As doenças inflamatórias autoimunes limitam o dia a dia dos doentes impedindo-os de ter uma vida considerada normal. Para melhorar o seu tratamento foi criada a Plataforma Mais Saúde. Saiba de que forma pretende ser um parceiro ativo na promoção da saúde.

Sabia que, de acordo com um estudo da Universidade de Lund, na Suécia, um doente com artrite reumatoide tem três vezes mais possibilidade de ser tratado com  terapêuticas inovadoras em Espanha que em Portugal?

Defender o direito ao diagnóstico precoce e o pleno acesso à inovação terapêutica são os objetivos da Plataforma Mais Saúde, uma iniciativa de quatro associações de doentes com patologias inflamatórias autoimunes
(ANDAR - Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatoide, ANEA - Associação Nacional de Espondilite Anquilosante, APDI - Associação Portuguesa de Doença Inflamatória do Intestino e PSOPortugal - Associação Portuguesa da Psoríase).

Perante uma pressão cada vez mais forte no sentido de controlar as despesas na saúde, este grupo de associações, que representam cerca de 400 mil doentes, irão desenvolver esforços para que o seu tratamento em Portugal seja feito «em linha com práticas europeias, contribuindo para uma melhoria significativa da qualidade de vida», defende Arsisete Saraiva, presidente da ANDAR e porta-voz da plataforma.  «Vamos acompanhar muito de perto a situação dos doentes portugueses, exigindo que sejam cumpridas as disposições legais que estão em vigor e denunciando sempre que estas venham a ser violadas», acrescenta.

Importância de um diagnóstico precoce

As doenças inflamatórias autoimunes resultam de uma disfunção do sistema imunitário que começa a atacar o próprio organismo, nas quais se incluem a artrite reumatóide, a espondilite anquilosante, a psoríase e a doença inflamatória do intestino.

Apesar dos órgãos atingidos por cada uma delas ser diferente, todas têm em comum o fato de causarem um impacto muito significativo na vida dos doentes, devido à sua cronicidade, provocando danos irreversíveis.

Os custos para o Serviço Nacional de Saúde e para a sociedade são extremamente elevados, devido à necessidade frequente de hospitalizações, aos cuidados de saúde especializados e aos elevados índices de redução de produtividade (sem contar com a presença da dor crónica, a incapacidade e o impacto psicológico da doença, impossíveis de medir).

O momento em que os doentes começam a ser tratados é, por isso, muito importante. Um diagnóstico precoce associado a uma intervenção clínica atempada, permite controlar de forma mais eficaz a progressão da doença e, assim, contribuir para uma melhoria da qualidade de vida.

O contributo das terapêuticas inovadoras

A intervenção terapêutica precoce bem como o uso de medicamentos com maior eficácia, tanto no tratamento sintomático como no controlo da progressão da doença, são fundamentais e contribuem para a melhoria da sua evolução clínica. De acordo com Arsisete Saraiva, «estes fatores influenciam, de forma significativa, a produtividade dos doentes e o regresso à vida ativa, diminuindo os custos do Estado associados ao absentismo, às baixas por doença e às reformas por invalidez».

Embora o acesso aos medicamentos inovadores esteja consagrado em diversas disposições legais em vigor, «quando comparamos os portugueses com outros cidadãos da União Europeia, ainda existem barreiras no acesso à inovação terapêutica, nomeadamente no que respeita ao incumprimento do Despacho Governamental, por parte de algumas administrações hospitalares», refere a porta-voz da plataforma, que pretende minimizar estes entraves.

A intervenção é aplaudida pelas associações dos doentes, habituadas a lidar com dificuldades como «os atrasos no diagnóstico e no início de terapêuticas, bem como na referenciação para a consulta de especialidade», como aponta Justino Romão,  presidente da ANEA. Para além disso, segundo Luís Cunha Miranda, reumatologista, «existe uma clara discriminação por parte do poder político e dos legisladores » em relação a estas doenças, quando comparadas com outras, em particular no que diz respeito ao acesso às  terapêuticas mais inovadoras (biológicas).

«Enquanto para os doentes neurológicos ou oncológicos existe um acesso sem restrições, no caso dos doentes reumáticos, apenas quatro dos oito biológicos têm um acesso mais facilitado, sendo que os outros quatro foram altamente restringidos sem critério (clínico, económico ou outro). A prescrição médica não pode, especialmente nestes medicamentos, ser uma escolha administrativa e desprovida de senso clínico», sublinhou ainda o mesmo especialista.

Texto: Cláudia Vale da Silva com Arsisete Saraiva (presidente da ANDAR), Justino Romão (presidente da ANEA) e Luís Cunha Miranda (reumatologista)