Esta doença caracteriza-se pela diminuição do fluxo sanguíneo nas extremidades, e pode, na pior das hipóteses, levar à amputação dos membros inferiores ou mesmo à morte por enfarte do miocárdio. É um importante marcador de risco cardiovascular global, não constituindo apenas risco para os membros inferiores.

A maior parte dos doentes com esta patologia morre com um enfarte agudo do miocárdio (EAM) ou um acidente vascular cerebral, também denominado AVC.

A doença arterial periférica (DAP) afeta 3 a 10% da população com mais de 50 anos e caracteriza-se pela diminuição do fluxo sanguí­neo nos membros superiores e inferiores, particularmente nestes últimos, devido lesões na parede das artérias causadas pela acumulação de placas de colesterol e de outras gorduras, que vão diminuindo o calibre das mesmas, dificultando a passagem do sangue e a chegada de oxigénio aos músculos.

Quais são os fatores de risco?

Os fatores que mais influenciam o aparecimento da DAP são o tabagismo e a diabetes, mas existem outras causas que a podem despole­tar, entre elas:

- Tensão arterial elevada

- Alimentação desequilibrada e incorrecta (consumo excessivo de sal, gorduras e açúcar)

- Aumento dos níveis de gordura no sangue

- Sedentarismo
- Excesso de peso

Sintomas

«Um dos principais sintomas a afectar os indivíduos com Doença Arterial Periférica é o aparecimento de dor nas pernas (face poste­rior) durante a marcha. Esta dor é agravada com a subida em plano inclinado. À medida que a doença evolui, pode manifestar-se mesmo em momentos de repouso», explica Joaquim Barbosa, presidente da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular

Outros sintomas característicos da doença são:

- Falta de pulso detetável abaixo de determinada localização dos membros inferiores

- Pele seca e descamativa
- Temperatura fria

- Falta de sensibilidade dos pés

- Crescimen­to defeituoso das unhas
- Rarefação dos pelos

Como se diagnostica?

O diagnóstico tardio da DAP pode ter algumas consequências graves para o paciente, entre elas, a amputação dos membros inferiores, o EMA e o AVC.

Portanto,  é imprescindível estar atenta aos sintomas de modo a que o médico possa detetá-la atempadamente.

A forma mais simples de diagnos­ticar a DAP é através de um estudo ultra-sonográfico, nomeadamente através da comparação da pressão arterial do braço e a do tornozelo (o chamado índice tornozelo-braço).

Em indivíduos sem doença arterial, este índice deverá ser de 1.0 ou superior a 1.0. A diminuição deste valor representa um agravamento da isquémia. O diagnóstico é posteriormente possível através de um ecodoppler vascular, onde são utilizados ultra-sons para examinar o fluxo san­guíneo dos vasos e localizar os seus níveis de obstrução, ou de uma an­giografia.

Esta consiste na injeção de uma solução opaca aos raios X, na artéria, e que permite verificar a velocidade do fluxo sanguíneo, o diâmetro da artéria obstruída e a sua localização anatómica precisa.

Tratamento

Caso seja diagnosticada com DAP, a primeira coisa que deve fazer é implementar um novo hábito no seu quotidiano. O exercício físico. A atividade física é fundamental para melhorar a função muscular e, desta forma, aumentar o calibre dos vasos sanguíneos não ocluídos. Caminhadas diárias de cerca de 30 a 60 minutos em terreno plano são o suficiente.

Também é importante corrigir os fatores de risco existentes, como deixar de fumar ou melhorar a qualidade das refeições, suprimindo os alimentos gordos ou demasiado açucarados e privilegiando a inges­tão de frutas e legumes. Segundo explica Joaquim Barbosa, «a terapêutica cirúrgica pode ser efectuada de forma convencional, com recurso a múltiplas técnicas, desde a simples angioplastia (alar­gamento do diâmetro da artéria), passando pelo contorno da lesão (bypass) ou resseção da zona obs­truída e substituição por enxerto ou por procedimentos endovasculares».

Estes visam, igualmente, a dilatação da artéria com ou sem colocação de stents, de forma minimamente invasiva. Muito se espera ainda do desenvolvimento desta área especí­fica da revascularização arterial, em todos os setores anatómicos. Contudo, não esqueçamos que a melhor forma de combater esta doença (aterosclerose obstrutiva), responsável pela maior causa de morte em Portugal é, de facto, a sua prevenção.

Como procurar informação em Portugal

Até há muito pouco tempo, as autoridades portuguesas não disponham de informação estatística sobre a doença.

A ausência de informação relacionada com a doença arterial periférica em Portugal fez com que se realizasse, desde fevereiro de 2008 e pela primeira vez no nosso país, um estudo epidemiológico da DAP.

A iniciativa, levada a cabo pela Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular (SPACV), teve como objetivo criar o primeiro Registo Nacional desta patologia silenciosa.

O desenvolvimento de estruturas de apoio de norte a sul do país de modo a implementar uma campanha de rastreios que permita conhecer com precisão a realidade portuguesa no que diz respeito à DAP foi outra das pretensões. Os dados, que ainda não são conhecidos, serão determinantes para conseguir uma melhoria dos cuidados de saúde prestados aos doentes, bem como uma maior prevenção da doença.

Texto: Madalena Alçada Baptista
Revisão científica: Joaquim Barbosa (presidente da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular)