Sónia Tomás, de 38 anos, viu-se inesperadamente vítima de tuberculose, uma doença que pensava já não existir, mas que não tem qualquer problema em assumir que sofreu.

A descoberta de que tinha tuberculose aconteceu em Novembro de 2006 e de uma forma totalmente inesperada. "Comecei por sentir uma dor nas costas e depois no peito que pensava ser uma pontada de ar.

Fui ao hospital (S. José, em Lisboa), fizeram-me um raio-x e mandaram-me para casa com o diagnóstico de princípio de pneumonia", conta.

"Só que, passada uma semana, a medicação não fazia efeito: a dor no peito estava mais forte, sentia cada vez mais dificuldade em respirar, principalmente quando me deitava, sentia-me sem forças (já quase não conseguia andar) e fiquei com uma tosse como nunca tinha tido na vida", revela.

Foi então que Sónia Tomás deu novamente entrada no hospital e foi internada. Causa: infecção respiratória. Passados dois dias e após análise à expectoração foi-lhe diagnosticada tuberculose.

A doença que pensava já não existir

"Foi um choque. Chorei muito. Era uma doença que eu pensava que já nem existia, por isso nunca suspeitei. Nos últimos meses realmente andava sempre constipada, mas como tenho sinusite, pensei que era a sinusite que me estava a atacar em força", desabafa.

"Para além disso, trabalhava no Bingo do Sporting e, lá, tomava a vacina da gripe todos os anos e, de seis em seis meses, fazia exames de check-up (com raio-x, provas de esforço...), e nunca me detectaram nada, estava sempre impecável", confessa.

"O último rastreio que fiz foi em Fevereiro de 2005, quando fui trabalhar para o Bingo do Oriente (onde não eram pedidos exames médicos). Por acaso, na altura, andava a fazer análises com a minha médica e estava tudo bem; ainda não tinha chegado à parte dos pulmões", afirma.

Presa fácil para o bacilo de Koch

Com a mudança de emprego e de horários (começou a trabalhar à noite), o estilo de vida de Sónia ressentiu-se, debilitando-lhe o organismo. "Andava muito stressada, a trabalhar muito e comecei a ter uma alimentação muito menos equilibrada (não tomava o pequeno-almoço, almoçava/jantava às seis da tarde)", explica.

"Também perdi algum peso, mas pensava que era devido ao stress, porque quando me enervo perco o apetite", desabafa.

Resultado, o organismo foi-se debilitando e perdendo defesas, tornando-se presa fácil para o bacilo de Koch, causador de tuberculose. "Esta doença tem um período de incubação e, se calhar até já tinha apanhado o bacilo há mais tempo, mas só então, por estar mais fraca, é que se manifestou", sublinha.

Boa reacção ao tratamento

Após o diagnóstico de tuberculose, Sónia Tomás foi transferida para o hospital Curry e Cabral, onde ficou cinco dias em isolamento, e começou a tomar a medicação para combater a doença: um cocktail de cerca de 10 comprimidos por dia.

"Veio logo um psicólogo falar comigo e os médicos explicaram-me que a tuberculose tem cura, que o contágio é feito através da respiração e em recintos fechados", conta.

"Por isso, quando voltasse para casa, não precisava de desinfectar nada, não havia perigo de contagiar a minha mãe nem os meus filhos (com quem vive), e podia estar com os meus amigos", lamenta.

As informações descansaram-na e deram-lhe forças para enfrentar os dias de internamento. "O organismo reagiu bem ao tratamento e como já não precisava de estar isolamento, mandaram-me para o Pulido Valente, que é um hospital com um regime mais aberto. Nem precisei de ficar internada os 30 a 40 dias de que me falaram inicialmente. Ao fim de 17 dias estava a ter alta", refere.

O cuidado com os outros

Um dos maiores receios de Sónia, a par do seu próprio estado de saúde, era a possibilidade de ter contagiado alguém sem saber.

"A minha preocupação foi a minha família, amigos e colegas de trabalho, porque tinha estado em contacto com eles sem saber que tinha tuberculose. Comuniquei logo para o meu emprego a recomendar que fizessem testes. Felizmente, não contaminei ninguém, os testes deram negativo", diz.

A abertura com que Sónia falou sobre a tuberculose e explicou à família e amigos o que era a doença e como se transmitia afastou o eventual receio decorrente da falta de informação.

"Expliquei-lhes o que se estava a passar, cheguei a dar-lhes panfletos sobre a tuberculose porque não tinham bem noção do tipo de doença que é e que qualquer pessoa pode apanhar. Nunca se afastaram de mim, mesmo doente. Todos me cumprimentam, me dão abraços e me fazem festinhas", afiança.

Descanso obrigatório

Na recta final do tratamento, Sónia fazia um balanço positivo do combate à doença. "Como não tenho outros problemas de saúde, o sucesso do tratamento só depende de mim, da minha força de vontade, de comer bem e tomar a medicação. É o que estou a fazer; estou a combater o meu bacilo", referia, na altura.

A tuberculose trouxe, contudo, inevitáveis mudanças ao seu dia-a-dia. "É uma doença que muda um bocado a nossa vida. Tive de deixar de trabalhar, porque o repouso é essencial para o restabelecimento do organismo", relata.

"Tinha de ir diariamente ao CDP (Centro Diagnóstico Pneumológico) tomar a
medicação; se não o fizesse, o bacilo poderia tornar-se
multi-resistente, comprometendo o processo de cura", acrescenta ainda.

"Também
é importante alimentar-me bem, passei a seleccionar melhor aquilo que
como, a tomar o pequeno-almoço (dantes só bebia um café e pouco mais), a
comer fruta, não bebo álcool (porque corta o efeito da medicação),
deixei de fumar e tento não apanhar frio", admite.

As boas
notícias: no fim do tratamento, Sónia pôde retomar a sua vida, voltar a
trabalhar, viajar, praticar desporto. Enfim, fazer uma vida
perfeitamente normal.

Os conselhos de Sónia Tomás

- Não se entregar à doença. "A doença, qualquer seja, já toma conta de nós, por isso não nos devemos entregar a ela. Devemos ser fortes e combatê-la".

- Ter muita força de vontade. "É essencial para levar o tratamento até ao fim. É a única forma de ficarmos curados. E isso só depende de nós. Viver é a coisa mais importante que temos na vida".

- Não desistir do tratamento. "Ao fim de algum tempo a tomar a medicação, quando as dores desaparecem e as forças voltam, há pessoas que desistem do tratamento. É um grande erro porque fortalece o bacilo e piora o quadro médico".

- Ouvir os outros e ler sobre o assunto. "Conversei muito com os outros doentes para saber como foram contagiados, quando foram diagnosticados... Reforça a nossa força de vontade".

- Procurar o apoio da família. "É muito importante, estar do nosso lado nesta hora. Tenho dois filhos que me deram muita força para ultrapassar isto".

- Contar com os amigos. "É muito importante sentir que as pessoas à nossa volta não se afastaram. Quando estamos em tratamento podemos conviver com toda a gente, fazer uma vida normal".

- Não esconder. "Com o nosso dia-a dia, qualquer pessoa está sujeita a apanhar tuberculose, se não tiver cuidado. Eu não tenho nenhum problema em mostrar ao mundo que sou uma doente em fase de tratamento. A minha filha tem no Hi5 uma fotografia minha quando estava doente".

- Informar todas as pessoas com quem contactou diariamente para que façam o despiste da doença o quanto antes. "Se for logo detectada, bastam três meses de tratamento".

    Texto: Fernanda Soares
    Foto: Estúdios António J. Homem Cardoso