Embarque numa viagem que a levará a terras exóticas, através de uma tecnologia de vanguarda na cosmética. Quando os laboratórios de cosmética de uma marca decidiram criar um novo creme regenerante antienvelhecimento, tinham um objetivo estabelecido pelo seu Centro de Pesquisa Cutânea: estimular cinco fatores vitais da pele através dos quais é possível agir globalmente sobre o envelhecimento.

E, para o fazer, havia dois caminhos possíveis: encontrar um conjunto de vários ativos (mas, em Biologia, o todo nem sempre é igual à soma de várias partes) ou descobrir um único ativo capaz de fazer tudo sozinho, o que é mais complicado.

Mas qual é o cientista que não adora um bom desafio? Com a colaboração de etnobotânicos, descobriu-se que existem umas moléculas, de seu nome policetonas, que conseguem lutar contra o declínio da pele em várias frentes ao mesmo tempo, e que se sabe existirem nas vaniláceas (baunilhas).

O senão é que estas plantas contêm outras substâncias que não interessam e que até podem ser nefastas. Por isso, desenvolveu-se um novo processo de purificação, o polifraccionamento, que permite isolar só o que interessa, e que, neste caso, corresponde a menos de 1% das moléculas que compõem a planta.

É a história deste processo inovador e do caminho desde a planta até ao creme que aqui lhe desvendamos.

A Baunilha

Pequena vagem, uma especiaria usada como aromatizante, obtida de orquídeas do género Vanilla, nativas do México. Originalmente cultivada pelos povos mesoamericanos pré-colombianos, parece ter sido levada para a Europa juntamente com o chocolate, na década de 1520.

Tentativas de cultivo da planta da baunilha fora do México e da América Central mostraram-se infrutíferas devido à relação simbiótica entre a trepadeira tlilxochitl e a espécie local de Melipona; apenas em 1837 o botânico belga Charles Morren descobriu esta relação e desenvolveu um método artificial para polinizar a planta, que se revelou, contudo, economicamente inviável, não tendo sido aplicado para fins comerciais.

Em 1841, um escravo com 12 anos de idade, ao serviço de franceses, de nome Edmond Albius, que vivia na ilha Bourbon, descobriu que a planta podia ser polinizada à mão, o que viria a permitir o seu cultivo à escala global.

A baunilha é uma das especiarias mais caras do mundo, devido à quantidade de trabalho necessária para a sua produção. Mas, apesar do custo, é muito apreciada pelo seu sabor, sendo usada para fins domésticos e industriais em alimentos, perfumaria, aromaterapia e cosmetologia.

A viagem até à substância ativa

Entre as 117 variedades de baunilha que crescem no mundo, os cientistas elegeram a vanilla planifolia, nativa de Madagáscar, como fonte ideal dos ativos usados em cremes.

Para assegurar o seu fornecimento, foi estabelecida no Nordeste da ilha uma plantação desta baunilha, regida pelos princípios da agricultura biológica e do comércio justo. "A cultura é biológica por respeito à população local", explica Xavier Ormancey, diretor do Centro de Pesquisa Cosmética responsável por este projeto.

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"Não queremos chegar lá, retirar o que nos interessa e poluir tudo em redor." A colheita Dura três semanas e é feita de manhã, para que o primeiro extrato da planta possa ser feito logo nesse dia. As características da plantação e do processo de extração dos ativos condicionam o volume de produção do creme, que não pode ser feito em larga escala.

Por isso, o número de potes produzidos por ano está mais próximo da exclusividade da alta-costura do que da acessibilidade do pronto a vestir. A cultura da planta Exige uma dedicação e uma precisão dignas da alta-costura e, por isso, as mãos das mulheres que colhem as vagens têm de ter uma agilidade sábia.

As plantas levam três anos a crescer e as suas flores têm de ser polinizadas à mão, uma a uma. Durante os sete meses seguintes, vão nascer e crescer os frutos: tenras vagens verdes recheadas de um suco rico em preciosas policetonas (os ativos usados no creme).

A colheita das vagens é feita quando estas têm precisamente 14cm, quando as policetonas atingem a máxima qualidade e quantidade. A purificação As vagens colhidas são cortadas e é feito localmente um primeiro suco que é enviado para os laboratórios no Sul de França, onde passará pelas restantes fases da purificação.

São necessários 105 quilos de vagens para produzir 1 quilo do extrato planifolia PFA, altamente concentrado em policetonas, que constitui o ativo principal do creme. "Teria sido mais fácil, mais simples e mais barato fazer as policetonas por via química, diz Xavier Ormancey, mas a mesma molécula, consoante é de origem natural ou sintética, nunca é igual. A natural foi feita por uma 'fábrica' natural, que é a planta, e todos os seus átomos vêm diretamente da Natureza.

Ora, nós somos um sistema vivo e há sempre maior afinidade do natural com o natural. Por isso, preferimos tomar a Natureza na sua integridade, selecionando apenas a parte que nos interessa, do que ir pela via sintética."

Indiana Jones de laboratório

O diretor de laboratório Xavier Ormancey não é um diretor de laboratório convencional. Verdadeiro Indiana Jones da cosmética, o cientista passa vários meses a correr mundo à procura de ativos úteis para nos ajudar a manter uma pele jovem.

"Quando precisamos de uma molécula para agir num dado mecanismo da pele, e ela não existe, vamos procurá-la, seguindo as pistas dadas pelos botânicos para encontrarmos as plantas onde essas moléculas podem estar." Foi assim que ele descobriu as policetonas para um novo creme... numa discreta baunilha de Madagáscar.

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Polifraccionamento

O processo é comparável ao da alta joalharia. Depois de isolado, o ativo bruto identificado na Vanilla Planifolia passa por 12 fases de fracionamento. Isto é, 12 sequências de trabalho repetido, de cinzelagem ínfima, cujo objetivo é obter a quinta-essência do ativo Planifolia PFA.

Permite manter a quinta-essência da planta, purificada e poderosa. Imagine que tem uma caixa com bolinhas de várias cores. A si interessam-lhe apenas as amarelas e, das outras, apenas as suficientes para que as amarelas façam bem o seu trabalho.

Num processo de purificação tradicional, é praticamente impossível eliminar de forma seletiva o que não se quer. Mas com o polifraccionamento é possível isolar apenas e só o que interessa da planta. O extrato polifraccionado é mil vezes mais potente do que o tradicional, e contém 42 vezes mais policetonas.

E, como explica o diretor do laboratório, "é um processo inteiramente natural, físico e não químico. Não usamos solventes, não há bioquímica, não há transformação". Apenas seleção: como uma mão que apenas tirasse da caixa as bolinhas que não interessam. E isso, acredite, é uma grande inovação.

Constituintes químicos

A baunilha contém na sua composição os ácidos acéticos, ácidos vanilil etílico, açúcares, álcool etílico, ceras, cinamato, eugenol, fermentos, furfurol, gorduras, mucilagens, resinas, taninos e a vanilina (PLANTAMED, 2006). É do interior da fava da baunilha que saem os minúsculos grãos que exalam um cheiro perfumado, doce e delicado da baunilha autêntica.

A substância química que dá o aroma da baunilha é a vanilina, que está presente nas essências em torno de 1,5% (TODAFRUTA, 2006). A vanilina (4-hidroxi3-metoxibenzaldeido) é um dos compostos aromáticos mais apreciados no mundo e um importante aromatizante para alimentos, bebidas e ainda utilizado em produtos farmacêuticos.

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Possui vários efeitos como a prevenção de doenças, antimutagénico, antioxidante, conservante e antimicrobiano. Na cosmética, as policetonas, têm um efeito preventivo do envelhecimento.

Ativos contra o envelhecimento

Uma vez integrado no creme, o extrato de baunilha consegue agir seletivamente sobre vários fatores vitais da pele, trabalhando ao mesmo tempo a nível das rugas, da firmeza e da densidade, da hidratação, da textura, da uniformidade e da luminosidade.

É certo que esta capacidade de múltipla ação já se encontrava nas policetonas, mas é o processo de purificação que a preserva e concentra. A afinidade do extrato com a pele é extraordinária, aliada à textura especial do creme: rica e luxuosa como caxemira.

Indicado para a pele seca que começa a precisar de uma ajuda extra para manter ou recuperar um aspeto jovem. Um regenerante global que luta contra todos os sinais de idade de uma só vez.

Baunilha na medicina

Uma das propriedades mais conhecidas da baunilha é a sua capacidade para prevenir cancro. A vanilina é um dos ingredientes ativos da baunilha, e já comprovou ter numerosas propriedades contra o cancro. Além de prevenir a mutação das células que origina o cancro, diminui o crescimento delas.

Além disso, a baunilha ajuda a prevenir o aparecimento de Alzheimer no cérebro. As células do nosso órgão superior conseguem com o consumo da baunilha aproveitar as suas propriedades antioxidantes, as quais protegem as células impedindo o desenvolvimento da doença.

A baunilha tem sido usada no passado para tratar uma ampla variedade de condições, incluindo lesões estomacais e problemas de insónia. O seu óleo essencial também contém propriedades para tratar a ansiedade e a depressão. Boca: A baunilha é a única orquídea que possui interesse comercial fora do contexto ornamental.

 

Agradecimentos: Sublimage, Creme Régenérante Fundamentale, Précision - Chanel

*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.*