É mais comum do que se pensa. Muitas mulheres deixam de ter a menstruação (deixam de produzir óvulos e perdem fertilidade) prematuramente, isto é, anos antes de concluírem o que deveria ser uma fase mais longa, o período fértil. Se é o seu caso, partilhamos consigo tudo o que deve saber e fazer!

A menopausa precoce é uma perturbação cujas causas não são ainda totalmente conhecidas.

Contudo, alguns factores parecem contribuir para esta situação, como é o caso das infecções, o factor genético e o sistema imunológico. As razões apontadas são várias e nem sempre óbvias, e assim pode acontecer que a mulher deixe de ovular prematuramente porque foi submetida a uma intervenção cirúrgica, a um quisto nos ovários, por exemplo.

Mas, por vezes, as mulheres perdem a sua menstruação de forma espontânea e inesperada. O processo físico da menopausa prolonga-se geralmente por dois a três anos e está associado a muitos factores psicológicos (perimenopausa), por vezes, de maior impacto do que as próprias alterações e perturbações físicas.

1 – O que é a menopausa precoce?

Deixar de ter a menstruação antes do tempo, com uma diminuição da produção de estrogénios, a hormona responsável pela função reprodutora da mulher. Segundo definição medica, é considerada menopausa precoce quando acontece antes dos quarenta anos de idade.

No entanto, alguns especialistas defendem que esta definição é antiquada já que a idade normal da menopausa é entre os 45 e os 55 anos. Logo, se surgir dois anos antes mais cedo, aos 43 anos, já existem consequências importantes às quais se deve tomar atenção.

2 – Em que é que se diferencia da menopausa normal?

Os sintomas são praticamente os mesmos, mas têm um impacto maior porque acontecem mais cedo. Como se deixa de produzir estrogénios na quantidade habitual, causa uma atrofia uro-genital, envelhecimento cutâneo, perda da massa óssea (osteoporose), deterioração vascular e sintomas como os afrontamentos, sudação nocturna, entre outros.

Este quadro numa paciente ainda jovem tem efeitos físicos e psicológicos mais intensos.

Se este panorama de deterioração acontece muito antes da menopausa natural, também impossibilita a reprodução, porque a mulher deixa de ovular.

3 – Por que acontece?

A sua origem é, ainda, desconhecida. Uma infecção viral ou bacteriana, a radioterapia ou quimioterapia, podem destruir os ovários.

No entanto, já se sabe que a menopausa prematura tem um componente genético, porque tende a aparecer em famílias em que já existem três ou mais casos. São também conhecidas causas do tipo imunológico.

4 – É irreversível?

Embora na maioria das vezes seja irreversível, há casos de menopausa precoce transitória em mulheres na casa dos trinta anos, sem filhos, que deixam de ter menstruação e a quem é confirmada a menopausa precoce e, no entanto, ao fim de três a cinco anos voltam a ser menstruadas ou ficam grávidas.

5 – Quais são os sintomas mais habituais?

Os mesmos da menopausa natural, mas mais intensos, talvez pela fase em que acontecem, e com maiores efeito.

Esta situação justifica-se já que se trata de uma mulher mais jovem e psicologicamente despreparada que tem de assumir graves alterações consequentes da privação hormonal muito antes do que era suposto.

Além de que, na maioria das vezes, esta menopausa é provocada pela destruição ou bloqueio massivo da actividades dos ovários, pelo que as hormonas desaparecem rapidamente.

6 – Quando se deve ir ao médico?

Quando se deixa de ter a menstruação, muitas mulheres jovens pensam que estão grávidas porque se esqueceram de tomar o anticonceptivo. A sensação de afrontamento, só por si, não é indicativa de menopausa porque as grávidas também a podem ter.

O mais comum é ocorrer alteração menstrual e simultaneamente outros sintomas da menopausa. Quando estes sintomas surgem antes da idade prevista é recomendável consultar um especialista.

7 – Como se diagnostica?

Uma vez que o médico descarte a gravidez, confirma-se ou  reconfirma-se a menopausa precoce através de análises hormonais ou de um teste com progestativo, que deve estabelecer dois valores indicativos.

Se os níveis de estradiol, a principal hormona de estrogénio, estão muito baixos, e se os da hormona hipófisaria são demasiado altos.

Perante estes resultados confirma-se a menopausa precoce, devendo também ser considerados os valores da prolactina e da função tiroideia.

8 – Que factores internos ou externos têm influência?

A principal causa serão os factores genéticos. Também há estudos que indicam que o tabaco acelera a destruição dos óvulos do ovário.

As mulheres extremamente magras e as que padecem de algum acidente vascular e mulheres que tenham feito rádio ou quimioterapia correm riscos acrescidos.

9 – Impede de ter filhos?

Dado o avanço da ciência, e apesar da menopausa, uma mulher na menopausa pode ter descendência,  submetendo-se a uma fertilização in vitro, com óvulos doados por outra mulher. A Medicina já é capaz de criar e manter um ambiente hormonal propicio a favorecer a gravidez.

10 – Como actuar perante o diagnóstico confirmado?

Hoje em dia a Medicina pode manter uma mulher exactamente igual, ou eventualmente melhor, com os tratamentos disponíveis, que são actualmente muito eficazes e de resultados muito positivos.

É muito importante o factor psicológico, a mulher deve mentalizar-se e estar certa da sua feminilidade e do seu valor. Também deve manter a sua medicação diária ou semanal.

11 – Como saber se está a ser bem seguida?

Se sente melhorias na sua qualidade de vida, dorme bem, se desaparece a atrofia uro-genital e a falta de ar, é porque o tratamento está a ser eficaz.

12 – Que informações deve levar ao médico?

É essencial ter claros os sintomas (afrontamentos ou suores; alterações do sono; falta de energia; necessidade de urinar com mais frequência; diminuição da lubrificação vaginal) e as características da menstruação (há quanto tempo lhe falta, flutuações...).

Outra ajuda é apurar a idade com que as suas antecedentes (mãe, avó e tias) entraram na menopausa.

13 – Como colaborar com o médico?

Expondo todas as suas dúvidas e prestando atenção às recomendações. Alem do mais, é decisivo cumprir o tratamento prescrito por um largo período de tempo, que pode ser de anos.

Para tal, é necessário que esclareça todas as suas duvidas e receios que possam surgir nesse período, até para que não se venha a arrepender e interromper a medicação antes de chegar aos 50 anos.

14 – Que precauções e instruções se deve seguir?

No início, três meses após o começo da medicação com a terapia hormonal de substituição, pode ser necessário ajustar a dose caso não se obtenham os efeitos desejados ou ausência dos sintomas, porque nem sempre se acerta à primeira.

Depois, deverá consultar o seu ginecologista a cada seis meses, para vigilância e acerto da dose.

Posteriormente, é suficiente uma visita anual para realizar um check-up geral, análises de sangue e uma ecografia vaginal.

A frequência com que deve fazer a mamografia é a mesma para todas as mulheres: uma a cada dois anos a partir dos 40 anos.

15 – O que deve evitar?

Sobretudo desvalorizar-se ou achar que a menopausa precoce é responsável por outras coisas não lhe correrem bem, para as quais deve consultar um psicólogo ou sexólogo. Também não deve sentir fazer parte das menopáusicas, uma ideia errada que acontece pela medicação que toma.


16 – São úteis as associações de pacientes e fóruns na Internet?

Sim, porque são espaços onde se fala abertamente e se presta apoio mutuamente. A partilha e a identificação ajuda a ultrapassar muitos dos problemas que surgem, pois muitos são do foro psicológico.

É muito importante haver sítios onde se pode partilhar duvidas e receios, sobre feminilidade, sexualidade, entre outros, e descobrir que outras mulheres sentem o mesmo ou já sentiram e superaram, isso melhora sem duvida o relacionamento com os outros e a atitude perante esta perturbação.

O impacto... sexual

As consequências (físicas e psicológicas) da menopausa precoce são várias, nomeadamente na vida sexual.

De acordo com Mário de Sousa, ginecologista e presidente da Sociedade Portuguesa da Menopausa, "devido à privação hormonal, que causa uma diminuição de estrogénios e baixa de testosterona, a menopausa precoce vai necessariamente ter reflexos ao nível do desejo e resposta sexual, diminuição da libido, dor na relação e atraso na resposta».

«Estes factores podem ser normalizados com a terapia hormonal adequada, garante o especialista.

Para além disso, a queda brusca dos estrogénios causa outros problemas que variam ao longo do tempo:

  • Inicialmente, a mulher tem afrontamentos, sudação, insónia, cansaço generalizado, mudanças de humor, irritabilidade e estados semi-depressivos.
  • Passados alguns anos, surge uma diminuição da lubrificação vaginal, bucal e ocular. A pele torna-se mais fina, quebradiça e seca.
  • Ao fim de cinco anos, surgem sintomas nos ossos, neste fase houve uma perda anual de 3-4% da massa óssea, e no sistema cardiovascular, porque o colesterol tende a ficar mais alto, e com ele também a tensão arterial. 

Terapia hormonal de substituição: o tratamento

O tratamento consiste em manter estáveis os níveis hormonais, principalmente de estrogénios, os quais ajudam a evitar problemas de ossos (sobretudo a osteoporose), cardiovasculares, afrontamentos e também a manter a lubrificação vaginal.

Esta terapia hormonal de substituição é administrada em comprimidos, adesivos ou em gel.

Na menopausa precoce, não se colocam as mesmas dúvidas que geralmente as pacientes têm quanto à medicação com a THS (terapia hormonal de substituição), que se referem exclusivamente à menopausa natural.

Na opinião de Mário de Sousa, a TH deve ser iniciada logo que diagnosticada a menopausa precoce. "desde que não existam contra-indicações e a mulher a aceite, deve ser continuada até a idade da menopausa natural e ai reavaliada a necessidade de a manter", refere.

Os referidos tratamentos têm como único objectivo a eliminação dos sintomas (afrontamentos, suores, irritabilidade, disfunções sexuais) e, assim, contribuir para a melhoria da qualidade de vida.

A qualidade de vida será, nesta fase, igual à de uma mulher na menopausa, e o risco de sofrer de cancro de mama é o mesmo ou talvez até um pouco menor do que seria caso tivesse continuado a ter produção de estrogénios de forma natural.

Exercício físico: é necessário!

Sem estrogénios há uma tendência para aumentar de peso e sofrer perturbações articulares.

Para o evitar, deve seguir um programa de exercícios. Tome nota destes três:

Aeróbio: Melhora a capacidade cardiovascular. Mantém activos o seu coração e pulmões. Os mais eficazes são: correr e andar (pelo menos 30 minutos seguidos), bicicleta, nadar, entre outros.

Anaeróbio: Exercícios com pesos que melhoram eficazmente músculos menos usados ou esquecidos.

Alongamentos: Ajudam a preservar a flexibilidade dos ligamentos e articulações.
Os últimos estudos indicam que o ideal é praticar exercício durante uma hora por dia, alternando entre os aqui sugeridos.

A alimentação adequada

A alimentação que deve acompanhar o tratamento assenta em quatro pilares:

- Controle o seu peso. Evite engordar, reduzindo o consumo de calorias e gorduras, moderando os hidratos de carbono e aumentando o consumo de proteínas.

- Aumente o cálcio. Com a falta de estrogénio, o organismo tem dificuldade na absorção deste mineral, pelo que deve reforçar a ingestão de alimentos que o forneçam: leite e derivados. 

- Coma mais vegetais. Para evitar a obstipação, mais comum nesta fase, é importante comer legumes, cereais e massas integrais, verduras e frutas, de forma equilibrada na sua dieta.

Texto: Marta Gonzaga
Revisão científica: Dr. Mário de Sousa (ginecologista e presidente da Sociedade Portuguesa da Menopausa)