A Federação Nacional de Prestadores de Cuidados de Saúde (FNS) revelou que o setor convencionado sofreu uma quebra de 28% na faturação nos últimos três meses e alertou para o risco de colapso do sistema de saúde.

O secretário geral da federação falava com base nos dados de faturação das empresas, que estão fechados até final de novembro.

“Houve um grande decréscimo de procura em setembro, outubro e novembro, comparativamente com igual período do ano passado. O decréscimo de faturação rondará em média os 28% na generalidade das áreas de cuidados de saúde. Na imagiologia ronda os 36%”, afirmou.

Considerando que há o efeito da baixa de preços imposta, a FNS estima que nesta descida o efeito da baixa de procura seja superior a 20 por cento.

“Deixou de procurar o setor convencionado um quinto da população portuguesa. Como a população não diminuiu nem houve um surto de saúde por decreto ministerial, quer isto dizer que este decréscimo foi para algum lado: as pessoas deixaram de fazer exames nos convencionados e foram para as listas de espera”, afirmou.

Salvaguardando não ter dados sobre os hospitais públicos, Abel Bruno Henriques afirma contudo ter conhecimento de que os utentes procuram as clínicas de ambulatório e exprimem “grande dificuldade em conseguir credenciais para a realização de exames”, só assim se explica este “decréscimo abrupto”.

O responsável lembra que o setor convencionado responde por mais de 95% dos serviços de saúde em ambulatório e que será “difícil aos hospitais acolherem toda esta massa de exames, para mais quando se fala em limitações à contratação e em cortes nas horas extraordinárias”.

Esta situação preocupa a federação quanto ao futuro do setor, que assiste já à não renovação de contratos a termo, a alguns despedimentos e à colocação de clínicas à venda.

“Receio que a curto prazo esta rede que custou 30 anos a construir se desmorone como um baralho de cartas”, afirmou, salientando que “quando um setor produz 95% de serviços para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não é um setor complementar, é ele próprio SNS”.

Do ponto de vista dos utentes, Abel Bruno Henriques afirma que foram colocadas barreiras no acesso a um setor que intervém no diagnóstico e que é importantíssimo para o diagnóstico precoce das doenças, o que levará o Estado “a poupar no farelo e a gastar mais na farinha”, porque “tratar é muito mais caro do que prevenir”.

O responsável deixou ainda um repto ao Governo: “Se se pretende acabar com os convencionados, que haja uma opção clara e se diga que o país não tem dinheiro para pagar um nível de cuidados de saúde avançados e tem que optar por outro tipo de saúde”.

29 de dezembro de 2011

@Lusa