A resistência aos antibióticos constitui um tema primordial na saúde pública mundial. A dimensão desta ameaça foi recentemente documentada pela organização mundial de saúde em 2014 sobre resistência aos antibióticos.

O aumento das resistências é sobretudo preocupante para os bacilos Gram negativos (bactérias) tais como: Pseudomonas aeruginosa, Acinectobacter baumannii e Enterobacteriaceae (Escherichia coli, Klebsiella pneumonia etc) sendo estas últimas muito frequentes nas infeções associadas ao Homem. A prevalência da resistência aos antibióticos em microrganismos Gram negativos tem-se tornado um problema crescente nos cuidados de saúde por todo o mundo.

Os antibióticos pertencentes à classe dos carbapenemes (imipenem, meropenem etc) são antibióticos de última linha nas infeções causadas por este tipo de microrganismos.

O mecanismo de resistência mais frequente aos carbapenemes, nas Enterobacteriaceaes, consiste na produção de carbapenemases (enzimas capazes de destruir a molécula do antibiótico). Este tipo de resistência pode ser transferido entre enterobactérias e está associado a multi ou pan resistência, nomeadamente a outros antibióticos, tornando-as “super bactérias”. Estas bactérias são potencialmente responsáveis por surtos.

As carbapenemases são agrupadas segundo a sua estrutura molecular, em Classe A beta-lactamases; classe B beta-Lactamases (metalo-beta-lactamases); e classe D beta-Lactamases.

As carbapenemases da classe A, clinicamente mais importantes, pertencem ao grupo KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase). Estas enzimas conferem resistência a todos os beta lactâmicos. As KPC podem ser transmitidas da Klebsiella para outros géneros tais como E. coli, Pseudomonas aeruginosa, Citrobacter, Salmonella, Serratia entre outras.

O primeiro caso de KPC foi identificado em 1996 nos Estados Unidos. Em Portugal, o primeiro caso surgiu em 2009. Atualmente é referida em todo o mundo.
O surto infeccioso ocorrido no Centro Hospitalar de Gaia/Espinho deveu-se a uma bactéria Klebsiella pneumoniae produtora de KPC.

Fatores de risco

Estão identificados alguns factores de risco associados a infecções ou colonizações por estes microrganismos: uso de antibióticos de largo espectro (cefalosporinas) e/ou carbapenemes; trauma; diabetes; neoplasias; transplante de órgãos, ventilação mecânica, cateter venoso ou urinário, doença severa e mau estado geral.

Quais são os aspetos clínicos?

As infeções associadas a bactérias resistentes aos carbapenemes incluem infeções do aparelho urinário (a grande maioria), peritonite, septicemia, infeções pulmonares, infeções dos tecidos moles e infeções associadas a cateteres. Não está descrita prevalência por género e a maioria dos casos ocorre em adultos.

Têm sido descritas quer infeções hospitalares quer infeções adquiridas na comunidade.

Qual o tratamento?

Atualmente não existe consenso sobre o regime terapêutico ótimo a instituir neste tipo de infeção, e as opções antibióticas são limitadas. A avaliação dos doentes com infeções causadas por microrganismos produtores de carbapenemases deve ser efetuada com um infecciologista experiente em bactérias multirresistentes.

Devem ser tomadas medidas de contenção nos doentes hospitalizados ou colonizados e medidas gerais para o controlo de infeção, tais como, higienização das mãos e uma política antimicrobiana.

Como se detetam?

A deteção é efetuada recorrendo a testes laboratoriais, tais como:

  • Espectrometria de massa;
  • Deteção colorimétrica por alteração do pH;
  • Testes imunocromatográficos

A deteção da atividade da carbapenemase é efetuada, nos laboratórios de microbiologia, a partir do isolamento da bactéria em meios de cultura e baseada na análise dos resultados da sensibilidade aos antibióticos.

A caracterização genética das carbapenemases é realizada por técnicas de biologia molecular.

Controlo de infeção e prevenção

Devem ser tomadas medidas de precaução de contactos, nos doentes hospitalizados e infetados ou colonizados com bactérias produtoras de carbapenemases.

Devem ser, igualmente, tomadas todas as medidas standard para controlo de infeção, higienização das mãos, seguir uma política de antibioterapia.

Por Germano de Sousa, Médico Especialista em Patologia Clínica

Germano de Sousa, Médico Especialista em Patologia Clínica