No passado dia 19 de novembro a Direção Geral de Saúde (DGS), em colaboração com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), foram apresentados os dados nacionais relativos à infeção pelo VIH em Portugal em 2022, com a subsequente publicação do relatório Infeção por VIH em Portugal 2023, que demonstram que no ano passado houve 804 novos diagnósticos de infeção pelo VIH, números que deverão ser superiores pois não consideram os atrasos de notificação. Estes números continuam a pôr Portugal nos lugares cimeiros dos países com mais infeções, tendência que se mantém há muitos anos.

A maioria dos diagnósticos foi em homens com uma mediana de idade de 37 anos, sendo a região com mais casos a Área Metropolitana de Lisboa. Quase 60% dos casos eram tardios, ou seja, foram diagnosticados já com doença avançada, sendo que nos homens heterossexuais esta taxa é de quase 70%. A maioria dos casos (91%) foram de transmissão por via sexual.

Quando olhamos para os dados de anos anteriores, percebemos que muito provavelmente em 2022 terá havido cerca de 1000 novas infeções, o que só poderemos verificar em 2024.

Estes dados demonstram, apesar dos números serem muito inferiores aos de há 30 anos atrás, que todos os anos há pessoas que se deparam com a dura realidade de um diagnóstico de infeção pelo VIH, e que muitas sabem-no já com sintomas de doença avançada e 12% dos casos ainda são de SIDA (a síndrome provocada pela infeção pelo VIH).

A maioria das pessoas desconhece a importância de se fazer rastreio frequentemente, mesmo que se ache que não se está em risco, e como é que isso pode decidir o seu futuro no caso de vir a ser diagnosticado com VIH em algum momento da sua vida. Como em todas as doenças, a evolução da doença dependerá muito da fase em que a mesma  é diagnosticada. Uma pessoa que seja diagnosticada numa fase precoce da doença terá muitas probabilidades de vir a ter uma vida saudável, com pouca interferência desta infeção, já no caso dos diagnósticos tardios estes deixam sequelas com as quais se terá de viver, mas que podem ser melhores ou piores consoante o estadio. Em Portugal ainda se morre de SIDA (151 mortes em 2022), uma morte evitável com um teste e com o respetivo tratamento.

A infeção pelo VIH em 2023 é considerada pelos especialistas uma doença crónica, quando diagnosticada e tratada precocemente, e com o devido seguimento pelo médico assistente. A maioria das pessoas que vivem com VIH têm vidas perfeitamente regulares, sem qualquer limitação, sendo que o maior problema, atualmente, para estas pessoas não é o seu estado de saúde, esse está controlado, trata-se sim do estigma e discriminação que ainda subsiste na nossa sociedade. Todos temos a responsabilidade de nos informarmos e de não estigmatizar/discriminar as pessoas que vivem com a doença. Se alguma vez foi vítima de discriminação saiba que pode recorrer aos serviços dos Centro Anti-Driscriminação VIH e SIDA.

É por ainda haver estigma e discriminação que muitos de nós temos pessoas na nossa vida nesta situação, que desconhecemos. E não existe nenhuma forma de sabermos se alguém vive ou não com esta infeção a olho nu. A única forma de se saber é, de facto, através de um teste.

O teste ao VIH

O teste ao VIH é simples. Existem duas modalidades disponíveis de testes, sendo que dentro destas modalidades existem várias técnicas e marcas, mas o essencial é saber que existem testes rápidos que apresentam o resultado entre 10 a 15 minutos, existem também os testes de laboratório que demoram entre 3 dias a uma semana. Os testes de laboratório são habitualmente prescritos por um médico, no contexto de uma consulta, e podem ser uma opção se tem contacto habitual com o seu médico de família, por exemplo. Os testes rápidos estão, sobretudo disponíveis em ONG’s e organizações de base comunitária como o GAT, que os disponibilizam de forma gratuita, anónima e confidencial. Pode saber o sítio onde fazer o teste mais perto da sua cidade aqui:

 https://www.gatportugal.org/onde-fazer-teste-vhi

É importante perceber que os testes para o VIH habitualmente só testam as situações/comportamentos de risco há dois/três meses, pelo que quando fazemos o teste este não cobre os comportamentos de risco que possamos ter tido nesses meses.

A prevenção do VIH

A maioria dos leitores saberá que a forma mais conhecida de prevenir a infeção pelo VIH é o preservativo (também conhecido como camisa e camisinha) sobretudo nas relações sexuais com penetração anal e vaginal, os casos onde há maior probabilidade de infeção. O preservativo está disponível em Portugal nas duas versões, o preservativo externo e o preservativo interno, e é distribuído gratuitamente pelas ONG’s como o GAT. Esta continua a ser uma das ferramentas mais importantes de prevenir o VIH e outras infeções sexualmente transmissíveis, mas não a única. A prevenção do VIH, hoje em dia, faz-se em várias frentes.

O teste e o tratamento para o VIH são considerados, atualmente, formas de prevenção. Ao nos testarmos, no caso de um diagnóstico de VIH, as pessoas protegem habitualmente os seus parceiros, porém a maior inovação é que as pessoas que estão em tratamento não são infeciosas, ou seja, apesar de terem a infeção não podem transmitir a eventuais parceiros. Isto quer dizer que quanto mais testarmos e tratarmos as pessoas, maior a possibilidade de conseguirmos conter os números de infeção em Portugal, evitando novas infeções, quem sabe, chegar mesmo a erradicar a infeção como problema de saúde pública.

Para além destas poderosas ferramentas, temos hoje em dia outra ferramenta importante: a PPE ou Profilaxia Pós-Exposição. Trata-se da possibilidade de após um comportamento de risco (não uso ou rebentamento do preservativo, etc) poder ser iniciado um tratamento nas 72 horas que se seguem que permite evitar a infeção pelo VIH. Este tratamento pode ser obtido nas urgências hospitalares e no caso de ter dificuldades em obtê-lo poderá contactar com urgência organizações como GAT, que poderão ajudar a resolver a situação.

A ferramenta mais recente de prevenção é a PrEP ou Profilaxia Pré-Exposição que se trata de uma opção para as pessoas que poderão estar em risco com maior frequência, por ter vários parceiros sexuais ou por terem dificuldades em usar o preservativo de forma consistente. Trata-se de um tratamento diário que durará enquanto a pessoa se considerar em risco.

É importante que todos tenhamos consciência do nosso papel individual na saúde pública do nosso país. Ao prevenimos a infeção pelo VIH, ao fazermos o teste, ao tratarmos a infeção, estamos a contribuir para um país e uma Europa mais saudável. Agora que já sabe, contribua também: previna o VIH e faça o teste!