Da autoria de Dina Fernanda Ferreira de Sousa, a obra ‘A Doçaria Conventual de Coimbra. O segredo das madres conserveiras. Contributo para o seu estudo (Séculos XVIII-XIX)’ incide sobre a história dos mosteiros de Santa Clara, Santa Maria de Celas e conventos de Sant’Ana e de Sandelgas.
“Os conventos foram verdadeiros ‘templos da doçaria’. Esta atividade era assaz disputada, já que concedia estatuto à casa monástica. As receitas eram de tal forma preciosas que cada convento tentava esconder os seus segredos, a fim de obter a primazia do seu requintado produto final junto do poder”, disse a autora.
De acordo com Dina de Sousa, após a generalização do consumo do açúcar na alimentação, o seu uso transpôs-se para as cozinhas dos conventos e, consequentemente, para a criação das mais variadas e deliciosas iguarias.
Entretanto, “o século XIX trouxe consigo a extinção das ordens religiosas, pelo que muitas destas comunidades, outrora ricas e privilegiadas, conheceram períodos extremamente difíceis”, sendo que uma das suas formas de sobrevivência foi através da venda de doces.
“Muitos dos segredos de madres e abadessas transpõem as paredes dos conventos, chegando a mulheres de estratos sociais populares que as passam a ajudar neste ‘comércio’. Desta forma, chegaram até nós alguns dos receituários sigilosamente guardados durante séculos”, adiantou.
De acordo com Dina de Sousa, algumas destas receitas estão a ser reproduzidas em pastelarias da cidade no âmbito do trabalho desenvolvido pela Associação dos Doceiros de Coimbra. Também foram introduzidas “melhorias significativas” em doces já anteriormente confecionados, como os pastéis de Santa Clara, as arrufadas ou o manjar branco.
A sopa dourada, os queijinhos, as queijadas e o pão-de-ló de Coimbra e os bolos secos podem também ser apreciados, observando-se igualmente que algumas pastelarias estão a enveredar pela confeção de compotas, que nos conventos femininos eram uma forma de conservar a fruta.
“Coimbra teve uma produção doceira extremamente significativa mas que, por vicissitudes de vária ordem, acabou por se diluir no tempo. A sua revitalização é, sem dúvida, um fator de identidade desta região, uma mais-valia em termos económicos e um fator de atratividade do ponto de vista comercial”, sublinhou Dina de Sousa.
Escrito a partir da tese de mestrado apresentada na Universidade de Coimbra pela autora, o livro é publicado pela Colares Editora e tem prefácio da Maria Helena da Cruz Coelho, a quem cabe a apresentação no sábado, em conjunto com Maria José Azevedo Santos.
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