A queda de 50 a 100 fios de cabelo é normal e tem a ver com o desprendimento esperado dos cabelos após dois a cinco anos de vida.

No entanto, quando o número de cabelos perdidos diariamente é superior pode ocorrer a diminuição parcial ou total dos cabelos, uma situação que afeta a imagem (especialmente na mulher) e que constitui um problema designado medicamente por alopecia.

Os champôs e ampolas antiqueda são a solução mais conhecida pela consumidora comum, mas que tratamentos são realizados nos consultórios de dermatologia? Falámos com Paula Quirino, especialista em patologia do cabelo, que nos indicou os tratamentos mais eficazes na mulher.


Como prevenir a queda

- Siga uma alimentação equilibrada
- Controle o peso
- Tenha bons hábitos de sono
- Pratique exercício físico
- Evite o stresse


Tipos de queda

- Alopecia cicatricial

Decorre da inflamação grave do folículo piloso (infeção, trauma, tumor, dermatose inflamatória como lúpus eritematoso), levando à sua destruição definitiva.

- Alopecia difusa (deflúvio telogénico)

Perda de cabelo progressiva, que provoca grande escassez de cabelos e cuja causa é identificável (pós-parto, queda de cabelo sazonal, stresse, menopausa ou toma de medicamentos, como anticoagulantes e medicamentos psiquiátricos). A maioria dos casos é autoresolutiva.

- Alopecia androgenética

Afeta cerca de 70 por cento da população masculina e 40 por cento da feminina. No homem surge uma retração na linha de implantação frontal do cabelo (as entradas) e uma rarefação no vértice do couro cabeludo. Na mulher, a rarefação tende a ser mais difusa, preservando sempre a linha frontal. O tratamento deve ser médico e para o resto da vida.

- Alopecia areata

Queda repentina dos pelos nas áreas afetadas (peladas) sem alteração da superfície cutânea. Entre as causas está uma predisposição genética estimulada por fatores desencadeantes, como o stresse emocional.

Tratamentos

- Tratamento tópico (Minoxidil)

Medicamento de
prescrição médica (não comparticipado) de aplicação tópica, isto é, de
uso externo, aplicado no local da queda.

Vende-se em farmácias sob
vários nomes comerciais. «Sendo um vasodilatador, o minoxidil a 2% ou 5%
aumenta o aporte sanguíneo à raiz do cabelo, retardando a entrada
precoce do cabelo em repouso», explica Paula Quirino, dermatologista.

«A
aplicação deve ser feita com o couro cabeludo seco, na zona afetada e
não ultrapassando 1 ml em cada aplicação», recomenda. Por uma questão prática, recomenda-se a aplicação na véspera da
lavagem do cabelo.Já como manutenção deve ser utilizado, no mínimo,
duas vezes por semana. Tenha atenção pois existem pessoas alérgicas ao
minoxidil e/ou ao excipiente que não podem utilizar o produto.

O preço
deste tratamento varia entre os 15 e os 50 € (60 ml). Quando à
eficácia, este provoca alguma queda inicial, mas os resultados surgem
logo de seguida, um mês e meio a dois meses depois. É eficaz em cerca de
80 a 90 por cento dos casos. Está, por isso, indicado para todos os
tipos de alopecia.

- Tratamento hormonal (Antiandrogéneos)

Existem pílulas contracetivas que beneficiam a pele e o cabelo por
terem na sua composição «estrogéneos associados a antiandrogéneos, como o
acetato de ciproterona e a drospirenona», refere a especialista. Estas
pílulas têm uma ação anti-androgénica. «Bloqueiam o recetor da
testosterona na raiz do cabelo», explica Paula Quirino. Existem
medicamentos com a mesma ação, «contendo espironolactona, acetato de
ciproterona ou flutamida, progressivamente mais potentes, que se
associam às pílulas contracetivas ou isoladamente após a menopausa»,
acrescenta.

Os tempos de tratamento variam de acordo com as situações, mas não
devem ser inferiores a dois anos. Os riscos e contraindicações são
«inerentes a estes fármacos e devem ser avaliados pelo médico, de acordo
com a história clínica do paciente». O preço varia entre 8 a 10 €
por mês, em média, na maioria das pílulas (não comparticipadas). «Os
benefícios são notórios ao fim de quatro a seis meses», refere Paula
Quirino. Esta alternativa está indicada para tratamento da alopecia
androgenética.

- Tratamento cirúrgico (Transplante capilar)

Consiste em «transplantar cabelos de uma área dadora (habitualmente
a zona occipital,  junto ao pescoço) para a área recetora (zona
frontal)», explica Paula Quirino. Este permite preencher com cabelos a
zona afetada pela queda mas não exclui «a necessidade de manter a
medicação sistémica e/ ou tópica, no caso de uma alopecia androgenética,
para preservar a qualidade dos cabelos». O procedimento «demora várias
horas e tem um tempo mínimo de baixa
pós-operatória de uma semana», acrescenta.

Esta alternativa está contraindicada em caso de doença
inflamatória. «Existe o risco de infeção ou do enxerto não pegar, mas
esta situação é rara», refere a dermatologista. O preço varia entre cinco e
20 mil euros, consoante o número de cabelos transplantados. Os
resultados são «excelentes quando o transplante é efetuado por
profissionais com muita experiência na técnica, habitualmente um
dermatologista ou cirurgião plástico». Está indicado para todos os tipos
de alopecia, especialmente a androgenética.

Ciclo de vida do cabelo

Fase de crescimento
O cabelo cresce cerca de 1 cm por mês, durante um período médio de dois a cinco anos.

Fase de regressão
O cabelo para de crescer e o folículo piloso retrai-se em direção à superfície. Dura duas a três semanas.

Fase de repouso
O cabelo liberta-se do folículo. Dura entre duas a seis semanas.

Fase de queda
O fio cai e o folículo fica inoperante
durante dois a quatro meses. Durante este tempo, o folículo regenera-se e
volta à posição inicial onde um novo fio irá nascer dando início à fase
de crescimento.


Novas esperanças para cabelos mais saudáveis

Pestanas e sobrancelhas

O bimatoprost (princípio ativo de prescrição médica, à venda em
farmácia sob a forma de colírio) é um novo tratamento para o crescimento
das pestanas e parece mostrar resultados promissores no tratamento das
peladas das sobrancelhas. Já existe em Portugal, mas só deve ser usado
sob orientação médica.

Crescimento do cabelo

O latanoprost está a ser
investigado pelo seu potencial para promover o crescimento do cabelo do
couro cabeludo. Apesar dos estudos serem muito preliminares parece
aumentar significativamente a densidade capilar. Os custos e os
potenciais efeitos secundários são os grandes problemas desta solução.

Contrariar a genética

Existem duas novas abordagens
em estudo para travar a alopecia androgenética: a injeção direta de
células de cultura ou a utilização de fatores de crescimento celular
(obtidos de plasma rico em plaquetas) como promotores do crescimento do
cabelo.

Verdade ou mito?

Quanto mais lavo o cabelo mais ele cai.

O cabelo cai
com a lavagem, mas o seu crescimento já parou há três ou quatro meses.

Se, numa altura de queda mais intensa, a lavagem for menos frequente, em
cada uma irão cair mais cabelos, 200 a 300.

Deixar o cabelo molhado aprodrece a raiz.

Não é
verdade. A pele impermeável, existe uma barreira dermoepidérmica muito
resistente à penetração de qualquer substância, nomeadamente a água.

Cortar o cabelo fortalece-o.

Não, mas permite manter a haste capilar com um aspeto mais saudável
pois retira a parte distal (as pontas), habitualmente a mais
traumatizada com as manipulações diárias e cosméticas (lavagens,
brushings, colorações).

Texto: Sónia Ramalho com Paula Quirino (dermatologista)