A obesidade na infância deixou de ser encarada como uma mera questão de estética.

Longe vai o tempo em que as crianças eram quase invariavelmente magrinhas. Fruto de uma alimentação variada e de muita atividade física, há alguns ano era pouco frequente encontrar uma criança ou um adolescente obeso.

Quem não se recorda das tardes passadas no pátio da escola ou na rua onde morava, a correr livremente, a jogar à bola ou às escondidas. Hoje tudo mudou. A vida urbana impõe limites às brincadeiras e, em vez de jogarem à apanhada ou ao berlinde na rua, as crianças brincam em casa, sentam-se diante do computador ou passam as horas a ver televisão.

À mesa, o hambúrguer e as batatas fritas, acompanhados por um refrigerante, são o prato de eleição de quase todos e, nas mochilas da escola seguem muitas vezes chocolates e snacks de variadíssimas qualidades. O resultado está à vista. Mas está também nas suas mãos prevenir (ou mudar) esta situação.

Globesidade

Considerada por muitos uma epidemia à escala global, a obesidade é, de facto, a doença nutricional pediátrica com maior prevalência atualmente. Um fenómeno a que alguns especialistas já deram o nome de globesidade. Na realidade, a obesidade traduz-se num excesso de peso associada a um excesso de gordura corporal e, no caso das crianças e adolescentes, reflete normalmente fatores nutricionais e um estilo de vida inadequado.

Portugal tem uma das taxas de obesidade mais elevadas da União Europeia, nomeadamente ao nível infantil com o problema a afetar mais de 30 por cento das crianças dos sete aos 11 anos, segundo dados da International Obesity Task Force. Trata-se de um problema sério que poderá ter consequências na saúde futura da criança.

Assim, perante uma situação de excesso de peso é essencial consultar um médico. A criança deve ser acompanhada por especialistas através de consultas multi-disciplinares, que englobem o aconselhamento de pediatras, nutricionistas, psicólogos e especialistas em exercício físico.

Sinais de alerta

As consequências físicas do excesso de peso são múltiplas e podem manifestar-se a nível cardiovascular, respiratório, ortopédico e outros. Mas que sinais podem ajudá-la a detetar um eventual problema de peso no seu filho?

Tudo começa durante as visitas de rotina ao pediatra, que analisa e avalia o crescimento da criança. Nesta altura, é importante estar atenta à evolução do índice de massa corporal (IMC) do seu filho, ou seja, a razão entre o peso e o quadrado da altura. Uma vez detetados níveis elevados neste campo, é necessária atenção redobrada.

Segundo alguns especialistas, quando o IMC ultrapassa o percentil 75 a criança está em excesso de peso, o que constitui um sinal de alerta, passando o problema a ser classificado como obesidade a partir do percentil 95. Um outro sinal que pode despertar a sua atenção ocorrerá por volta dos cinco a seis anos.

Se, por esta altura, a criança começar a aumentar exageradamente de peso, fique atenta, já que por volta desta idade, o habitual seria adelgaçar.

 

Em caso de dúvida quanto à evolução de peso do seu filho, coloque a questão ao seu médico que poderá ajudá-la a avaliar o eventual problema.

Sinais de alerta

Os problemas de peso na infância são, muitas vezes, um indício de que a criança está a ingerir alimentos ricos em gorduras e calorias e a praticar uma atividade física diminuta. Cabe aos pais fomentar um estilo de vida equilibrado.

Na prática, é importante que a criança seja desde cedo ensinada a fazer escolhas alimentares saudáveis (menos fritos, mais legumes, fruta e laticínios e a não permanecer tantas horas diante da televisão ou do computador. A rotina deverá ser marcada por cinco refeições diárias e pelo consumo de legumes e frutas.

Para começar bem o dia, deverá ingerir um pequeno-almoço completo onde não pode faltar o leite, um pão (por exemplo com queijo), uma peça de fruta ou um sumo natural e, de vez em quando, um prato de cereais. Ao lanche, o pão, o leite ou os iogurtes devem ter o papel principal.

Prefira o pão fresco e de mistura, acompanhado por compota, marmelada ou queijo, em detrimento da manteiga. As refeições principais devem incluir sopa, uma boa forma de garantir a adequada ingestão de legumes. Mas isto não significa que o segundo prato, carne ou peixe, não inclua mais alguns legumes.

A água deve ser a bebida de eleição (em vez dos refrigerantes) e, à sobremesa ofereça uma peça de fruta. Se o seu filho preferir ingerir fruta entre as refeições, não se preocupe, desde que ele coma, pelo menos, duas peças por dia.

Boas apostas

Numa ida ao supermercado evite, sempre que possível, levar as crianças. Para além de se aborrecerem facilmente, os mais pequenos são muito mais sensíveis à publicidade e tentarão encher o carrinho de produtos que nem sequer constavam da sua lista de compras.

De seguida, identifique os alimentos indesejáveis, como os refrigerantes (ricos em açúcar e de baixo valor nutricional) que devem ser os primeiros a ser eliminados. Quanto à fast food, a regra é o bom senso. Se é verdade que, uma vez por outra, comer um hambúrguer não será de todo problemático, também é certo que por rotina, este alimento não traz benefícios.

A mesma regra deve aplicar-se aos bolos, bolachas, chocolates ou gomas coloridas. Verdadeiramente benéfico para o seu filho (e também para si) é o exercício físico. Por isso mesmo, contrarie o sedentarismo, desligue a televisão e desafie a família a sair de casa.

Vá passear com o seu filho no parque, andem juntos de bicicleta, ensine-o a brincar e a correr ao ar livre, jogue com ele à bola ou às escondidas. Mostre-lhe que um dia bem passado e recheado de ação pode ser mais divertido do que um jogo de computador.

Texto: Cláudia Marina