Visitar umas cascatas enquanto se exibem umas próteses mamárias recém-implantadas ou aprender a dançar o tango durante o pós-operatório de um lifting são as propostas dos operadores turísticos especializados nesta modalidade. Mas, será realmente mais barato fazer uma operação no estrangeiro? E, acima de tudo, será seguro? Para saber o que dizem os especialistas em relação a este assunto, clique aqui. Anonimato e poupança económica. Estes são os principais motivos que explicam o afluxo que se tem verificado a este tipo de férias alternativas, nos últimos tempos.

O chamado turismo estético ou de bisturi. A este fator soma-se a atraente proposta turística e a facilidade, tanto de contratação como de financiamento. A proliferação de propostas deste género dá uma ideia do quão esta opção é apreciada pela população, apesar de não existirem valores fiáveis no que concerne ao número de pessoas que se operam no estrangeiro. Isto acontece porque há muita gente que o faz e não o diz, e pelo facto das estatísticas dos países de destino, geralmente em desenvolvimento, não serem fiáveis.

O pacote tipo

A oferta varia consoante o tipo de recauchutagem que a pessoa pretende fazer. Para conhecer as modalidades mais procuradas, clique aqui. No preço total das diferentes intervenções, costumam estar incluídos os seguintes aspetos:

- Estadia em hotéis de primeira categoria (normalmente sete dias, dependendo do tipo de intervenção)

- Exames médicos necessários (avaliação cardíaca, mamografia, ecografia e outras avaliações necessárias)

- Honorários médicos

- Sala de operações

- Anestesia

- Materiais necessários (próteses e implantes, por exemplo)

- Consultas e controlo pré e pós-cirurgia

- Assistente para as consultas médicas e para o dia da cirurgia

- Deslocações de e para o aeroporto, para as consultas médicas e para a cirurgia

Os trâmites, passo a passo

Stephanie João, da Clínica Montplaisir, na Tunísia, explica como tudo se processa:

- O cliente entra em contacto com a clínica escolhida, normalmente através de internet (onde poderá encontrar toda a informação sobre a intervenção, os custos, a clínica e a localização, entre outros).

- Será pedido ao cliente que envie fotografias da área que deseja modificar, para análise do cirurgião, que enviará a sua resposta em relação ao pedido efetuado. O cirurgião diz se é possível ou não efetuar a operação. Caso seja, envia informações detalhadas sobre o modo como irá proceder, bem como o seu currículo para análise do cliente.

- Os custos da intervenção, com tudo o que inclui, são também enviados nesta fase. A partir deste momento, o cliente estará sempre em contacto com o seu cirurgião, podendo esclarecer qualquer dúvida que tenha.

- Uma vez informado e com a decisão tomada, será pedido que preencha outro formulário mais detalhado e que sejam feitos determinados exames médicos. Esses exames devem ser enviados para o cirurgião, que só assim poderá saber se o cliente está ou não em boas condições para efectuar a cirurgia. Se tudo estiver em condições, é marcado o dia da intervenção.

Veja na página seguinte: O que deve fazer depois de adquirir os bilhetes para a viagem

O que deve fazer depois de adquirir os bilhetes para a viagem

O cliente deve, depois de adquirir os bilhetes da viagem, enviar uma cópia dos mesmos para a clínica, sendo-lhe enviado um plano detalhado da sua estadia. Ao chegar ao destino, o cliente tem um profissional da clínica à sua espera, disponível para tudo o que precisar. É feita uma consulta pré-operatória, com o cirurgião, em que o cliente pode explicar o que pretende, esclarecer dúvidas... No dia seguinte, a intervenção é levada a cabo.

Após a intervenção, o cliente fica mais um dia na clínica e, de seguida, se tiver autorização do cirurgião, é instalado num hotel, normalmente próximo da clínica, sempre seguido pelo pessoal médico, que fica encarregue de o levar e trazer às consultas pós-operatórias. Uma vez no hotel, o cliente pode aproveitar para passear, descansar, fazer passeios, sempre de acordo com o que o cirurgião lhe aconselhar. Após regresso a casa, fica em contacto com a clínica e com o cirurgião, podendo contactá-los sempre que necessitar.

A relação cirurgião/paciente

Outra questão levantada por Seixas Martins prende-se com a relação entre o cirurgião e o paciente (ou a falta dela). «A relação cirurgião-paciente baseia-se, fundamentalmente, na confiança recíproca», sublinha. «O paciente confia no cirurgião para realizar a cirurgia, de acordo com as melhores técnicas, para atingir os objetivos previamente definidos, mesmo sabendo que na cirurgia, como na vida, não há resultados garantidos», acrescenta ainda. E sabe também que o cirurgião estará presente para o melhor e o pior.

Porque, de acordo com Seixa Martins, «ser cirurgião não é só saber operar, é necessário saber resolver as complicações resultantes dessa cirurgia. E as complicações e resultados menos satisfatórios nem sempre se revelam de imediato, no prazo de poucos dias». Para o cirurgião plástico, «a essência da medicina e da cirurgia está assente em dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, no cirurgião e, em segundo, na relação médico-doente (neste caso, cirurgião-paciente).

O cirurgião, o executor da cirurgia, é o elemento fundamental e pode executar a tarefa de forma correcta, independentemente do local e da origem do paciente. Mas, nesta forma específica de turismo cirúrgico, os pacientes comunicam com o cirurgião por correio, electrónico ou não, e a planificação da cirurgia e o diagnóstico, baseados na observação e selecção do paciente, correm sérios riscos.

A cirurgia não é uma linha de montagem, em que se aplica a mesma fórmula a todos os pacientes. Existem especificidades psíquicas e físicas que, por vezes, requerem várias consultas prévias para serem devidamente esclarecidas. E não se julgue que a complexidade física e psicológica das pessoas que recorrem à cirurgia estética é menor do que noutras cirurgias».

Veja na página seguinte: A opinião dos especialistas

A opinião dos especialistas

Perante a proliferação de ofertas de turismo estético, os especialistas alertam-nos para os riscos que acarreta e elaboraram recomendações específicas:

- As operações implicam reunir uma equipa profissional preparada e materiais aprovados pelas autoridades sanitárias.

- Nem sempre é possível confirmar estes aspectos antes de iniciar uma viagem deste tipo. Os custos deste tipo de turismo são demasiado baratos. Não correspondem aos preços do mercado. Por exemplo, os implantes mamários autorizados nos Estados Unidos da América ou na Europa têm um custo mínimo de 900 euros. Na cirurgia é necessário pagar, para além disso, os gastos da sala de operações e estadia.

- A promoção nos preços está, portanto, associada a uma redução da segurança do paciente. Na opinião de Joaquim Seixas Martins, «a questão do turismo cirúrgico coloca-se em todas as especialidades cirúrgicas e não somente na cirurgia plástica, sendo que, neste caso, todos temos consciência de que não é possível ter, simultaneamente, a mais alta qualidade e o preço mais baixo».

Texto: Madalena Alçada Baptista

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