Há quem diga que as rugas são sinal de experiência mas, na verdade,
a maioria das pessoas, mulheres e homens, deseja que elas cheguem o mais tarde possível.

No
início de novembro de 2010, um grupo de cientistas da Mayo Clinic, nos Estados Unidos da América, conseguiu
adiar os sinais de envelhecimento, entre os quais as rugas, em ratos, eliminando as células velhas.

Designadas de senescentes, a partir de uma certa idade, estas acumulam-se no organismo e
envelhecem os tecidos ao seu redor. Este estudo, publicado na revista Nature, é já apontado pela comunidade
científica como uma grande esperança para a medicina anti-aging.

Mas, enquanto não é testado em humanos,
a saber viver foi ao 20º Congresso da Academia Europeia de Dermatologia e Venerologia (EADV), que se
realizou em Lisboa, para conhecer as técnicas que já ajudam a abrandar o envelhecimento cutâneo. Como diz
um dos nossos entrevistados, C. William Hanke, dermatologista e ex-presidente da Associação Americana de
Dermatologia, «não podemos parar o relógio, mas podemos proteger a nossa pele e melhorar o nosso aspeto».

Avanços tecnológicos

«Tem havido uma grande evolução nos tratamentos
para combater o envelhecimento da pele desde há
cinco anos. São cada vez menos invasivos e é isso
que as pessoas procuram. Querem bons resultados,
sem complicações, sem dor e sem longos períodos
de recuperação», realça C. William Hanke. Durante
o evento, que reuniu mais de sete mil especialistas,
foram apresentadas várias técnicas inovadoras, das
quais o dermatologista António Picoto, que presidiu
ao congresso, destaca «os lasers de última geração, os
fillers ou enchimentos e a terapia fotodinâmica, todos
eles com bons resultados já demonstrados».

Para escolher a mais adequada, Riccarda
Serri, dermatologista e presidente da SKINECO
(Associação Internacional de Dermatologia
Ecológica) adianta que «temos de estudar bem cada
indivíduo e a sua pele para criar um programa à
medida, tal como se estivéssemos a costurar um fato
para cada pessoa». Esse programa passa muitas vezes
pela combinação das várias técnicas e vai ao encontro
daquilo que as pessoas realmente desejam, que é «melhorar
a sua imagem, mas sem perder o ar natural», sublinha
a dermatologista.

Passagem do tempo

«Os sinais de envelhecimento da pele começam
a tornar-se visíveis a partir dos 30 anos», afirma
Leonardo Marini, dermatologista e um dos
fundadores da European Society for Laser Dermatology
e da European Society for Aesthetic and Cosmetic
Dermatology. Isto porque, segundo o mesmo
especialista, «é nessa altura que as células estaminais
diminuem significativamente e se verifica uma
redução progressiva das funções da pele». A sua
espessura diminui, a comunicação entre as células
apresenta falhas e a síntese do colagénio, que lhe
confere rigidez, decresce, tal como acontece com a
capacidade de reter água.

Progressivamente, surgem,
então, as rugas e as manchas e a perda de volume
torna-se notória. Para C. William Hanke, este último
é o fator que mais nos envelhece. «Quando o rosto perde volume, as rugas tornam-se mais visíveis, mas se
o repusermos a qualidade da pele e a falta de firmeza
também melhoram. Pensemos numa bola de futebol
vazia e enrugada, que ganha nova vida quando a
enchemos. Na pele sucede o mesmo», exemplifica.


Veja na página seguinte: A influência nefasta dos raios infravermelhos

Quando começar

A melhor altura para começar a fazer tratamentos
de rejuvenescimento, depende de cada caso,
«mas se o fizermos aos 30 anos podemos atuar
preventivamente», diz Maurice Adatto, médico
especialista em lasers e dermatologia cosmética.

Já Riccarda Serri, diz que os 40 anos são um
bom ponto de partida se não houver necessidades
particulares antes.

Mas, por falar em prevenção,
lembre-se que muita coisa está nas suas mãos.

«O excesso de sol, uma dieta desequilibrada, o
tabaco, o excesso de álcool e o stress são, para além
da preponderância da genética, os fatores que mais
contribuem e aceleram os sinais de envelhecimento cutâneo», enumera a dermatologista. Nas mulheres, acrescenta-se ainda a queda de estrogénios que acontece na menopausa. Mas esta não é a única diferença entre os dois sexos. «O homem tem folículos pilossebáceos mais grossos e a presença da barba tem uma ação protetora», realça a especialista.

Proteção solar

Um dos primeiros passos para prevenir o envelhecimento cutâneo é o uso diário de protetor solar, como nos disseram unanimemente os nossos entrevistados. «Oitenta por cento do envelhecimento cutâneo é fotoinduzido», lembra Manuela Cochito, dermatologista.

«Infelizmente as pessoas só se preocupam a partir de uma certa idade, mas se evitarmos o excesso de sol na adolescência estamos não só a evitar o cancro da pele, mas também o envelhecimento precoce», esclarece António Picoto, que sublinha ainda que «o fator de proteção usado deve ser no mínimo de 30».

«E deve proteger não só dos UVA e UVB, mas também dos infravermelhos, que entram na pele em profundidade e danificam o colagénio», acrescenta Leonardo Marini. «Especialmente em países como Portugal, a proteção é muito importante e não nos devemos esquecer do pescoço», reforça C. William Hanke.

Hidratar diariamente

Sabia que, como diz Riccarda Serri, o «o primeiro tratamento cosmético a que somos sujeitos quando nascemos é o banho»? Logo, outro gesto essencial é a limpeza da pele de manhã e à noite. «A lavagem abre as portas da pele e permite que os cosméticos desempenhem a sua ação», acrescenta Leonardo Marini. O passo seguinte e, não menos importante, é a hidratação.

«Numa pele hidratada, o estrato córneo aumenta de espessura e, quanto mais espesso for, menor será a penetração dos raios», explica o mesmo especialista. Daí que os cosméticos sejam fundamentais para travar o envelhecimento cutâneo. «A sua aplicação faz parte de qualquer tratamento de rejuvenescimento. É a sua base e o seu uso permanente faz a diferença», sublinha Manuela Cochito.p

Cosméticos e cosmecêuticos

A oferta da indústria de cosmética é grande e, quando questionados sobre como se devem escolher os produtos, os nossos entrevistados são, mais uma vez, unânimes. Os melhores são aqueles que são adequados ao tipo de pele de cada pessoa. Segundo C. William Hanke, «a única forma de escolher é experimentar». Riccarda Serri acrescenta que devem ser «produtos verdadeiramente ecodermocompatíveis» e que não contenham parabenos.


Veja na página seguinte: Os melhores alimentos para a pele

Atualmente, e como verificámos no congresso da EADV, existe uma aposta dos investigadores nos cosmecêuticos que, como explica Manuela Cochito, são «cosméticos vendidos preferencialmente em farmácias e sob acompanhamento médico, que têm princípios ativos mais fortes para conseguirmos melhores resultados».

O seu uso já acontece e será cada vez mais recorrente. O importante, segundo António Picoto, é que sejam sempre «acompanhados de estudos que comprovem a sua ação, para que as pessoas não sejam enganadas com promessas que não possam ser cumpridas».

Alimentos para a pele

Uma dieta saudável também ajuda a ter uma pele sã. Siga as dicas que se seguem:

- Ingira ovos, legumes, abacate, feijão de soja e frutos secos. Contêm biotina, um químico essencial para o metabolismo das gorduras e dos hidratos de carbono. A sua carência seca a pele.

- Opte pelo salmão. A astaxantina, o carotenoide responsável pela cor do salmão, melhora a elasticidade cutânea e o ómega 3 também ajuda a pele a parecer mais jovem.

- Beba chá verde. Contém polifenóis que combatem os radicais livres e aumentam a espessura da pele, para além
de inibirem a glicação.

- Coma romãs. Tornam a epiderme mais espessa e prolongam a vida dos fibroblastos, de forma a produzirem mais colagénio e elastina.

- Junte tomate à salada. O licopeno reduz o risco de queimadura solar.

- Adicione frutos vermelhos e citrinos à sua dieta diária. Estes frutos possuem carotenoides e vitaminas antioxidantes que ajudam a combater os radicais livres.

Verifique o rótulo

Estas são as substâncias que devem procurar nos cosméticos antienvelhecimento:

- Derivados de retinol
- Ácidos de fruta
- Hexapeptídeos
- Isoflavonas
- DMAE
- Antioxidantes (como o resveratrol,
ácido alfalipóico e as vitaminas C e E)
- Q10

Texto: Rita Caetano com António Picoto (dermatologista), C. William Hanke (dermatologista), Leonard Marini (dermatologista), Manuela Cochito (dermatologista), Maurice Adatto (dermatologista) e Riccarda Serri (dermatologista)