A minha história começa quando tinha 13 anos, quando um primo meu se suicidou. Uma onda de choque embateu em tudo quilo em que acreditava. Exprimia a minha revolta através da escrita, mas nem isso chegava para acalmar uma ferida aberta.

Comecei a faltar às aulas, isolei-me do mundo, deixei de comer, tudo como forma de auto-punição.

Cheguei aos 15 anos anoréctica e entrei numa relação secreta com uma pessoa muito mais velha que abusou de mim física e psicologicamente. Sentia-me um fardo para todos. Deixara há muito de partilhar as minhas emoções com a família e, não tendo amigos, vi-me sozinha no precipício do mundo. Ao tentar acabar a relação, percebi que só sairia dela morta, tal era a dependência e a possessão da pessoa com quem eu estava. Comecei a pensar em suicídio e várias tentativas seguiram-se.

No hospital, encaminharam-me para os serviços de Psiquiatria, onde me afoguei em antidepressivos e calmantes fortíssimos. Desses tempos, não tenho uma única memória, tudo me foi levado pelos comprimidos que tomara. Depois, comecei a procurar a comida como forma de apoio emocional até um dia perceber que sofria de hipertensão e que o meu colesterol estava a 220.

Sofria de um cansaço crónico extremo que me impossibilitava de sair da cama. Era invadida por um sono que durava dia e noite. A maior parte do que comia vomitava e foram imensas vezes que passei a noite nas urgências do hospital para sair de lá sem respostas. Tendo reprovado o ano, não entrei na faculdade.

Os meus pais decidiram fazer-me um check-up e descobri que era celíaca, que tinha intolerância á lactose, além da alergia à carne, ao ovo e ao milho. Modifiquei radicalmente a minha alimentação e entrei na faculdade no ano seguinte, numa cidade nova, longe da família e reparei que algo de errado se passava. Perdia a memória, sentia-me exausta, era-me complicado dormir menos que 12 horas e reprovei o ano.

Ao fazer análises, foi-me diagnosticada anemia por falta de vitamina B12. Aí, iniciei as minhas pesquisas na área da alimentação saudável. Hoje acredito que uma boa alimentação é o pilar estrutural da nossa vida e de todas as gerações que hão-de vir. Nestas férias, descobri como cozinhar de forma alternativa e, desde então, cozinhar revelou-se uma paixão na minha vida.

Criei um blog de alimentação saudável (www.acozinhadaruiva.blogspot.com) e esforço-me por ensinar a toda a gente a melhorar a sua alimentação e a ter uma atitude activa na procura de informação. Não precisamos ser todos vegetarianos, apenas precisamos de ser conscientes e regrados. A anarquia alimentar mina os dias da nossa sociedade e o valor dos alimentos perde-se.

Hoje, sei que uma alimentação consciente é um seguro de saúde. Podia ter-me perdido para sempre mas, ao
perder-me no caminho, encontrei-me mais nitidamente do que nunca. Durante todos estes anos, carreguei uma estranha nos pés, mas hoje sei quem carrego e tenho orgulho, um incomensurável orgulho em mim. Alimente-se com consciência, respeite o que come, agradeça os alimentos e seja feliz por toda a vida.

Este testemunho é um dos relatos concorrentes ao Passatempo O leitor mais saudável do ano. Para saber quem ganhou, clique aqui.