No filme «A vida é bela», um pai protege o filho das atrocidades da guerra levando-o a crer que tudo não passou de um jogo.

 

Nas devidas proporções, todos os pais gostariam de ser heróis como a personagem de Roberto Benigni e proteger os filhos do impacto negativo da crise económica.

 

Apesar de parecer difícil, há lições muito importantes a aprender em momentos de austeridade.

 

O argumento certo

 

Argumentar não pode ser difícil, em especial quando as crianças recorrem à birra para obter o que pretendem. Para a psicóloga infantil Alcina Rosa, «a atitude correta passa, precisamente, pela nossa capacidade de frustrar os pedidos dos mais pequenos». E, atenção, explicar demasiado é um erro. «Quando o adulto justifica muito é porque não quer dizer que não. E a criança aproveita para pedir mais. Deve utilizar um argumento que seja aceite e que a leve a desistir», explica.

 

Evitar alarmismos

 

Na opinião da psicóloga, os pais devem conversar com os filhos sobre a crise «de uma maneira realista, verdadeira e sem grandes alarmismos. Dizer-lhes o que se passa e não fazer disso um aspeto muito negativo. Apelar a uma forma de lidar com a situação que seja saudável». A tendência para o consumo infantil pode ser resultado de erros do passado. «As crianças pedem muita coisa porque nós damos muito. Se, em tempos de crise, dermos menos, as crianças também pedem menos», refere.

O lado positivo

 

A terapeuta acredita que «aprender a lidar com a crise vai permitir que os mais novos consigam estruturar-se em termos de personalidade de forma mais positiva e evitar que o mesmo lhes venha a acontecer quando forem adultos».

 

«Em termos pessoais, podem tornar-se mais resistentes e aprender a ter uma atitude mais realista», refere ainda a especialista.

 

«Podem também aprender a distinguir o que é importante do que é supérfluo e a lidar com a frustração. Isso é muito importante ao longo da vida», justifica.

 

O que muda com a idade?

 

- Até aos 5 anos

 

A criança ainda não compreende o que significa a crise, mas tem a noção de que não pode ter o que deseja, embora demore mais tempo a despedir-se emocionalmente da vontade de obter o objeto desejado. Nessa altura, a psicóloga infantil aconselha a «passar à frente». Desde muito cedo que se deve educar para a poupança. «Se for criada numa casa em que há cuidado com os gastos, ela vai formar-se dessa maneira», afirma.

 

- Dos 6 aos 11 anos


A criança começa a ter noção do dinheiro. «É uma boa altura para atribuir uma mesada», refere. Se o seu filho tiver tendência para esbanjar, Alcina Rosa aconselha que «dê uma moeda ao fim de semana. Gastou? Já não há mais». Para perceber o real valor das coisas, o melhor é colocar algum dinheiro no mealheiro, em vez de o depositar. «Se lhe mostrar o que teria de gastar para obter o que deseja» mais facilmente ele deixará de o querer fazer.


- Dos 12 aos 18 anos


«Se os pais disserem que o ordenado diminuiu, eles acabam por compreender», assegura. «Se virem que os pais compram menos coisas para eles, os filhos compreendem mais facilmente», diz ainda. Perante a tendência para se compararem com os amigos, «diga que é bom que os pais dos colegas ainda não tenham sofrido cortes no salário, mas não é seguro que não venham a ter. Que todos podemos ser amigos, independentemente do nível de vida de cada um».

Finanças na infância

 

Passe o testemunho da gestão inteligente do orçamento pessoal aos mais novos.

 

Estes são alguns dos conselhos que deve seguir:

 

1.  Não justifique um não com o argumento «não tenho dinheiro». Esclareça que não tem nível de vida para certos gastos e que, em tempos de crise, se justifica poupar.

 

2. Ensine-lhe que as retribuições que recebeu no aniversário, no Natal ou uma parte da semanada podem ser oportunidades para poupar.

 

3. De vez em quando dê-lhe uma moeda em troca de ajuda numa tarefa doméstica.

 

4. Antes de sair para as compras, prepare uma lista apenas com os bens de consumo da criança e fale com ela sobre isso.

 

5. Coloque à parte, no carrinho, aquilo que é do seu filho, desde bolachas a iogurtes, para que ele perceba que já tem muita coisa.

 

6. Se a criança fizer birras com frequência, evite levá-la muitas vezes ao supermercado ou permanecer muito tempo no local. Se acontecer, procure sair rapidamente para evitar situações constrangedoras.

 

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Alcina Rosa (psicóloga infantil)