A gravidez e o puerpério constituem uma oportunidade para efetuar o rastreio da neoplasia do colo do útero, nas mulheres que não realizam o exame habitualmente, de acordo com o Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Oncológicas.

O colo do útero é revestido por células epiteliais, que se renovam ciclicamente, dando origem a novas células que garantem a protecção do tecido. A este processo chamamos regeneração celular.
Ao perder este mecanismo de controlo e ao sofrer alterações no seu ADN por ciclos repetidos de regeneração em resposta, por exemplo a infecções repetidas e persistentes, tornam-se células cancerígenas. As células cancerígenas do colo do útero podem invadir os tecidos e metastizar a outras partes do organismo.

O diagnóstico precoce torna-se crucial e consiste na identificação das mulheres que têm lesões pré-cancerígenas. É fundamental detetar as alterações cervicais antes da manifestação de sintomas. A identificação e o tratamento das lesões pré-malignas pode prevenir a maioria dos casos de cancro do colo do útero e detetar carcinomas num estádio inicial em que o tratamento tem maior probabilidade de ser eficaz.

O rastreio é realizado através do teste de Papanicolau, também designado por Citologia Cervical. Consiste num procedimento simples e não doloroso e é realizado durante o exame pélvico. É recolhida uma amostra de células do colo do útero, através do esfregaço do colo do útero, sendo posteriormente colocada numa lâmina de vidro. No Laboratório de Anatomia Patológica, as células são analisadas ao microscópio para pesquisa de anomalias das suas características habituais.

O carcinoma do colo do útero é uma doença associada à infeção por HPV, vírus do Papiloma Humano. A tipagem do HPV, deteta a presença da infeção por 14 tipos de HPV de alto risco, através de uma amostra colhida da mesma forma que a Citologia ou teste de Papanicolau. O resultado pode ser positivo ou negativo para HPV de alto risco, podendo identificar em simultâneo os tipos de HPV 16 e HPV 18. O rastreio do HPV permite ao médico assistente distinguir quais as pacientes em risco de desenvolver cancro do colo do útero e, como é o método de rastreio mais sensível, permite uma maior segurança na identificação das mulheres que não têm lesões pré-malignas.

O HPV durante a gestação não representa risco de malformação fetal, aborto espontâneo ou parto prematuro. Mesmo que a criança seja infetada com o vírus antes ou durante o parto, não significa que irá contrair a doença, pois a maioria dos bebés elimina o vírus num curto período de tempo. A complicação que pode surgir após o bebé ser infetado pelo vírus do HPV é a papilomatose da laringe, uma lesão grave que pode provocar morte por insuficiência respiratória.

Por Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica

Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica