“É possível pôr as pessoas a consumir carapau e dizer que, durante algum tempo, temos de comer menos sardinha”, disse o presidente da Associação de Ciências Marinhas e Cooperação (Sciaena) Gonçalo Carvalho, apontando como exemplo as ações de promoção da cavala.

Um apelo que estendeu também à indústria, que se tem virado nos últimos tempos para a compra de sardinha em Marrocos, e aos comerciantes, que devem beneficiar o setor nacional “em vez de beneficiarem as pescarias de outros países”.

O responsável da Sciaena sublinhou que se devem seguir os pareceres científicos na fixação de quotas de pesca, afirmando que o declínio da sardinha está “documentadíssimo” ao longo dos últimos 30 anos, enquanto o esforço de pesca apenas começou a diminuir a partir de 2012.

Reconheceu, no entanto, que as pescas são apenas uma das causas do desaparecimento desta espécie muito dependente de variáveis ambientais e dada a ciclos de crescimento rápido e declínio (‘boom and bust’).

Captura acima do recomendado

Portugal é um dos países europeus com mais capturas pesqueiras acima do recomendado pelas entidades científicas, com aumentos de quota a exceder 37% os conselhos dos cientistas.

"Portugal e Espanha, em termos de 'stocks' pesqueiros, são dos piores, os que mais desrespeitam os pareceres científicos", afirmou Gonçalo Carvalho.

"Os ministros portugueses, com os espanhóis, negociaram os maiores aumentos de quota pesqueira da União Europeia [UE], excedendo em média 37% as recomendações científicas", explicou Gonçalo Carvalho.

O biólogo admitiu que a quota de pesca de sardinha recomendada para 2016 – 1.587 toneladas – equivale na prática a fechar a pescaria, mas questionou também quanto tempo sobreviveria o setor com uma quota igual às 16 mil toneladas que foram fixadas para este ano.

“Não deveríamos estar concentrados em recuperar o ‘stock?’”, sugeriu, defendendo que a sardinha é essencial não só para os pescadores, mas também para os ecossistemas marinhos atraindo, por exemplo, os golfinhos até à costa.

Carapau como alternativa à sardinha

Apresentando o carapau como uma alternativa sustentável e “bem monitorizada”, Gonçalo Carvalho explicou que este peixe só não é mais pescado porque a quota tem aumentado significativamente, o que levou à desvalorização do produto.

“Ter quota e mais quota é mau para a indústria” e pode não se traduzir num benefício direto para os pescadores devido à queda dos preços, comentou o biólogo, lembrando que, em 2015, os Totais Admissíveis de Captura (TAC) do carapau aumentaram quase 70%.

As propostas de quotas da Comissão Europeia para 2016, que terão ainda de ser avaliadas pelos ministros das Pescas dos 28, a 14 de dezembro, apontam para uma nova subida da pesca do carapau nas águas continentais portuguesas, e descida de outras como areeiro, tamboril e raia.

Segundo a proposta, os totais admissíveis de capturas (TAC) de carapaus sobem 15,3%, para as 68.583 toneladas em 2016, somando-se a estas as possibilidades de pesca de carapau na zona CECAF (Comité das Pescas do Atlântico Centro-Leste), definida por Portugal para a Madeira e os Açores.