A taxa de diagnósticos tardios ao VIH/sida em Portugal é de 65 por cento, o dobro da registada na Europa, um número que preocupa as autoridades de saúde que registaram menos quatro mil testes precoces à doença no último ano.

“Quando 65 por cento chegam tardiamente para fazer o teste, essa é a prioridade”, afirmou António Diniz, coordenador do Programa Nacional de prevenção e Controlo para a infeção VIH/Sida, que apresentou hoje os dados mais recentes, durante uma conferência para assinalar os 20 anos da Abraço.

Segundo António Diniz, entre 2010 e 2011 verificou-se uma redução nos programas de prevenção: troca de seringas (menos um milhão), diagnóstico precoce (menos quatro mil) e distribuição de preservativos (menos um milhão).

Ao nível do diagnóstico precoce, em 2010 realizaram-se 23.966 testes, ao passo que em 2011 esse número foi de 19.620, uma quebra que o coordenador não sabe explicar.

“Não tenho uma justificação estudada para apontar a origem. Não foi falta de testes, não encerraram nem houve alterações nos CAD [Centro de Aconselhamento e Deteção] ”, afirmou, sublinhando que não ficou admirado e que prefere aguardar para ver se há uma sustentabilidade desta redução no tempo.

De qualquer forma, admite que o diagnóstico tardio (já com critérios de sida ou contagem de linfócitos CD4 abaixo dos 350) é uma das principais preocupações e justifica que a prioridade no combate à Sida seja posta ao nível da prevenção e do diagnóstico precoce.

A taxa de diagnósticos tardios na Europa anda entre os 30 por cento e os 35 por cento, em Portugal ronda os 65 por cento, pelo menos é o que revelam os poucos dados existentes em Portugal e que resultam de estudos hospitalares em Lisboa e no Porto.

O objetivo para 2012-2016 é o alargamento da rede para realização dos testes, estando para já decidido que o primeiro passo será no sentido de alargar aos centros de saúde, onde há uma maior proximidade entre o doente e o médico.

Numa referência aos constrangimentos orçamentais, o responsável afirmou que todos os estudos que visarem resultados concretos em termos de alcançar as prioridades – como por exemplo a caracterização das populações mais vulneráveis – serão os considerados em termos de viabilidade orçamental, pois o critério é “urgência e necessidade”.

António Diniz adiantou ainda que serão procuradas fontes externas de financiamento para “assegurar uma prevenção o mais alargada possível”.

O programa troca de seringas trocou no ano passado 1,21 milhões de seringas, contra 2,66 milhões trocadas em 2010, enquanto a distribuição de preservativos rondou os 5 milhões, face aos seis mil distribuídos em 2010.

Sobre a quebra na distribuição dos preservativos, António Diniz afirma que, apesar de haver verba, “os procedimentos administrativos bloquearam a capacidade de resposta”, o que justifica também que “vá haver sobretudo uma queda, ainda maior, este ano”.

O objetivo é aumentar de cerca de 82 por cento para 95 por cento o número de pessoas que usam preservativos em relações ocasionais.

A prevalência do VIH/Sida em Portugal é de 0,6 por cento a 0,7 por cento (cerca de 70 mil pessoas), segundo estimativas da ONUSIDA, sendo que entre 15 e os 49 anos haverá cerca de 48 mil casos.

A mortalidade por Sida estabilizou entre 2006 e 2011 entre os 22 por cento e os 23 por cento. Em 2011, 23 por cento dos casos notificados como Sida faleceram no mesmo ano.

Desde 1983 até 31 de outubro de 2012 foram notificados 42.350 casos de infeção, dos quais quase 41 por cento eram indivíduos já com critérios de diagnóstico de Sida.

No mesmo período nasceram 353 crianças infetadas e em cada cem mães infetadas, duas têm crianças também infetadas por VIH.

29 de novembro de 2012

@Lusa