Uma perturbação do sono pode ter origem em causas de natureza tão diversa como um problema do sistema respiratório ou uma lesão cerebral.

Por isso, longe de ser monopólio de uma área específica da medicina, o sono é objecto de estudo de especialidades médicas como otorrinolaringologia, psicologia, psiquiatria e neurologia.

O neurologista Ângelo Soares apresenta as diferentes etapas de uma consulta da sua especialidade e dá-lhe indicações práticas para saber que médico deve procurar.

Os problemas do sono são mais comuns hoje em dia?

Durante muitos séculos não se pensou em problemas do sono. A partir dos anos 50 do século XX, alguns investigadores começaram a estranhar que alguém mexesse os olhos enquanto dormia profundamente ou que se levantasse durante a noite para comer, e começaram a analisar o que acontecia. A partir daí, começou a ser reconhecido que o sono pode traduzir problemas de saúde e as pessoas começaram a estar atentas ao que se passa com elas e a queixar-se.

É previsível que as pessoas sofram cada vez mais de patologias do sono?

Com a evolução dos padrões de vida actuais e até da conjuntura económico-financeira, é natural que se agrave a ansiedade e os estados de stress, que têm efeitos nefastos sobre o sono e a saúde em geral. Por outro lado, é também natural que de futuro surjam novos medicamentos e ideias para mais eficazes possibilidades de tratamento, não só para a ansiedade como também para as perturbações do sono. 

Em que situações se deve procurar um médico?

É muito difícil dizer. As queixas são motivos para ir ao médico sempre que forem persistentes, o que implica estar-se atento e não ignorar sintomas como por exemplo dormir mal sempre e sem causa aparente.

Se uma pessoa tem insónias porque anda preocupada ou nervosa com uma questão que quer resolver e não consegue, tem justificação para as ter.

Quais as especialidades médicas envolvidas no estudo do sono?

Em princípio, o estudo do sono começa por ser realizado por um clínico geral, um médico de família ou médico assistente. Perante as queixas e a sensibilidade do médico, pode pedir-se logo uma ressonância magnética, se for caso disso. Esse médico generalista pode encaminhar o paciente para um neurologista ou para um otorrinolaringologista, conforme suspeite de um problema neuro-comportamental ou do foro otorrinolaringológico. Aliás, um doente pode ser acompanhado por vários especialistas de forma complementar e interligada.

O que acontece numa consulta de neurologia?

Primeiro faz-se um inquérito, chamado anamnese, em que se traça a história da doença. De seguida, é feito um exame neurológico muito complexo e minucioso, examinando-se os reflexos, as sensibilidades superficial e profunda e fundoscopia (exame ao fundo do olho). Mede-se a tensão arterial, o pulso, temperatura e peso corporal. A etapa seguinte é uma entrevista de avaliação neuro-psicológica. Finalmente, são conjugados os dados recolhidos nestas três fases e avaliada a necessidade de exames subsidiários, como electroencefalograma, TAC, ressonância magnética e/ou análises de rotina. Após esta primeira consulta, o doente pode ser medicado provisoriamente para, depois dos resultados dos exames, se ajustar a medicação.

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Texto: Rita Miguel com Ângelo Soares (neurologista)