A epilepsia «é uma afecção que se caracteriza pela repetição espontânea de crises epilépticas – que são a manifestação clínica de uma descarga anómala de um grupo ou a totalidade dos neurónios cerebrais», explica João Chaves, neurologista e especialista em epilepsia no Hospital de Stº António, no Porto.

«As crises epilépticas podem, por isso, ter manifestações variadas, dependendo da área cerebral atingida: sintomas motores, sensitivos, visuais, psíquicos, alterações da linguagem, etc. São geralmente de curta duração (menos de 2 minutos) e estereotipadas (os sintomas são iguais nas diferentes crises)», refere o especialista.

Há vários tipos de epilepsia ?

«Sim. As epilepsias podem ser focais se apenas uma área do cérebro está atingida ou podem ser generalizadas quando todo o cérebro está envolvido na crise epiléptica. A determinação do tipo de epilepsia pelo médico é útil, pois permite estabelecer a estratégia terapêutica mais adequada a cada caso».

Como se diagnostica?

De acordo com o neurologista, «o diagnóstico é clínico: o doente conta o que sente ou uma testemunha (familiares, colegas, etc.) descrevem os episódios. Por vezes, é muito útil para o médico a filmagem (por exemplo, com telemóvel). Os exames auxiliares de diagnóstico (eletroencefalograma, tomografia cerebral e ressonância cerebral) podem ajudar a apoiar o diagnóstico».

Quais são as causas?

«Todas as doenças que afectam o sistema nervoso central podem levar ao aparecimento de epilepsia: acidente vascular cerebral, meningites, traumatismos crânio-encefálicos, anóxia de parto, malformações do desenvolvimento cerebral, tumores, malformações arterio-venosas, etc.».

O que se deve fazer perante uma crise?

«Se a crise for uma convulsão (crise tónico-clónica generalizada),
deve-se deitar o doente, virá-lo de lado, proteger a cabeça, evitando um
possível traumatismo craniano resultante da fricção dos movimentos
convulsivos do corpo com o solo. Não se deve pôr nada na língua ou na
cavidade oral. Se a crise for focal e envolver parcialmente a
consciência, deve vigiar-se o doente até que a crise passe e prevenir
possíveis quedas. Não se deve demover ou agarrar o doente pois, neste
tipo de crises, está confuso e pode não cooperar».

Quem afecta?

«A incidência em Portugal é de cerca de 50 por 100 000 habitantes
por ano, ligeiramente maior no homem. Existe maior incidência nos
primeiros anos de vida até à vida adulta e depois dos 65 anos».

Como tratar?

«Cerca de dois terços dos doentes com epilepsia são controlados com
fármacos anti-epilépticos. Um grupo restrito (menos de cinco por cento)
pode ter solução cirúrgica».

Pode ser uma doença mortal ?

«Existe uma mortalidade associada às consequências das crises:
pode-se morrer de afogamento, queda, queimadura, etc. Mas durante uma
crise o risco de morte súbita é diminuto».

O que pode (ou não) fazer um doente com epilepsia ?

«Deve ser promovida uma vida o mais autónoma e adaptada possível do
doente com epilepsia. Se tiver a doença controlada, não haverá
quaisquer restrições, excepto evitar o álcool e adoptar hábitos regrados
de sono. Se a epilepsia não estiver controlada, o doente deve evitar
situações que o coloquem em risco se tiver crises: não tomar banho de
imersão, não subir para alturas desprotegidas, não conduzir...», conclui
o especialista.

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Texto: Ana Mendonça da Fonseca com João Chaves (neurologista e especialista em epilepsia)