Nas consultas, que Filipe Menezes realiza às quintas-feiras no Colégio de São Jerónimo da Universidade de Coimbra, surgem "queixas variadas", desde problemas com "relações amorosas ou familiares", dilemas ético-morais, luto ou sentimento de "não realização profissional", entre outros.
Naquele gabinete, todas as consultas são analisadas "à luz da filosofia moderna", organizando-se e encarando-se o problema que a pessoa expõe como se se tratasse "de uma espécie de texto filosófico", explica o também professor de Filosofia no ensino secundário.
A partir do momento em que o problema é analisado "com a pessoa", esta consegue algum distanciamento em relação ao mesmo, permitindo um olhar diferente.
"A queixa vai sendo reformulada e a pessoa adquire uma nova perspetiva até chegar a um ponto que no discurso dela já não há espaço para a queixa", aclara.
Filosofia como método terapêutico
A vontade de realizar as consultas de filosofia surgiu quando ainda era aluno no ensino secundário e viu no estudo da filosofia "qualquer coisa de terapêutico", conta Filipe Menezes, referindo que as consultas são a possibilidade de "aplicação prática" da filosofia para "ajudar outras pessoas".
O professor de Filosofia entendeu que haveria "um campo aberto para uma profissão" na área, tendo tido "bastante recetividade" quanto ao conceito.
Procuram-no pessoas "que não se sentem muito bem", mas que "não querem ir ao médico ou já foram e não sentiram transformação ou não querem resolver os seus problemas com medicamentos", aclara, notando que a maior parte dos seus clientes também "já tinha recorrido à psicoterapia".
"Aquilo que vivem, por muita angústia que lhes cause, não é uma doença e não sentem que têm de ser tratados", procurando resolver eles mesmos o problema, frisa.
Em todo o processo, podem ser abordados determinados pressupostos filosóficos e pensadores, explana.
Por exemplo, numa questão em que se aborda um problema de "hiper-responsabilização pode utilizar "a filosofia contratualista" ou noutra situação pode usar uma citação do filósofo dinamarquês Kierkegaard.
Contudo, nas consultas podem também ser usados conteúdos fora da filosofia, como a "música, um poema, uma pintura ou qualquer outra produção cultural".
"Podem surgir filósofos e textos filosóficos" mas "não há uma receita" e uma relação entre o problema da pessoa e citações ou textos que se poderão usar.
Com as consultas, Filipe Menezes acredita que a pessoa pode "tomar uma decisão com mais segurança e autoconfiança" em relação ao seu problema.
Todavia, garante que não resolve os problemas das pessoas. Apenas acompanha, "com estratégias, uma forma de elas encontrarem as suas próprias soluções".
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