Para além dos técnicos, o Programa de Preparação das Crianças para a Adoção (PPCA), criado por Margarida Rangel Henriques, investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), tem como objetivo ajudar as crianças e os pais adotivos, na transição entre a família de origem e a família de adoção.

Este programa, constituído por dez etapas e definido pela coordenadora como uma "bússola orientadora", engloba um conjunto de recursos e técnicas de intervenção, úteis para auxiliar a criança na compreensão do sistema de promoção e proteção, na integração da sua história de vida, na perda de contactos com os elementos da família biológica e na adaptação à nova família.

Além disso, ajuda o "processo de luto da família que fica para trás, que, sem ser esquecida", não deve "bloquear a disponibilidade emocional à construção do presente e do futuro da criança", explicou.

De acordo com a investigadora, até ao momento foram dadas formações a 180 técnicos a nível nacional, trabalho que se prevê continuar.

Estas formações destinam-se igualmente a outros profissionais que trabalham em diferentes fases do processo de adoção, como é o caso dos psicólogos.

Para Margarida Rangel Henriques, o diálogo é fundamental durante o processo adotivo, sendo importante que as famílias adotem não só a criança, mas tudo aquilo que estas trazem consigo, incluindo memórias e dúvidas.

Na opinião da coordenadora, a maior parte das famílias adotivas pouco dialoga sobre as questões da adoção e o passado da criança.

"Basta um pequeno exercício reflexivo para imaginar o quão perturbador poderá ser o processo de mudança destas crianças para uma nova família, por muito que desejada", devido às "experiências traumáticas e enredos emocionais intensos" que experienciaram durante a separação com a sua família de origem, indicou.

O PPCA "é um caminho feito de muitos passos, pequenos, mas que se pretendem seguros", que permite ao técnico ajudar a criança a ajustar as suas expectativas e dominar os seus medos, facilitando a adaptação e a construção de vínculos com a nova família, reforçou Margarida Rangel Henriques.

Este projeto integra ainda um "Livro de Vida", que a criança vai construindo com o técnico e que, para a investigadora, pode ser encarado como "uma primeira porta de entrada para a nova família conhecer o passado da criança, através dos olhos da criança".

As raízes deste projeto remontam a 1998, altura em que Margarida Rangel Henriques iniciou um conjunto de abordagens clínicas, em parecia com o serviço de adoções do centro distrital da Segurança Social do Porto.

Participam igualmente neste projeto as investigadoras da FPCEUP Margarida Domingues, Sara Silva e Diana Neves Teixeira.