Como evitar que alguns doentes tratados com Isoniazida - o mais potente e eficaz medicamento existente no mercado para tratar a tuberculose – desenvolvam lesões hepáticas graves ou mesmo irreversíveis?

Esta questão, colocada pela pneumologista Celeste Alcobia, do Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP) de Coimbra, foi o ponto de partida para um estudo pioneiro, a nível internacional, sobre a influência dos genes na capacidade do organismo em eliminar um medicamento, liderado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC).

Financiado pela Fundação Glaxo, o estudo que envolve uma equipa multidisciplinar, teve início há dois anos e conta com a colaboração de Hospitais e Centros de Diagnóstico Pneumológico (CDP’s) do país. Os investigadores estão a estudar o gene NAT2 e as suas variantes para permitir a definição da dose adequada para cada doente, evitando, assim, o surgimento de complicações hepáticas, por vezes fatais.

Mas, a investigação pode aplicar-se a outras patologias, porque «o perfil genético do individuo pode determinar a eficácia e toxicidade de vários medicamentos. Este método, que se insere na farmacogenómica, é mais rápido e mais barato do que os métodos tradicionais. Os mesmos resultados genéticos fornecem informação, não só sobre a tolerância do indivíduo a diferentes medicamentos, como também sobre o risco de exposição a tóxicos como o tabaco e do aparecimento de doenças como o cancro», explica a coordenadora da investigação, Henriqueta Coimbra.

De uma forma simples, o que os investigadores da Universidade de Coimbra pretendem com a pesquisa, em que numa 1ª fase já foram avaliados mais de 100 doentes com tuberculose na fase pós-terapêutica, é «determinar as vantagens de, desde o início, adequar a dose de um determinado medicamento em função do seu genótipo. Considerando que Portugal tem a maior taxa de incidência de tuberculose na Comunidade Europeia, e que mais de 50% da sua população tem um perfil genético que favorece a acumulação excessiva do medicamento, a aplicação do método pode melhorar o sucesso terapêutico e minimizar as complicações hepáticas, de custos muito elevados para o doente e para as instituições de saúde», sustenta a também Docente de Genética da FMUC.

20 de fevereiro de 2012

@Universidade de Coimbra