HealthNews (HN) – O que representa para si o facto de ter sido premiada com o Prémio “Faz Ciência” , agora na sua 5a edição?

Joana Paredes (JP) – Ter sido selecionada para ganhar este prémio tem um grande significado para mim e para a minha equipa, pois é um prémio na área da Oncologia, mas com uma vertente translacional. Normalmente, o júri deste prémio identifica projetos de biologia básica, mas que demonstrem alguma possibilidade de virem a ser transferidos rapidamente para a clínica. É muito gratificante perceber que, de entre as 41 candidaturas submetidas para avaliação, a visão foi que o meu projeto tinha esse potencial. Só por isso, para mim é um privilégio ter recebido este prémio.

HN – Ao longo da sua carreira de investigação científica sempre utilizou o cancro da mama triplo negativo como modelo de estudo?

JP – Sim, sempre usei o cancro da mama como modelo de estudo. Logo no início da minha carreira, no estágio que realizei no IPO de Coimbra (1999), o meu modelo de estudo foi cancro da mama. Depois, quando fiz o doutoramento (2004), o meu projeto também incidiu em cancro da mama, neste caso já focado nos triplo-negativos. Especializei-me nesta patologia e percebi que o grupo de tumores que necessita mais de investigação é, de facto, os cancros da mama triplo negativos. São negativos para os três marcadores utilizados para eleger uma terapia-alvo: recetor de estrogénio, recetor de progesterona e HER2. No caso dos cancros da mama que são negativos para estes três marcadores, não existe nenhuma outra opção terapêutica biológica. Isso significa que as mulheres têm de fazer maioritariamente quimioterapia. O prognóstico é mau porque metastizam muito rapidamente. São dos tumores mais agressivos e, portanto, aqueles que necessitam de maior atenção por parte dos investigadores.

HN – Em 40% dos casos, o cancro da mama triplo negativo metastiza para os ossos. Quais são os novos caminhos que o seu trabalho de investigação abre para o tratamento desta doença?

JP – O cancro da mama triplo negativo metastiza não só para os ossos, mas também para o cérebro e pulmão, e é muito rápido. O nosso trabalho demonstra, com base em resultados preliminares que já possuímos, que conseguimos identificar algumas proteínas produzidas pelo tumor primário (que está na mama), que vão através do sangue até ao osso, para prepará-lo para a chegada das células tumorais. Ou seja, modificam o “nicho metastático”, isto é, o osso, para que as células tumorais consigam viver noutros sítios que não apenas na mama. Se provarmos que este mecanismo é realmente utilizado, como nos parece que é, poderemos partilhar esse conhecimento para criar tratamentos que evitem que isso possa acontecer, ou seja, que inibam as células de chegarem ao pulmão, ao cérebro ou, neste caso, ao osso.

HN – Sente que está mais perto do seu objetivo?

JP – A minha investigação tem como objetivo produzir conhecimento nesta área, em conjunto com muitos outros laboratórios no mundo inteiro a trabalharem na mesma temática. O meu projeto, em concreto, pode não ser suficiente para modificar imediatamente a prática clínica. Mas poderá permitir criar conhecimento, que será utilizado por outros institutos de investigação ou laboratórios farmacêuticos, para a criação de novas terapias.

Nunca serei eu a ter esse crédito, mas isso não interessa. O que importa é produzir conhecimento para que alguém o possa transferir para a clínica.

HN – Para os doentes e para os médicos, esse conhecimento constitui uma nova esperança?

JP – Claro que sim. A nossa comunidade precisa de perceber que no nosso país se faz investigação de qualidade e que os investigadores são cruciais. A Covid-19, por exemplo, foi muito importante para que os investigadores ganhassem notoriedade na sociedade. Rapidamente, pessoas como eu, que trabalham nos bastidores, conseguiram encontrar uma solução muito mais depressa do que alguma vez se imaginou. Perante o desconhecido, a ciência dá- nos esperança.

Entrevista de Adelaide Oliveira

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