Acabou de tomar uma das mais importantes decisões da sua vida, ter um filho!

Talvez por já ter passado a barreira dos 35 anos pode achar que não tem tempo a perder.

No entanto, para que tudo corra conforme desejado, é importante tomar algumas medidas antes mesmo de tentar engravidar. Para a ajudar, Alexandre Lourenço e João Luís Silva Carvalho, ginecologistas/ obstetras, dão-lhe a conhecer os principais cuidados pré-concecionais, como tirar o máximo partido do período fértil e o que pode esperar desta fase da vida. Vítor Cotovio, psiquiatra e psicoterapeuta, fala sobre as mudanças que ocorrem na vida sexual quando o casal decide ter um filho.

O primeiro passo

Independentemente da idade, se decidiu engravidar, marque uma consulta pré-concecional com o seu ginecologista. «Nessa consulta é pedido um nível de exames basal que inclui uma citologia (exame Papanicolau), se não fez nenhuma há menos de um ano, algumas análises de rastreio, nomeadamente ao VIH-Sida, hepatite, toxoplasmose, e, eventualmente, uma ecografia», explica Alexandre Lourenço.

O homem não está incluído nestes exames, mas pode, e deve, acompanhá-la. «A conceção é um momento importante e o seu filho deve nascer no melhor ambiente possível», conclui.

O peso da dieta

A fertilidade humana tem vindo a diminuir por virtude de fatores ambientais, entre eles a alimentação, «porque o gado, os frangos que nós comemos são alimentados com hormonas e antibióticos», explica João Luís Silva Carvalho. No entanto, a nível individual não há nenhum estudo que prove a inf luência da alimentação e, portanto, aquilo que se recomenda é que siga «uma alimentação cuidada e variada, rica em vitaminas, com muitos vegetais», aconselha Alexandre Lourenço.

Também deve aproximar-se o máximo possível do seu peso ideal. «As mulheres muito magras e as mulheres muito obesas têm mais dificuldade em engravidar», explica Alexandre Lourenço.

Medicamentos

Se está a fazer algum tipo de tratamento informe o seu médico. «Alguns medicamentos utilizados em doenças, como a depressão, podem inibir a ovulação e interferir na fertilidade.

O mesmo acontece em caso de disfunção da tiroide, pelo que esta deve estar muito bem equilibrada. Existem também medicamentos, nomeadamente para tratar a acne, que podem provocar mal-formações fetais e que têm de ser substituídos alguns meses antes de engravidar», alerta.

«O tratamento com radiações ou quimioterapia, em alguns tipos de cancro, diminuem a fertilidade, podem tornar a mulher infértil e, quando realizado próximo da conceção, pode causar problemas no embrião», exemplifica Alexandre Lourenço.

Hábitos de vida

Evite o exercício físico exagerado e elimine o consumo de álcool e tabaco dois meses antes de engravidar. Estes podem provocar complicações na gravidez e diminuem a fertilidade, tanto na mulher como no homem. «Mais de cinco cigarros por dia diminuem a fertilidade do homem e afetam o desenvolvimento fetal, nomeadamente em termos de peso», explica Alexandre Lourenço.

O álcool tem também efeitos no homem quando em excesso. «Os doentes alcoólicos têm muitas vezes menos espermatozoides», conclui.

O impacto do stress

A pressão vivida no quotidiano e provocada pelo receio de não engravidar afetam a fertilidade do casal, conforme explica Alexandre Lourenço.

«As situações de tensão que provocam uma grande libertação de catecolaminas, como a adrenalina, devem ser evitadas, pois interferem com a produção das hormonas implicadas na ovulação e afetam a fertilidade. Em casais ansiosos é frequente a gravidez surgir precisamente após um período de férias, em que o casal está mais descontraído e tem uma predisposição diferente para ter relações sexuais».

Período fértil

Embora não seja possível aumentar a fertilidade da mulher é possível tirar o máximo partido da probabilidade de engravidar em cada mês, se estiver atenta ao seu período fértil.

«Se os ciclos menstruais são regulares, deve ter em atenção, no sentido de nas épocas de maior fertilidade do ciclo não as deixar passar em claro», recomenda João Luís Silva Carvalho.

Contudo, não deve condicionar a atividade sexual a esse período. «Deve ter uma atividade sexual regular, porque as contas nem sempre são bem feitas», conclui o especialista.

Vida sexual

Vítor Cotovio, psicoterapeuta, alerta ainda para «o facto de ter de haver uma maior objetividade ligada a determinadas alturas do mês não deve pôr em causa o lado mais afetivo, espontâneo e erotizado da relação, sob pena de estragar a qualidade relacional». Por outro lado, não é por ter relações sexuais todos os dias, que irá engravidar mais facilmente.

«Os espermatozoides vão diminuindo e pode chegar à altura da ovulação com um número de espermatozoides rápidos menor do que aquilo que seria ótimo», explica Alexandre Lourenço.

Ciclos irregulares

Se os seus ciclos não são regulares, consulte o médico. «Uma mulher que menstrua de dois em dois meses, provavelmente, em vez de 12 ovulações num ano tem apenas seis e, portanto, tem menos hipóteses de engravidar e poderá ter de fazer estimulantes de ovulação», explica Alexandre Lourenço.

«Se está a tomar a pílula interrompa a toma dois meses antes para ter dois ciclos menstruais normais. Se, antes de tomar a pílula, os ciclos já eram muito irregulares é possível que continuem a ser. Neste caso, vale a pena interromper a toma três ou quatro meses antes para se perceber isso», acrescenta ainda.

Gerir as expectativas

Para evitar falsas expectativas é importante ter noção que, mesmo sem contraceção, a probabilidade de um casal perfeitamente saudável engravidar, no primeiro mês, é relativamente baixa. «A fecundabilidade, isto é, a probabilidade de uma mulher engravidar a cada mês é de cerca de 20 a 25 por cento, até aos 33/35 anos. A partir daí começa a diminuir progressivamente de tal maneira que, aos 37/38 anos, a probabilidade é de cerca de 12 por cento por mês», refere João Luís Silva Carvalho.

A barreira dos 35

Convém, no entanto, desdramatizar o fator idade. «Convencionamos os 35 anos porque há vários estudos que mostram que é mais difícil engravidar aos 35 do que aos 25 anos, mas também é mais difícil aos 37 do que aos 35», desmitifica Alexandre Lourenço.

Quanto às complicações da gravidez, existe uma idade a partir da qual os especialistas estabelecem uma viragem. «O aparecimento de anomalias nos cromossomas do feto são mais comuns após os 35 anos, por isso se recomenda a amniocentese a partir dessa idade».

Procurar ajuda

Após um ano de tentativas de conceção sem obter uma gravidez, o casal é considerado infértil e inicia o primeiro patamar de exames de diagnóstico. No entanto, «se tem 35 anos deve procurar ajuda médica logo após seis meses de tentativas sem engravidar, especialmente porque os centros hospitalares públicos encerram as listas para os tratamentos de infertilidade aos 37 anos», refere Alexandre Lourenço.

No caso de uma mulher «em que lhe tenha sido retirada uma trompa ou que tenha ciclos menstruais irregulares, ou de um homem, que tenha tido um traumatismo no testículo ou cuja profissão ponha em risco a fertilidade, é aconselhável antecipar alguns exames para prevenir o problema», esclarece.

Texto: Vanda Oliveira com Alexandre Lourenço e João Luís Silva Carvalho (ginecologistas/obstetras) e Vítor Cotovio (psiquiatra e psicoterapeuta)