A peste negra, ou peste bubónica, a pandemia mais mortífera da história da Europa, provocou não só a morte de sessenta milhões de pessoas como também alterou o sistema imunitário dos europeus, concluiu uma investigação divulgada na segunda-feira.

O trabalho, realizado pelos investigadores do Instituto de Biologia Evolutiva da Universidade Pompeu Fabra (UPF-CSIC) e do Radboud University Nijmegen Medical Centre, da Holanda, apurou que as epidemias mortais afetam a configuração do sistema imunológico humano.

Um dos cientistas envolvidos, Hafid Laayouni, explicou, em declarações à Efe, que o objetivo da investigação era “procurar padrões de variação genética que resultem da pressão seletiva de uma doença contagiosa”.

Esta foi a situação que ocorreu na Europa no século XIV, durante o surto de peste, que afetou apenas os habitantes do continente.

O processo de contágio atuou sobre o genoma de dois grupos étnicos que tinham o mesmo ambiente, mas diferiam na sua bagagem genética: os romenos e os ciganos.

Os ciganos, provenientes do norte da Índia, instalaram-se na Europa há apenas mil anos.

Na primeira parte do estudo, os investigadores analisaram o ADN de cem pessoas de origem romena e outros tantos ciganos e compararam-nos com os de 500 habitantes do noroeste da Índia.

Ao comparar as três populações, os cientistas constataram que os três genes de tipo Toll, “próprio do sistema imunitário”, tinham evoluído de forma similar nos romenos e ciganos, mas não nos habitantes da região da Índia, onde não chegou a peste.

“É um bom exemplo de evolução convergente, em que as populações de origens distintas têm a mesma adaptação, quando submetidas às mesmas pressões ambientais, neste caso, ao efeito da epidemia de peste”, acrescentou.

A segunda parte da investigação, realizada por cientistas holandeses, consistiu num estudo imunológico “para ver se estes genes estavam relacionados com uma das pressões seletivas mais importantes que existiram na história da Europa: a praga da peste negra”.

Para tal, os cientistas extraíram sangue de 101 pessoas de ascendência europeia e expuseram essas amostras à bactéria que causou a peste negra, a ‘Yersenia pestis’, para ver se havia resposta imunitária.

“Vimos então um aumento das citoquinas no sangue, o que quer dizer uma resposta imunitária, que nos diz que estes genes estão a responder”, e que, portanto, os padrões de seleção encontrados poderiam ter sido o resultado deste agente infecioso.

O estudo demonstra, garantem os cientistas, que a peste negra teve um papel importante na mudança genética dos europeus, o que veio a constituir um fator muito importante na história da humanidade e na resposta a infeções emergentes.