais (tal como nos emocionamos com um filme, representado num ecrã, se nos deixarmos envolver na sua história).
Também para vencer fobias
É um fenómeno natural, mas pode ser procurado, induzido, deixando-nos de facto susceptíveis à sugestão do indutor, se tivermos essa disponibilidade.
Em hipnoterapia este estado é induzido com uma finalidade terapêutica, de especial utilidade em modificações comportamentais desejadas, como deixar de fumar, para o controlo de peso, para gestão emocional e controlo da ansiedade, como no caso das fobias e pânico, em situações físicas de mal-estar e doença e controle de sintomas como a dor crónica ou ainda numa perspectiva de desenvolvimento pessoal e de fortalecimento do ego e autoconfiança.
Em ambiente de consultório, num contexto de confiança e confidencialidade, o transe hipnótico é induzido pelo terapeuta, levando a pessoa a uma concentração profunda no que está a ser dito, tornando-a assim recetiva às sugestões, desejadas e previamente acordadas em função do objetivo pretendido, sem no entanto perder o controlo da situação.
Isto pode ser feito com recurso a um conjunto de técnicas disponíveis, que incluem por exemplo a regressão de memória - recordação/revivência de experiências passadas - e a dissociação - que favorece a utilização do consciente enquanto observador objetivo da mente subconsciente.
Mas a sua utilização não está limitada ao gabinete e às sessões agendadas: com a ajuda do terapeuta poderá também aprender a fazer auto-hipnose - entrar sozinho nesse estado e a dar-se a si mesmo sugestões positivas, benéficas e desejáveis para si.
O que é a hipnoterapia?
A hipnoterapia é uma abordagem natural e segura, que facilita a identificação e ativação dos seus recursos internos, com a sua colaboração ativa. O terapeuta deve ser encarado como um facilitador, que poderá ajudá-lo no seu processo de mudança e de promoção do seu desenvolvimento e equilíbrio mas a resposta/solução está em si.Não é possível hipnotizar alguém contra a sua vontade.
A pessoa tem que querer ser hipnotizada. Se não se permitir envolver, se não aceitar participar e libertar a sua imaginação de forma a poder experienciar as sugestões, nada acontece!
Não vai dormir, apesar de poder parecer que sim. De facto, o seu corpo poderá ficar muito relaxado, muitas vezes imóvel, como se estivesse a dormir, mas a sua mente estará particularmente focada e ativa. A hipnose não é igual ao sono e não vai ficar inconsciente.
Há de facto uma alteração do estado de consciência: da consciência de vigília (estado de alerta para o que acontece à sua volta) para a consciência hipnótica (centrada no seu próprio interior). Mas terá a noção do que está a acontecer!
Não irá fazer ou dizer nada contra a sua vontade. Se por qualquer razão desejar sair do estado hipnótico, pode fazê-lo, simplesmente abrindo os olhos. Porque não há perda de consciência, estará no controle e ao despertar (termo que se refere ao regresso ao seu estado de consciência normal) recordará o que aconteceu durante a sessão.
No final da sessão irá despertar e poder continuar o seu dia. Se, porventura, houver alguma resistência/dificuldade em aceitar a sugestão para regressar do transe, basta esperar algum tempo que, naturalmente, o transe hipnótico acabará por dar lugar ao sono fisiológico e a pessoa acaba inevitavelmente por acordar.
Por Cláudia de Oliveira Pereira, Psicóloga Clínica
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