Pesquisadores da Memorial University of Newfoundland, Canadá, divulgaram esta semana resultados de um estudo que lança luz sobre a conexão entre a inflamação no hipotálamo e o consumo de dietas ricas em gordura. O hipotálamo, uma região cerebral central na regulação do equilíbrio energético e da sensação de fome, foi identificado como um componente crucial neste ciclo vicioso.

estudo, publicado na revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), revelou que as dietas ricas em gordura desencadeiam a ativação da prostaglandina E2 (PGE2), uma molécula envolvida no sistema imunológico e na regulação da febre. A PGE2, por sua vez, estimula a hormona MHC no hipotálamo, desencadeando uma intensa sensação de fome.

Segundo o especialista em neurociências Fabiano de Abreu Agrela, novo estudo traz novos elementos a uma relação amplamente conhecida pela neurociência.

"A estreita relação entre o cérebro e a obesidade já era alvo de diversos estudos como um dos principais fatores para o desenvolvimento da doença, mas esses novos resultados trazem novos detalhes que ajudam a compreender esse processo", comenta.

“O hipotálamo é uma importante do cérebro, que desempenha um papel central na regulação de funções essenciais, como a temperatura corporal, sono, emoções, sede e fome. De acordo com o estudo, inflamações na região, aliadas a uma dieta rica em gorduras, ajudam a desencadear a obesidade, mas ainda são necessários estudos mais aprofundados para identificar como é possível interferir ou reverter esse processo", explica ainda.

De acordo com o cirurgião especialista em cirurgia bariátrica Fabio Rodrigues, a obesidade não deve ser tratada apenas com procedimentos que visem à perda de peso, mas com uma abordagem mais completa.

"Um dos erros mais comuns sobre a obesidade é acreditar que apenas a perda de peso irá ‘resolver’ a situação, por isso a própria cirurgia bariátrica, um dos principais tratamentos para a doença, não considera apenas o peso do paciente [no tratamento da doença] e sim diversos aspetos", revela.

"Uma abordagem multidisciplinar de cada caso é essencial para evitar um novo ganho de peso e que o paciente tenha melhores resultados, psicólogos, neurocientistas, nutrólogos, etc., são fundamentais durante todo o processo", diz ainda Fabio Rodrigues que também realizou um estudo recente sobre a relação entre a obesidade e o cérebro publicado pela revista científica “Contribuciones a las ciencias sociales”.

“Essa abordagem reforçada por ambos os estudos faz parte do método científico que aplico com os meus pacientes para obter melhores resultados com a cirurgia bariátrica na medida em que trazemos a contribuição de várias áreas de forma direcionada através de uma anamnese que permite entender cada paciente de forma individual", conclui.