Segundo Teresa Almeida Santos, este documento é o primeiro elaborado em parceria com a Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) e visa aumentar a informação dos doentes que se deparam com o cancro sobre as possibilidades da sua fertilidade ser preservada.

Isto porque alguns tratamentos contra o cancro podem pôr em causa a fertilidade dos doentes. Por esta razão, a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR) defende que os doentes sejam informados sobre a possibilidade do seu material genético ser preservado, antes das terapias.

No caso dos homens, o esperma é preservado há vários anos, mas as mulheres só há pouco tempo é que optaram por esta possibilidade, nomeadamente no Centro de Preservação da Fertilidade, instalado no Serviço de Medicina da Reprodução do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

Mais de 450 pessoas abrangidas em 5 anos

Teresa Almeida Santos, que dirige este serviço, revelou à Lusa que, desde 2010, este centro preservou a fertilidade de cerca de 150 mulheres e que mais de 300 homens tomaram esta opção.

A especialista em medicina da reprodução disse acreditar que, após a publicação destas orientações, deverá crescer o número de doentes referenciados para a preservação da fertilidade, pois em muitos casos esta é uma possibilidade que não é transmitida a quem se depara com a doença.

Estas orientações resumem todas as recomendações para os vários tipos de cancro.

Segundo Teresa Almeida Santos, até agora os oncologistas decidiam por livre arbítrio [se informavam ou não os doentes para a possibilidade de preservar a sua fertilidade] e muitos deles “não estavam despertos ou não sabiam para onde o como referenciar estas pessoas”.

“A resposta existe e não há desculpa para não ser feito”, disse, acrescentando que “praticamente todos os centros de Procriação Medicamente Assistida (PMA) públicos e privados são capazes de dar resposta à congelação de ovócitos e de esperma.

As orientações serão apresentadas nas Jornadas da SPMR, que decorrem sexta-feira e sábado, em Guimarães.

Para a SPMR, a criação destas orientações prende-se sobretudo com o aumento da incidência do cancro em idade reprodutiva – 10% dos casos antes dos 40 anos – e com o facto de as alterações da fertilidade serem um potencial efeito adverso da doença oncológica e de algumas das suas terapêuticas.

“Esta nova realidade implica que os médicos, em particular os oncologistas, foquem a sua atenção em aspetos relacionados com a qualidade de vida dos doentes, nos quais se inclui a fertilidade futura”, prossegue esta organização científica.