Dados recentes da Organização Mundial de Saúde indicam que, no Mundo, todos os anos morrem por suicídio cerca de 800.000 pessoas e que, em Portugal, suicidam-se, em média, 3 pessoas por dia. O suicídio e as tentativas de suicídio traduzem a presença de um grande sofrimento emocional e representam um desafio de Saúde Pública em todo o Mundo, com impactos nas pessoas, mas também nas suas famílias, na sua comunidade e na sociedade.pi

A posvenção é uma intervenção realizada após um suicídio, principalmente na forma de apoio aos enlutados e afetados por este tipo de morte e que podem ser a família, amigos, profissionais de saúde e colegas. Este termo refere-se ao apoio clínico e acompanhamento psicossocial prestados, após a experiência do suicídio, aos designados sobreviventes, enlutados ou afetados pelo suicídio de alguém próximo.

A posvenção refere-se a atividades realizadas após o evento traumático com o objetivo de reduzir os efeitos adversos do suicídio nos sobreviventes, facilitando o processo de luto, prevenindo tendências suicidas, que se sabe estarem em maior risco nos enlutados por suicídio, ajudando-os a viver melhor, de forma mais produtiva, e com níveis mais baixos de stress (Shneidman, 1981).

O que saber?

Todos os clínicos devem estar preparados para providenciar apoio às famílias e às comunidades após a morte por suicídio. Para que este apoio seja adequado é necessário antecipar e a preparação varia consoante o contexto, os recursos e os profissionais de saúde envolvidos. A posvenção deve ser perspetivada a curto, médio e a longo prazo, no sentido de ser possível identificar e intervir perante eventuais perturbações afetivas que se venham a desenvolver.

A posvenção tem como objetivos prevenir a possibilidade de contágio, ajudar o processo de luto, reduzir o impacto negativo da crise que se segue a uma morte por suicídio e amenizar o stress imediato.

Pessoas que vivenciaram a morte por suicídio de alguém próximo ou que foram, por razões diversas, afetadas por este tipo de morte, têm vindo a ser designadas por sobreviventes de suicídio. É comum os sobreviventes de suicídio, experienciarem um luto complicado, acompanhado por sentimentos persistentes de vergonha, culpa ou autorresponsabilização. E sabe-se que apresentam um risco acrescido de doença mental, de outras doenças e de morte por suicídio. Acresce que os sobreviventes têm revelado que o apoio da comunidade pode ser importante e têm relatado que o apoio das instituições é escasso.

O que fazer?

Em primeira instância deve pensar em si, enquanto pessoa e profissional.

Os profissionais de saúde que exercem na área da saúde mental (por exemplo, psiquiatras, psicólogos clínicos…) têm um risco acrescido de ter um paciente que realiza o suicídio. Para muitos, essa perda é considerada uma das experiências mais traumatizantes e difíceis no seu percurso profissional. Lembre-se que também é um sobrevivente. Comunicar com outros colegas e equipa é essencial. Cuidar de si e estar atento e disponível para uma eventual necessidade de apoio é fundamental para poder ajudar outros. Deve também escrever com detalhe a história clínica, o processo de tratamento e dados relevantes do caso, este procedimento pode ser importante, para integração pessoal do acontecimento e discussão de caso.

Como segundo ponto, deve contactar e ajudar as pessoas próximas. A família e outros sobreviventes devem ser contatados, de forma pessoal e presencial, o mais cedo possível (nas 24/ 48 horas após a morte). Se não se sentir capaz de o fazer ou de o fazer sozinho solicite ajuda a um colega. A probabilidade de a família estar disponível e da raiva não ser dirigida ao clínico aumenta se o apoio for em tempo útil. Neste contacto com a família ou outros sobreviventes deve ouvir e criar oportunidade para que coloquem questões. Em determinados contextos pode ser útil envolver algum outro significativo da família ou da comunidade.

Como terceiro ponto fundamental, deve identificar os parentes em risco de depressão ou luto complicado. É importante sensibilizar os familiares para o processo de luto. Pode ser pertinente ajudar a família a identificar recursos disponíveis para eventual apoio a longo prazo.

Um artigo de Elisabete Bento e Inês Rothes, Psicólogas Clínicas da Consulta do Luto & Acontecimentos de Vida no PIN Porto.