A pobreza energética ocorre quando as contas da energia representam uma fatia demasiado grande das despesas familiares, o que condiciona o consumo de outros bens, ou quando as famílias optam por reduzir o consumo energético a um nível que impacta negativamente a sua saúde e bem-estar. A própria definição deixa implícita uma noção de desigualdades em saúde, como a criação de um círculo vicioso de pobreza e doença.

Trocando para um português mais simples: os mais pobres sofrem mais com o calor e o frio extremo, e isso agrava o seu estado de saúde. As alterações climáticas tenderão a agravar esta dinâmica e a nossa população encontra-se particularmente vulnerável. Não se trata de exagero retórico! Portugal é o 5º país da União Europeia em maior risco de pobreza energética. Só superado pela Lituânia, Croácia, Letónia e Roménia.

Como promover a saúde e prevenir a doença, quando até três milhões de pessoas se encontram em situação de pobreza energética? A crise da habitação, que ainda este sábado tanta gente levou à rua, ganha assim uma nova e importante dimensão. Precisamos de habitação com preços adequados à realidade dos nossos salários, mas também precisamos de um modelo de habitação que tenha qualidade e contribua para reduzir o consumo energético das famílias.

O acesso à energia e o estado de saúde encontram-se bastante interligados. Torna-se bastante evidente não só na habitação própria, como nas estruturas residenciais para idosos e nas instituições de saúde. O acesso a energia sustentável cria ambientes saudáveis e promove a saúde das pessoas.

A literatura científica aponta para algumas consequências na saúde da pobreza energética. Desde maior mortalidade e carga de doença, e, portanto, maiores gastos em saúde, e a maior mortalidade nos picos de calor e frio. Sem esquecer os efeitos negativos na saúde mental e pior auto perceção do estado de saúde. Precisamos de um forte programa de investimento público, para recuperar e tornar as habitações mais eficientes do ponto de vista energético. As poupanças diretas e indiretas na saúde, tornariam este programa bastante custo-efetivo e gerador de bem-estar.

A dificuldade na climatização das casas provoca igualmente danos diretos e imediatos. Percebi bem esta intersecção numa triste noite na urgência. Fazia-se sentir duramente os efeitos da troika na população. Uma família com frio, com ambos os adultos desempregados, decide aquecer-se numa lareira improvisada. Deram todos entrada no serviço de urgência, com intoxicação provocada pelo monóxido de carbono. Felizmente, o serviço público de saúde estava presente e salvou cinco vidas quando tudo o resto falhou.

Nada ilustra tão bem as consequências da pobreza energética, e do impacto do desemprego, na saúde das pessoas. Quebrar o nexo pobreza-doença é essencial e ajudará a erradicar o círculo vicioso de pobreza intergeracional. Podemos começar por resolver este problema abordando seriamente a questão da pobreza energética.