Insónias, dificuldades de concentração, irritabilidade, dor de cabeça, apatia, stresse, fadiga… Estes problemas, que afetam o dia a dia de muitas pessoas em todo o mundo, podem ter origem em distúrbios do ritmo biológico. É cada vez mais forte, entre a comunidade científica, a hipótese de o ritmo acelerado de vida perturbar o ciclo de cerca de 24 horas programado no nosso organismo, dando origem a uma espécie de síndrome de jet lag com origem social.

A boa notícia é que, como defendem muitos especialistas nacionais e internacionais, está ao seu alcance conhecer os mecanismos deste relógio interior e adotar medidas para sintonizar com ele as diferentes áreas da sua vida. Aprenda a escutar o ritmo do seu organismo e viva melhor.

O que é o relógio biológico?

Esta expressão traduz o núcleo supraquiasmático (NSQ), um «grupo de cerca de 20 mil neurónios localizado no hipotálamo, uma zona na base do cérebro, por baixo do cruzamento dos dois nervos óticos», lê-se num documento do National Institute of General Medical Sciences (NIGMS).

Este é considerado o relógio principal, mas existem outros que são grupos de moléculas espalhados por diferentes órgãos e tecidos do organismo, como o fígado, pulmões, testículos, tecido conjuntivo e músculo. Acredita-se que o NSQ coordena todos os relógios do corpo para que estejam sincronizados.

Quais são as peças que o compõem?

Segundo informação do Genetic Science Learing Center da Universidade do Utah, nos EUA, o relógio biológico é composto por três mecanismos. Um deles recebe a luz, temperatura e outros estímulos ambientais. Depois existe o relógio propriamente dito, que é um mecanismo químico, e, finalmente, os genes que o ajudam a controlar a atividade de outros genes.

É a interação entre estas três peças que dá origem ao ritmo biológico ou circadiano, que inclui as alterações físicas, mentais e comportamentais que seguem um ritmo de cerca de 24 horas e que ajudam os seres vivos a adaptarem-se ao ciclo diário de dia e noite.

O que faço influencia o relógio biológico?

Sim e essa dinâmica é articulada pela peça do relógio que recebe estímulos do meio ambiente. Por exemplo, segundo informação do NIGMS, à noite, quando escurece, o relógio principal (NSQ), que está localizado acima dos nervos óticos, deteta que há pouca luz e diz ao cérebro para produzir mais melatonina (uma hormona associada à sonolência).

No entanto, ainda que seja de noite, se estiver num ambiente com luz (por exemplo, a trabalhar até tarde), essa informação não será enviada, o que influencia o ciclo normal de funcionamento do relógio. Daí poderão decorrer alterações a curto prazo (sentir-se cansado no dia seguinte, por exemplo) e a médio e longo prazo. Por exemplo, sabe-se que horários irregulares de sono são um dos principais estimulantes da insónia.

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Todas as pessoas têm o mesmo ritmo?

Não. Existem diferenças quanto às preferências de cada um quanto ao sono e à atividade. Chamam-se cronotipos e, embora sejam regulados pelo ritmo circadiano, a sua distribuição sofre «tanto variações genéticas nos genes relógio como influências ambientais», lê-se num estudo de Till Roennenberg, investigador na área da cronobiologia.

Por exemplo, os pré-adolescentes tendem a ser mochos (adormecem tarde e sentem dificuldades em levantar-se cedo), enquanto a maioria das mulheres, a partir dos 55 anos, e dos homens, a partir dos 60, são cotovias, sentem sono cedo e não lhes custa saltar da cama pela manhã.

Os ritmos do seu corpo

06 horas: Até às 12h00 são atingidos os níveis mais elevados de pressão arterial, frequência cardíaca e vasoconstrição, o que pode explicar a maior taxa de mortalidade cardiovascular.

08 horas: Há maior mortalidade intestinal. É uma boa altura para ir à casa de banho.

09 horas: Os níveis de cortisol, a hormona do stresse, estão mais elevados.

10 horas: Maior estado de alerta, lucidez e concentração. A pele atinge o pico da beleza.

13 horas: A oleosidade da pele atinge o seu ponto máximo.

15 horas: Uma anestesia no dentista dura cinco vezes mais do que às sete da tarde

23 horas: Pico de microcirculação e permeabilidade da pele. É uma excelente altura para aplicar cosméticos.

02 horas: O organismo atinge o estado de sono profundo. Inversamente, às 14h00, produz mais adrenalina.

04 horas: A nossa temperatura corporal baixa. Da parte da tarde, as 16h00 marcam a hora ideal para fazer um lanche.

Texto: Rita Miguel